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'Venho de lá, essa é minha história'

Comediante do povão, Rodrigo Sant'Anna fala como crescer na favela o inspirou na criação de personagens, além dos projetos sociais que toca na comunidade ao lado do marido. Confira!

Rodrigo Sant'Anna
Rodrigo Sant'Anna -

Foi com um sorriso estampado no rosto que Rodrigo Sant'Anna driblou as adversidades da vida e venceu todo tipo de preconceito. Da infância simples no Morro dos Macacos, na Zona Norte, ao alto escalão de humoristas da Globo, o ator ganhou o carinho do público com personagens que falam a língua do povão.

"É a minha experiência de vida. É muito espontâneo da minha parte falar de pessoas de comunidade ou do subúrbio, porque eu venho de lá, essa é minha história. Sou essa galera", afirma o comediante, que se reconhece mesmo por entre as múltiplas cores da periferia. "As pessoas são ricas, extrovertidas e divertidas. Tenho muito prazer de representá-las", conta, aos risos, o criador de personagens icônicos como Valéria Vasques, do Zorra Total, da Globo, e Dona Graça, do programa Tô de Graça, do Multishow, só para citar alguns.

Apesar de não morar mais na comunidade, Rodrigo é grato por tudo o que viveu. Tanto que, hoje, ele se inspira na própria história para ajudar as novas gerações. Ao lado do marido, o roteirista Júnior Figueiredo, ele toca o projeto Curso de Roteiro - Clube do Pensamento, com aulas online e gratuitas para negros, transexuais, terceira idade e moradores de comunidades. 

"Eu e meu marido a gente dialoga muito a respeito disso. A minha vivência, que venho do Morro dos Macacos, e ele, do interior da Bahia, gays, negros... Polos que vivem esse preconceito. Essas dificuldades que a gente foi enfrentando ao longo da nossa existência, sem dúvida, alimentou a vontade de que todas as outras pessoas que vivem essa realidade também tenham acesso e possibilidades", afirma. 

A ideia do casal é descobrir talentos a que a vida não deu oportunidade. Uma forma de retribuir tudo o que a vida lhe ofereceu. "Atualmente, a gente conseguiu essa visibilidade para negros, trans e idosos à frente das câmeras, mas acho que ainda existe um monopólio da classes com quem constrói as ideias. É interessante a gente enxergar a sociedade sobre uma outra ótica".

Cria do Morro dos Macacos, Rodrigo só se deu conta dos desafios que o povo periférico vive ao se distanciar daquela realidade. Um paradoxo existencial. "Crescer no morro foi uma dificuldade, que, talvez, nem percebesse. É esgoto a céu aberto, tiros, todos as intempéries de uma comunidade. Entretanto, agradeço a Deus porque essa vivência me deu tudo o que tenho". 

Amores de uma vida

Brilhando na Escolinha do Professor Raimundo, da Globo, como o adorado Batista, e no ar com o Tô de Graça, do Multishow, Rodrigo Sant'Anna é seguido por 2,2 milhões de pessoas do Instagram, que se divertiram com as brincadeiras dele com a avó, dona Adélia. Inspiração para a personagem Graça do humorístico.

"Minha avó é a maior graça, em todos os sentidos (risos). Teve dez filhos, veio do interior, foi empregada doméstica... Ela é uma referência muito forte da Graça", derrete-se.

Não é difícil encontrar gravações do TikTok com dublagem dos personagens do ator. Ele, claro, se diverte. "Sou grato sempre, porque construo os personagens com tanta verdade e honestidade, esse reconhecimento do público é incrível. Eu mesmo me dublo", brinca Rodrigo Sant'Anna. 

Casado há um ano e nove meses com Júnior, os dois dividem a vida e o trabalho. "Ele é a pessoa que eu amo. A gente tem uma cabeça parecida e se dá muito bem profissionalmente", conta o humorista, que também faz a felicidade das pessoas na comunidade onde nasceu com seu novo projeto social. "Tenho um projeto dentro do Morro dos Macacos, junto com a instituição Entre Amigos, que comecei na pandemia, para ministrar cursos ligados ao teatro para as pessoas de comunidade".

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