A diarista Glauci Barcellos, de 37 anos, chegava em casa depois do trabalho quando soube da prisão de seu filho Ryan Dias, de 18 anos. O caso aconteceu no dia 4 deste mês, na comunidade do Dique, no bairro Jardim América, Zona Norte do Rio, durante uma operação da PM. O rapaz foi preso por suspeita de tráfico de drogas. Segundo a PM, ele foi alcançado por militares enquanto se escondia em uma residência durante uma troca de tiros na região. Com ele, os policiais dizem ter encontrado uma mochila preta contendo um radiotransmissor, 8,5 gramas de maconha, 116 gramas de cocaína e 7,40 gramas de crack. Testemunhas desmentem a versão da polícia.
Devido à prisão de Ryan, amigos, familiares e moradores da comunidade montaram uma corrente nas redes sociais pedindo a soltura do rapaz. Glauci diz que o filho se apresentou no último dia 10 às Forças Armadas e almejava ser paraquedista: "Meus dias têm sido de tortura, não consigo comer, não consigo dormir direito, estou sem chão com essa injustiça que estão fazendo com o meu menino", desabafou ao DIA.
Na decisão da audiência de custódia de Ryan, realizada no domingo, o juiz Rafael Cavalcanti Cruz diz que: "O restabelecimento da liberdade do custodiado gera ofensa à ordem pública, assim considerado o sentimento de segurança, prometido constitucionalmente, como garantia dos demais direitos dos cidadãos", destaca.
Colegas de classe do rapaz publicaram um vídeo nas redes sociais para defender o estudante. Nas imagens, seis alunos da Colégio Pedro Fernandes, com uniforme da rede estadual de ensino, afirmam que esperam o jovem voltar para as aulas e dizem que ele é inocente. Segundo eles, Ryan esperava fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), nos próximos dias 3 e 10 de novembro.
A mãe do jovem diz que Ryan considerava cursar Engenharia Mecânica ou seguir a carreira militar. "Eles querem destruir os sonhos do meu filho, ele sonhava em construir motor de avião e ele tem o plano B de tentar ser sargento da Aeronáutica. Mas como ele irá conseguir, se estão querendo sujar o nome dele?", disse.
Antes da prisão o jovem compartilhou uma publicação que falava sobre o tratamento de policiais com pessoas que moram em comunidade e sobre a morte de jovens nas ações policiais.
Marcela Miranda, professora de sociologia do estudante, diz que o rapaz participa das atividades em sala e é basante comunicativo nas aulas. "Ele está sempre rodeado de amigos, sempre se mostrou um menino responsável, atencioso, muito educado. Ryan é reconhecido no bairro por esse jeito gentil, por ser menino um honesto. O que aconteceu com ele foi estar na hora errada e no lugar errado, porque ele é inocente e disso nós temos certeza", afirmou.
O advogado do rapaz, Melquizedequi Ramos da Silva, diz que testemunhas ouvidas por ele e o próprio Ryan reforçaram que o rapaz não estava com mochila quando foi abordado pelos policiais. "Ele estava andando de bicicleta quando ocorreu um tiroteio na comunidade, então ele encostou a bicicleta e correu para se abrigar de balas perdidas. Ele explicou que policiais o abordaram e o conduziram a uma casa, lá fizeram pressão psicóloga e depois afirmaram que uma mochila seria dele e o levaram algemado pelas ruas" conta.
*Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes