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Cria do Turano colhe os frutos de empresa de contação de histórias que criou

Aos 28 anos, empreendedor Leandro Pedro faz sucesso com o próprio negócio fora da comunidade da Zona Norte do Rio

Com a Ih, Contei!, empreendedor vê futuro com universo lúdico
Com a Ih, Contei!, empreendedor vê futuro com universo lúdico -
Aos 28 anos, Leandro Pedro vê a empresa de contação de histórias que criou há cinco com o parceiro Elton Pinheiro, 33, deslanchar apesar da pandemia. Morador do Morro do Turano até dois anos trás, Leandro deixou a faculdade de tecnologia na web no Cefet para abrir o próprio negócio.
"Eu ia muito triste para o emprego e teve uma hora que falei que não dava mais para mim, não queria mais trabalhar com aquilo", relembra. 
Dos 12 aos 17 anos, Leandro fez um curso de contação de histórias na ONG Instituto de Arte Tear, na Tijuca, quando teve o primeiro contato com a arte. A aproximação com tecnologia veio no Ensino Médio, quando se formou como técnico de programador de jogos no Colégio Estadual José Leite Lopes, que faz parte do programa Nave (Núcleo Avançado em Educação) da Oi.

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Tifanny é o cartão de visitas do negócio Ih, Contei!/Divulgação
Empreendedor se juntou a amigo para abrir o próprio negócio Ih, Contei!/Divulgação
Livro lançado pelo selo próprio da empresa Ih, Contei!/Divulgação
Tifanny é o cartão de visitas do negócio Ih, Contei!/Divulgação
Leandro e um dos bonecos criados pela empresa Ih, Contei!/Divulgação
Empreendedor morou por mais de 20 anos no Turano Ih, Contei!/Divulgação
O negócio foi criado há cinco anos Ih, Contei!/Divulgação
Evento em escola pública Ih, Contei!/Divulgação
Evento em escola pública Ih, Contei!/Divulgação
Ida da Tifanny ao 'É De Casa' Ih, Contei!/Divulgação
O negócio foi criado há cinco anos Ih, Contei!/Divulgação
O negócio foi criado há cinco anos Ih, Contei!/Divulgação
Com a Ih, Contei!, empreendedor vê futuro com universo lúdico Ih, Contei!/Divulgação
Leandro deixou o Cefet nos últimos dois períodos do curso, tendo a certeza de que estava fazendo algo de melhor para si. Ele teve o apoio da família, apesar de ter que se preocupar em como as contas de casa iriam ser pagas.
"Não sabia como ia ganhar dinheiro e precisava descobrir. Mas eu sempre falo que o universo conspira a favor e, na época, uma antiga professora disse que queria criar uma oficina de contação de histórias. Foi o primeiro dinheiro que tive com esse universo", conta. A partir daí não parou mais!
IH, CONTEI!
Leandro começou participando de um edital de incentivo da Prefeitura de Ponta Grossa, no Paraná. Ele chegou a viajar para a cidade do Sul do país para um encontro nacional de contadores de história.
"Foi a primeira viagem de avião que fiz. Saí de uma comunidade e conheci mais de 30 contadores de histórias do Brasil inteiro. Foi quando vi que tinha mercado, que as pessoas viviam disso", diz.  
De volta ao Rio, o empreendedor se juntou ao parceiro Élcio para ambos criarem a Ih, Contei!. Eles levaram sete meses para entender o negócio, se reunindo sempre na casa de Leandro, no Turano. Um dos primeiros contratos da empresa foi com o Sesc para se apresentarem em unidades espalhadas pelo estado. 
"A partir dali eu comecei a perceber que não era somente brincadeira, tinha algo mais sério. Também foi muito incrível porque foi o momento em que entrou dinheiro", afirma.
NASCIMENTO DA TIFFANY
De apresentação em apresentação, Leandro viu o negócio crescer consideravelmente. O que começou apenas com contação de histórias se expandiu. Um dos principais saltos da empresa aconteceu em 2016, quando eles criaram a boneca Tifanny.
"Foi a coisa mais absurda do mundo. A gente precisava reinventar os trabalhos e então pegamos uma boneca feita de meia surrada, meia velha mesmo. A gente criou, mas não acreditava", relembra.
Mas Tifannay praticamente ganhou vida própria e hoje é o cartão de visitas do negócio. A boneca iria ser usada em apenas uma história, mas os contratantes começaram a pedi-la em outras. A personagem feita de meia chegou a ir ao programa "É De Casa", na Globo.
"Entendemos as potências dos bonecos e começamos a criar bonecos grandes, híbridos, que a gente veste de meia, de vara, de todos os tipos", enfatiza.
CURSOS, PALESTRAS E A PANDEMIA
Foi graças aos bonecos que Leandro e o parceiro perceberam que poderiam ir por outros caminhos no negócio, como cursos e palestras. E foi também graças a eles que a empresa está conseguindo passar pela pandemia sem grandes sufocos.
"Descobrimos que a Tifanny tinha um grande potencial na Internet, então ela virou uma grande blogueirinha e as crianças começam a pedir muito por dela. Foi quando decidimos vendê-la pela Internet. Até agora, vendemos mais de 100 modelos", calcula.
A Ih, Contei! também consegue respirar na pandemia por causa do selo editorial próprio criado no ano passado. "Maria do Socorro" foi a primeira obra lançada pela editora e está com a edição esgotada.
Entre as contações de história, Tiffany e a venda dos livros, Leandro faz questão de manter ações gratuitas da empresa. Se antes da pandemia, eles faziam apresentações em escolas, orfanatos e praças, agora eles usam a Internet como aliado.
"Eu vim de uma ONG, de um espaço onde eu não pagava para ter as aulas. Então, precisamos partilhar disso gratuitamente também. A gente não pode mais fazer apresentações de graça na escola, mas podemos fazer online e fazemos isso com o maior prazer do mundo", enfatiza.
BRASIL AFORA
No início do ano, a Ih, Contei! tinha negócios fechados em mais de 50 cidades. Todos foram cancelados por causa da quarentena. De olho no fim da pandemia, Leandro espera que a empresa vá além das fronteiras do país.
"Uma das coisas que a Ih, Contei! me proporcionou, e para mim é o que me deixa mais feliz, foi viajar com o meu trabalho e conhecer outras pessoas. Nossa ideia é que a gente consiga ganhar mais força para levar as nossas apresentações e ações para fora do país", projeta.
Ao relembrar a origem simples, o empreendedor lamenta que ele seja uma exceção dentre tantos moradores de comunidades do estado. Mas ele vê que as dificuldades da vida serviram pera lhe fortalecer.
"O Turano me fortaleceu muito enquanto ser. Eu já tive a casa invadida a pontapé por policiais, porque achavam que era cativeiro, já vi gente morta na porta da minha casa e ouvi muitos tiros. Vivi coisas que não gostaria que nenhuma outra pessoa ou criança vivenciasse", lamenta.
O empreendedor ainda reforça o potencial que crianças e jovens das comunidades têm. Para ele, o apoio que teve em casa, principalmente da mãe, e o contato com bons professores foram fundamentais para seu sucesso.  
"Eu nunca fui o melhor aluno da escola. Eu era um garoto arteiro, que gostava de fazer arte. As crianças têm um potencial imenso. Elas são potentes. E isso eu vejo muito em mim", enfatiza.

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