O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro afirma que o presidente Jair Bolsonaro e o ex-mandatário Luiz Inácio Lula da Silva representam "dois extremos a se evitar" no Brasil, embora o ex-juiz tenha afirmado, em entrevista à AFP, que não pensa nas eleições de 2022.
Moro, de 47 anos, renunciou à magistratura em 2019, para se tornar ministro de Bolsonaro e dar continuidade à cruzada contra a corrupção iniciada com a Operação Lava Jato. Em abril, deixou o governo, acusando Bolsonaro de tentar interferir em investigações da Polícia Federal. Hoje, o presidente o chama de "traidor" e Lula, de "canalha".
Seguem abaixo os principais trechos da entrevista, realizada remotamente nesta segunda-feira:
P: Após as suas acusações contra Bolsonaro, o senhor se sente parcialmente responsável pela crise política no país?
R: Minha intenção não foi prejudicar o governo, foi, especialmente, esclarecer por que eu estava saindo (…) Após o início da pandemia, começou a haver uma certa crise de credibilidade do governo, na minha opinião, e uma tensão crescente com os outros poderes: o Supremo Tribunal Federal e o Congresso. Minha saída entra nesse contexto, mas é apenas uma parte, não me sinto responsável (pela crise).
P: O presidente quebrou a promessa de combater a corrupção?
R: "Quando eu estava no ministério, "conseguimos avançar principalmente no combate à criminalidade violenta e ao crime organizado, mas em relação à corrupção, não tanto. Um dos problemas, na minha opinião – e com todo o respeito - foi uma falta de apoio maior da parte do Palácio do Planalto."
P: O senhor acredita na postura recente de Bolsonaro, mais moderada?
R: Essa mudança de postura do presidente nas últimas semanas, reduzindo a hostilidade e adotando um discurso mais moderado, é boa para o país, isso favorece a estabilidade (...) Infelizmente, alguns pronunciamentos do presidente haviam criado uma tensão desnecessária, gerando, inclusive, uma imagem negativa do pais no exterior, isso é ruim. O Brasil sempre foi uma democracia confiável e, por outro lado, o povo brasileiro sempre foi tido como muito tolerante, muito simpático (...) Essa imagem estava sendo corroída por um discurso hostil. É bom que isso mude.
P: Como o senhor sentiu a presença de militares no governo?
R: Trabalhei no governo, convivi com os ministros militares (…) Não existe nenhuma perspectiva de um ato de um movimento autoritário, de golpe por conta das Forças Armadas (...) A presença de militares no governo, em si, não é necessariamente negativa. O que é equivocado é tentar utilizar essa presença como se houvesse uma posição de força que pudesse se impor sobre os outros poderes. Isso nunca veio das Forças Armadas, e sim de um discurso equivocado do próprio Planalto.
P: O senhor sentiu algum clima de conflito entre as chamadas ala militar e ala olavista?
R: Em qualquer governo, às vezes se tem um ambiente de intriga entre determinados grupos, e às vezes isso era um pouco exagerado pela imprensa (…) Eu tentava permanecer alheio a essas questões e realizar um trabalho bastante técnico. Tinha uma proximidade com os ministros militares (…) e alguma relação também com os ministros dessa chamada outra ala. Mas sempre me vi mais como um ministro de perfil técnico dentro do governo, assim como o ministro Paulo Guedes.
P: O senhor vê semelhanças entre Bolsonaro e Lula?
R: Ambos têm um caráter um tanto populista na formulação das políticas publicas, com a diferença de que o presidente Bolsonaro seria um populista de direita e Lula, de esquerda (….) De certa maneira, são dois extremos, na minha opinião respeitosa, que devem ser evitados.
P: O que prejudicou tanto a imagem de Bolsonaro ou do Brasil?
R: Houve alguns equívocos em termos de ações e discursos (…) No passado, parecia que havia um certo estímulo ou desconsideração ante a gravidade dessa supressão da Floresta Amazônica. Já existem ações efetivas do governo nesta linha (Moro cita a operação contra o desmatamento Verde Brasil 2, dirigida por militares). E seria igualmente relevante que elas fossem acompanhadas de uma mudança de discurso do presidente em relação a este tema.
Este tipo de evento acaba prejudicando muito a imagem do país,passando uma imagem do Brasil que é equivocada, de que estamos dentro de um viés autoritário, que somos todos negligentes com o meio ambiente, com os direitos das minorias. E o povo brasileiro não é assim.
P: É possível uma chapa com o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta em 2022?
R: Com a pandemia de COVID-19, os desafios de 2020 são muito grandes para que possamos pensar em 2022, é um cenário absolutamente imprevisível.
Durante a pandemia, Mandetta cresceu muito, porque adotou uma política que passava tranquilidade à população, principalmente por sua transparência (…) Mas acredito que nem ele, nem eu, estamos pensando seriamente em 2022. Vou me direcionar ao setor privado, tenho já bons contatos na área acadêmica, eu já era professor concomitantemente a ser juiz e ministro. Então, a minha tarefa no momento é essa reinserção em 2020 e não pensar em 2022.
