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'Os discos eram meus brinquedos'

Xande de Pilares canta a realidade do povo periférico com muita poesia e sensibilidade ao celebrar sonhada parceria com Maria Bethânia na faixa "Cria da Comunidade"

Xande de Pilares
Xande de Pilares -
Não é de hoje que Xande de Pilares empresta sua sensibilidade para retratar com poesia a realidade, muitas vezes dura, do povo da periferia. E desta vez não seria diferente. Em 'Cria de Comunidade', o cantor carioca solta a voz, muito bem acompanhado, dividindo vocais com ninguém menos que Maria Bethânia, para a faixa que pertence ao novo disco da musa da MPB, o 'Noturno'. Um dos momentos mais emblemáticos da carreira do artistas, que cresceu por entre as ruas e vielas do Morro do Turuno, na Tijuca, Zona Norte do Rio.
Na musica,  a dupla relata a história de uma mulher guerreira, do Morro da Pedreira, que todo dia pega sua condução para o trabalho e não desiste de seus sonhos. A realidade de muitas cariocas. "É dar um pouco de esperança e alegria. Essa é uma região que só tem notícias pesadas, mas que tem muita coisa boa. Eu passei boa parte da minha infância ali, sempre fiquei na casa de tias que moram por lá", diz ele, que como diz na letra, apesar dos altos e baixos, a conexão com a comunidade é eterna. "Isso acontece muito com gente. A gente é enraizado no lugar. É a realidade do povo carioca de periferia", conta.
A música que relata esse cotidiano é de composição de Xande com Serginho Meriti. E, apesar da admiração que o sambista tem por Bethânia, ele jamais imaginou gravar com a diva. Um momento de glória. "Você não tem noção. Eu estava dormindo, meu telefone tocou eu abri a mensagem. E estava escutando aquela voz serena me falando que estava apaixonada pela musica. Mas eu não tava realizando. Ainda tava impressionado por ela estar entrando em contato comigo. Pra mim Maria Bethânia é uma entidade. Eu a escuto desde os cinco anos de idade. Ela perguntou se eu queria cantar uma musica com ela. Eu nem sabia o que falar. Fiquei super entusiasmado e feliz. Gravar com Bethânia foi uma das coisas mais bacanas que aconteceram na mina vida", declara. 
E essa devoção pela cantora surgiu desde cedo. Nascido e Criado no Turano, o cantor logo teve contato com a música e os instrumentos da família. Mas foi graças a super proteção de sua mãe, que evitava que ele ficasse brincando pela rua que surgiu a paixão pelos discos. "São as melhores lembranças. A comunidade é muto presente na minha vida. Quando chego lá são minhas recordações. Sou muito grato, e eu tento passar um pouco do que eu vivi para quem etá tentando sair da comunidade para correr atrás de seus sonhos", diz. "A favela me ajudou tanto com criticas, como elogios e brincadeiras. Minha mãe é a parte mais importante. Ela era super protetora, ela só esqueceu de dizer que ouvir disco era marginal. Os discos eram meus brinquedos e o violão do meu tio. Ficava tentando aprender alguns acordes, porque era meu sonho ser musico e compositor, nunca quis ser cantor, mas Deus me deu essa oportunidade. No convite da Bethânia eu disse que pra ela que eu não cantava nada, e ela me repreendeu, elogiou minha voz. Com avala dela não tem como.", conta, aos risos. 
Sendo um dos maiores nomes do samba brasileiro, Xande de Pilares ressalta que mantém suas raízes vivas para sempre estar em contato com a realidade e não se deslumbrar com a fama. "Não tem um ano novo que eu passe longe da favela, toda vez que tenho uma oportunidade, minha família está lá no Turano, a gente sempre se reúne ali, toma umas biritas, constantemente eu estou em contato com a comunidade, quem sabe de onde vem, sabe onde quer chegar", finaliza ele.

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