Nasci no Morro da Providência e moro até hoje. Éramos eu, meus dois irmãos e minha mãe dentro de um cortiço. Dividimos banheiro e tanque com mais de 200 famílias, tive contato com todo tipo de pessoa, era uma situação bem precária.
Aos 20 anos, vi o grupo Tá na Rua e assisti o espetáculo. No fim, fui andando atrás do cortejo até a sede, na Lapa. Consegui entrar para fazer oficinas livres e lá fiquei durante oito anos. Durante esse tempo, me formei na Escola Técnica de Teatro Martins Pena e consegui entrar na UniRio para Licenciatura em Teatro.
Eu acredito na arte como uma ferramenta de transformação social, no acesso à informação e à cultura, na inclusão e nos direitos. Por esse motivo, eu tive a iniciativa de criar o instituto Entre o Céu e a Favela. A arte foi um grande divisor de águas para mim e eu tive a vontade de proporcionar isso para os outros que tanto precisavam.
Hoje, temos como principal objetivo potencializar o protagonismo de crianças, jovens e mulheres. Ocupamos o espaço Epicentral dentro do Morro da Providência, onde realizamos encontros mensais, oficinas e atividades para crianças e produtores locais. Pessoalmente falando, todo favelado é empreendedor, porque precisa ser criativo para sobreviver.
Em 2020, chegamos primeiro que o poder público dentro do território e conseguimos atender diretamente, com cartão alimentação, 1.750 famílias e 1.000 cestas básicas.
Já no primeiro mês de 2021, a ONG promoveu inscrições em cursos gratuitos de empreendedorismo, cultura e esportes, um belo jeito de comemorar 10 anos de existência. Os cursos para as crianças são: basquete, percussão, futebol, teatro, perna de pau e educação ambiental. Para os jovens acima de 15 anos, profissionalizantes de design de sobrancelhas, tranças, empreendedorismo e informática. São 460 vagas e já foram preenchidas 60% delas. Ainda há tempo!