Moro, de 47 anos, renunciou à magistratura em 2019, para se tornar ministro de Bolsonaro e dar continuidade à cruzada contra a corrupção iniciada com a Operação Lava Jato. Em abril, deixou o governo, acusando Bolsonaro de tentar interferir em investigações da Polícia Federal. Hoje, o presidente o chama de "traidor" e Lula, de "canalha".
Seguem abaixo os principais trechos da entrevista, realizada remotamente nesta segunda-feira:
P: Após as suas acusações contra Bolsonaro, o senhor se sente parcialmente responsável pela crise política no país?
R: Minha intenção não foi prejudicar o governo, foi, especialmente, esclarecer por que eu estava saindo (…) Após o início da pandemia, começou a haver uma certa crise de credibilidade do governo, na minha opinião, e uma tensão crescente com os outros poderes: o Supremo Tribunal Federal e o Congresso. Minha saída entra nesse contexto, mas é apenas uma parte, não me sinto responsável (pela crise).
P: O presidente quebrou a promessa de combater a corrupção?
R: "Quando eu estava no ministério, "conseguimos avançar principalmente no combate à criminalidade violenta e ao crime organizado, mas em relação à corrupção, não tanto. Um dos problemas, na minha opinião – e com todo o respeito - foi uma falta de apoio maior da parte do Palácio do Planalto."
P: O senhor acredita na postura recente de Bolsonaro, mais moderada?
R: Essa mudança de postura do presidente nas últimas semanas, reduzindo a hostilidade e adotando um discurso mais moderado, é boa para o país, isso favorece a estabilidade (...) Infelizmente, alguns pronunciamentos do presidente haviam criado uma tensão desnecessária, gerando, inclusive, uma imagem negativa do pais no exterior, isso é ruim. O Brasil sempre foi uma democracia confiável e, por outro lado, o povo brasileiro sempre foi tido como muito tolerante, muito simpático (...) Essa imagem estava sendo corroída por um discurso hostil. É bom que isso mude.
P: Como o senhor sentiu a presença de militares no governo?
R: Trabalhei no governo, convivi com os ministros militares (…) Não existe nenhuma perspectiva de um ato de um movimento autoritário, de golpe por conta das Forças Armadas (...) A presença de militares no governo, em si, não é necessariamente negativa. O que é equivocado é tentar utilizar essa presença como se houvesse uma posição de força que pudesse se impor sobre os outros poderes. Isso nunca veio das Forças Armadas, e sim de um discurso equivocado do próprio Planalto.
P: O senhor sentiu algum clima de conflito entre as chamadas ala militar e ala olavista?
R: Em qualquer governo, às vezes se tem um ambiente de intriga entre determinados grupos, e às vezes isso era um pouco exagerado pela imprensa (…) Eu tentava permanecer alheio a essas questões e realizar um trabalho bastante técnico. Tinha uma proximidade com os ministros militares (…) e alguma relação também com os ministros dessa chamada outra ala. Mas sempre me vi mais como um ministro de perfil técnico dentro do governo, assim como o ministro Paulo Guedes.
P: O senhor vê semelhanças entre Bolsonaro e Lula?
R: Ambos têm um caráter um tanto populista na formulação das políticas publicas, com a diferença de que o presidente Bolsonaro seria um populista de direita e Lula, de esquerda (….) De certa maneira, são dois extremos, na minha opinião respeitosa, que devem ser evitados.
P: O que prejudicou tanto a imagem de Bolsonaro ou do Brasil?
R: Houve alguns equívocos em termos de ações e discursos (…) No passado, parecia que havia um certo estímulo ou desconsideração ante a gravidade dessa supressão da Floresta Amazônica. Já existem ações efetivas do governo nesta linha (Moro cita a operação contra o desmatamento Verde Brasil 2, dirigida por militares). E seria igualmente relevante que elas fossem acompanhadas de uma mudança de discurso do presidente em relação a este tema.
Este tipo de evento acaba prejudicando muito a imagem do país,passando uma imagem do Brasil que é equivocada, de que estamos dentro de um viés autoritário, que somos todos negligentes com o meio ambiente, com os direitos das minorias. E o povo brasileiro não é assim.
P: É possível uma chapa com o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta em 2022?
R: Com a pandemia de COVID-19, os desafios de 2020 são muito grandes para que possamos pensar em 2022, é um cenário absolutamente imprevisível.
Durante a pandemia, Mandetta cresceu muito, porque adotou uma política que passava tranquilidade à população, principalmente por sua transparência (…) Mas acredito que nem ele, nem eu, estamos pensando seriamente em 2022. Vou me direcionar ao setor privado, tenho já bons contatos na área acadêmica, eu já era professor concomitantemente a ser juiz e ministro. Então, a minha tarefa no momento é essa reinserção em 2020 e não pensar em 2022.