Encontro de gerações da Estação Primeira MH

Entoando versos de Cartola, Cacá Nascimento, de 11 anos, encantou Tia Suluca, 92. Na casa da baluarte da Mangueira, adocicada por quitutes de goiaba, a menina que encantou o Brasil na comissão de frente do desfile campeão da Verde e Rosa recebeu a bênção da matriarca da escola, que tem o sangue do eterno mestre-sala Delegado na veia.

"Essa menina já está na história da Mangueira. É inteligente, sabe o que está fazendo", diz Tia Suluca. Os 92 anos de vida não tiram de Arlette da Silva Fialho a disposição de defender a escola pela qual começou a desfilar quando ainda tinha 7 anos, levada pelo irmão, Delegado, primeiro mestre-sala da agremiação, morto em 2012.

"Eu tenho muita saudade dele. Foi o maior mestre-sala do mundo. Eu me lembro que a gente dançava em casa, usando uma vassoura. Mas eu não quis ser porta-bandeira, pois é uma função que cansa muito", conta a baluarte, que é presidente de honra da Ala das Baianas.

"Nossa fantasia era de papel crepom. A Dona Neuma que fazia. Quando chovia era um sufoco, mas o amor pela escola superava isso. Só de ouvir a bateria ensaiando pela Rua Visconde de Niterói, eu descia correndo do Buraco Quente para ir atrás. Era bom frequentar essas festas e ouvir sambas de Cartola e de Carlos Cachaça. Era bom ver a Dona Neuma e a Dona Zica", diz Tia Suluca.

'Sempre gostei de ir no chão'

Dos locais que já abrigaram os desfiles do Carnaval carioca: Praça Onze, Avenida Rio Branco, Estádio de São Januário, Avenida Presidente Vargas e Sapucaí, esta a partir de 1978, ela prefere a última. "Ela é pequena para mim, mas eu gosto. E eu sempre gostei de ir no chão. Agora é que tenho de ir no carro", ressaltou.
Sem perder um Carnaval ao longo desses 85 anos de serviço à Mangueira, incluindo os ensaios, Tia Suluca ficou encantada com o enredo 'História para ninar gente grande' e com o samba campeão de 2019. "Eu senti firmeza. E eu nunca tinha visto um samba tão bom como esse", contou a baluarte, que sugeriu: "A Mangueira precisa lembrar de seus mestres que andam tão esquecidos, como Jamelão (ex-intérprete, morto em 2008) e Delegado".

Quer ser intérprete e passista

Oriunda da escola de samba mirim Mangueira do Amanhã, Cacá Nascimento arrebatou corações interpretando a estudante da comissão de frente, na qual exibiu a faixa 'Presente', o que fez lembrar a vereadora Marielle Franco (Psol), assassinada em março de 2018.
"Fiquei muito feliz em participar do desfile. As pessoas da escola são incríveis. Eu tive que ensaiar muito", contou a menina, que participou do último The Voice Kids, da TV Globo, e também gravou o samba-enredo campeão deste ano.
No 6º ano do Ensino Fundamental, Cacá tem o sonho de ser cantora e quer levar isso para a história que inicia na Mangueira. "Antes eu queria ser porta-bandeira, mas não tenho o talento da Squel (Jorgea, atual dona do posto). Quero ser intérprete e passista".

Encontro de gerações da Estação Primeira

Tia Suluca dá as bênçãos para Cacá Nascimento, estrela do desfile campeão

'Sempre gostei de ir no chão'

Quer ser intérprete e passista