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'A política de segurança só favorece pessoas de cima. Não favorece nem pobres, nem policiais', diz Delacruz

Cria de Vigário Geral, favela da Zona Norte, cantor defende a arte como 'válvula de escape' para jovens de comunidade

Delacruz
Delacruz -
A voz grave e swingada de Delacruz tem o balanço dos subúrbios cariocas. Cria de Vigário Geral, o artista é a mistura de temperos do que viu, ouviu e viveu: grava clipe com trajes de sambistas do morro, faz participação em hits de MCs de funk e rima sobre desigualdade social em letras de rap. Riqueza cultural que só tem quem é fruto da favela.
"Minha infância foi majoriatamente com funk e pagode. Mas a galera ouvia muito Djavan, O Rappa, Charlie Brown Júnior. Tem uma mistura muito legal que influencia. Meu avô é um compositor de samba, mas adora outros gêneros, e alimentou em mim esse desafio", conta Delacruz, que teve sua primeira experiência na música ainda na infância, influenciado pelo sucesso dos grupos de funk do início dos anos 2000.
"A primeira experiência que tive real com música foi com o funk, na minha adolescência, época em que a Furacão 2000 era uma sensação nacional. Os Hawaianos, Os Ousados, Os Magrinhos...Montei um grupo de funk eu mais três amiguinhos da época. A gente tocava nas festinhas de rua. Esse período foi crucial na minha formação, e também foi a alternativa para vários jovens que poderiam ter tomado um rumo diferente. A arte é uma válvula de escape", acredita.
"A importância do acesso à cultura para um jovem é poder questionar qualquer pessoa, qualquer assunto, qualquer história. Poder ser formador da sua própria opinião. É uma responsabilidade grande ser um exemplo de que existe uma alternativa diferente, no meu caso a arte. É responsabilidade ser ídolo de várias crianças, adolescentes. É necessário ter o poder que tem isso. O feedback está quando eu vou em Vigário Geral e as crianças vêm falar comigo, os pais vêm falar. Isso é importante".
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Benefício só para 'quem vende o brinquedo'

Delacruz, atualmente com 22 anos, saiu de Vigário Geral com 19 para viver da música. Durante a adolescência e o início da fase adulta, viveu de perto as tensões da violência urbana carioca. "Nessa época havia uma grande rivalidade entre Vigário Geral e Parada de Lucas, e eu sou parte desse processo também. Eu morava no meio disso tudo. O último que me recordo é ter ido morar com a minha esposa, que é da Cidade Alta, e a CDA entrou em guerra no período que ela estava grávida com o meu filho. Às vezes não conseguia subir porque estava rolando tiroteio, ela ficava presa em casa", diz o artista.
Preocupado com as questões sociais, principalmente com as perspectivas de futuro da juventude da favela, Delacruz aponta os erros da segurança pública fluminese. "A política de segurança que só favorece pessoas de cima. Não favorece nem pobres moradores de favelas, nem os pobres que são policiais, os caras que realmente vão para trocar tiros. Eles, pais de famílias, também morrem. Só quem se beneficia é quem vende os brinquedos para essa brincadeira poder acontecer. Assim eu considero"
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