Celebração a griôs das favelas
Por Meia Hora
Publicado em 26/10/2025 00:00:00 Atualizado em 26/10/2025 00:00:00Revelar histórias contadas por quem as viveu é o objetivo do projeto audiovisual 'Avós da Comunidade', que propõe uma escuta sensível e profunda aos griôs das favelas do Rio de Janeiro. A iniciativa celebra os guardiões da memória e da sabedoria ancestral, transformando em imagem e som os saberes transmitidos pela oralidade nas comunidades cariocas.
O lançamento oficial está marcado para 17 de outubro. Com patrocínio da Prefeitura do Rio, por meio do edital Pró Carioca Linguagens, as gravações acontecem atualmente em três territórios: Morro da Providência, na Região Central; Morro da Serrinha, na Zona Norte; e Inhoaíba, na Zona Oeste. O projeto busca enaltecer, resgatar e preservar a memória e a história de cada comunidade por meio de seus idosos fundadores.
De acordo com Dandara Barbosa, idealizadora do 'Avós da Comunidade', a iniciativa surgiu justamente da percepção de que a internet carece de representatividade de pessoas mais experientes, especialmente idosos negros.
"Vendo uma internet cada vez mais jovem, comecei a me perguntar: cadê os nossos griôs? Falamos tanto de ancestralidade. Criei o Avós da Comunidade para valorizar e registrar aqueles que serão nossos futuros ancestrais", afirma Dandara.
Nos territórios visitados pelo projeto, as histórias alternam entre memórias afetivas, tradições culturais e ensinamentos comunitários. No Morro da Providência, Eron, Rosieta e Dona Jura compartilham relatos que vão de lendas mal-assombradas do zelador da primeira igreja da favela a experiências do Carnaval. Já no Morro da Serrinha, a tradição do Jongo, expressão cultural afro-brasileira com raízes em Angola e na República Democrática do Congo, é preservada por Vovó Maria, Sanã, Raimunda e Eliana.
Durante séculos, a oralidade foi o principal meio de transmitir o conhecimento dos griôs para as novas gerações. Para Wallace Silva, produtor do 'Avós da Comunidade', é justamente nesse registro que reside sua importância social e histórica. A ação ainda pretende expandir sua atuação, visitando novos territórios e acolhendo cada vez mais griôs e suas comunidades.
"É preciso adaptar as práticas dos nossos antepassados para os dias atuais. Estamos dando continuidade ao legado dos nossos mais velhos e reafirmando o valor dos saberes ancestrais. O mais importante é ouvi-los em primeira pessoa, hoje ou daqui a 50 anos. É um verdadeiro intercâmbio de gerações, que agora está registrado em audiovisual", ressalta Wallace.