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'Ainda existem pessoas que não querem associar seus nomes ao meu', desabafa Karol Conká

Após ser cancelada por sua participação no 'BBB 21, cantora cita os momentos difíceis que enfrentou em seu novo álbum, 'Urucum'

Karol Conká
Karol Conká -
Rio - Um ano após deixar o 'Big Brother Brasil 21', da TV Globo, com 99,17% dos votos, Karol Conká lançou seu novo álbum, 'Urucum', que tem 11 faixas. Neste trabalho, ela retrata suas dores e deixa suas 'personas' aflorarem. Em entrevista ao Meia Hora, a artista relembra os ataques e ameaças de morte que recebeu na época do reality, fala sobre seu processo de autoconhecimento e comenta o futuro do relacionamento com Polidoro Júnior; confira!
Você se emocionou muito nesse trabalho?
Esse trabalho foi o mais emocionante, o mais profundo e intenso que já fiz. Estava em uma situação vulnerável, fazendo terapia. Então, as coisas que ia aprendendo e observando nas minhas sessões trazia pro momento de produção criativa do álbum. É possível notar nesse trabalho que falo sobre situações bem específicas do ano de 2021. Foi uma escolha minha falar sobre isso, externalizar e brincar com as diversas personas que compõe a minha personalidade. Eu e o RDD (Rafa Dias, produtor), aqui no meu estúdio, produzimos e gravamos o álbum todo. Toda canção é composta por cada personalidade que me compõe.
Quais são essas personalidades que te compõe?
É a Karoline, que ninguém conhece muito. Ela apareceu pouco lá no reality, no meu momento de sensatez. Tem a Jaque é Pra Tombar, tem a Mamacita e tem a Karol Conká. São quatro personas cantando nesse álbum.
Você lida bem com todas essas personas hoje?
Hoje, sim. Tinha abandonado algumas delas. A Karoline é a mais importante, é a essência de todas essas personas. Sempre tive um lado zen, não parece, mas sempre tive. Tem esse lado artista da Karol Conká. A Karoline é mais centrada, a Mamacita é mais imponente. Ela gosta de resolver as coisas. A Jaque é Pra Tombar são os ânimos à flor da pele, a língua de chicote cantando, a animosidade... Fui aprendendo tudo isso na terapia. E decidi deixar todas elas cantarem. Hoje, consigo entender e controlar elas. Queria ser psicóloga.
E por que não ser psicóloga?
Sabe, é uma coisa que eu pretendo fazer. Queria estudar mesmo, é uma coisa superinteressante. Acho que é uma matéria muito boa. É uma forma mais fácil da gente conviver em sociedade. Sempre fui espontânea e visceral. Sempre gostei de falar, sempre achei um absurdo a censura. Fale o que está sentindo. Não tenho problema de lidar com a verdade na minha cara. É muito bom o diálogo, é muito bom poder se expressar. O cancelamento não devia existir. Essa intolerância que nós seres humanos temos com os outros, com a diferença dos outros, é muito triste. A gente fala muito sobre amor, empatia, mas as atitudes não levam para a evolução.
Todo esse momento delicado que você passou trouxe inspiração para as suas músicas. Esse álbum é um dos mais importantes da sua vida?
Considero um dos mais importantes. Esse álbum é o trabalho mais potente e profundo de toda a minha carreira. Sempre me inspirei nas minhas vivências, no que está ao redor. Mas esse trabalho, específico, foi a primeira vez que deixei as personas cantarem, olhei pra cada uma delas com carinho, respeito, afeto, acolhimento e dessa forma descobri que ia conseguir equilibrar elas. É encontrar o caminho do meio, porque sou muito agitada. Ou eu estou muito pra cima ou muito igual agora. É tudo 8 ou 80. Não aguento mais viver assim. Quero ser o caminho do meio.
Como você acha que as pessoas vão receber esse álbum? Ele foi produzido logo depois de você ser cancelada. Teve medo do público rejeitar seu trabalho?
Lidei com a verdade, paciência e humildade. São peças-chaves para lidar com o cancelamento. Não rolou medo, mas o 'caiu a ficha'. É natural que algumas pessoas não queiram mais consumir a minha arte por conta das minhas atitudes no reality. Mas tinha certeza que tinham pessoas para curtir meu álbum, pessoas que não estavam me reduzindo a 30 dias em um programa, onde a pressão e o jogo te induzem a discordar dos outros participantes, a rivalizar. Tem meus fãs que me conhecem há anos e sabiam que não merecia ser reduzida a aquilo. Que merecia um acolhimento pra entender que aquilo estava errado e que precisava de ajuda. Identifiquei isso, o abandono de mim mesma. Tive esse receio. O medo que tive quando saí (do BBB) foi de perder minha saúde mental. O que aconteceu dentro do reality poderia ter acontecido com qualquer outra pessoa que tivesse vivido as experiências que vivi ao longo dos anos. Precisei vestir daquela soberba ou daquele deboche todo pra me manter firme, porque eu já estava caindo.
E da onde saiu tanta força para você se levantar?
Tirei forças através da terapia, das redes de acolhimento. Mas não adiantava ter tudo isso em volta se aqui dentro, do meu interior, eu não entendesse o que estava acontecendo. Pra mim, não tinha mais graça cantar músicas que falavam de uma realidade que não estava vivendo. Não tinha graça eu contratar um coach pra me ensinar a falar. Nunca tive isso na minha vida. Achava que não seria honesto comigo e nem com o público. Era um momento de usar essa oportunidade para acrescentar algo na minha vida como pessoa, como ser humano. O autoconhecimento trouxe essa força. A partir do momento que me conectei comigo mesmo, o achismo alheio já não tinha mais efeito. Busquei força na minha ancestralidade, na história de vida da minha avó, da minha mãe, que passaram por situações pesadas e sobreviveram. Pensei: 'então, posso sobreviver ao cancelamento'. Ele é real, ele afeta mesmo. No meu caso afetou muito. Ainda assim, por mais que eu esteja considerada descancelada, ainda existem pessoas que não querem associar seus nomes com o meu, que acreditam que vou colocar no 'paredão' toda hora quem discordarem de mim.
Você é uma pessoa de muita fé?
Sou e graças a isso não definhei. Sem isso podia ter psicólogo, amigos, fãs, rede de apoio, sem a fé, eu não conseguiria sair daquilo. Tem que acreditar que vai passar, que é normal do ser humano errar e reconhecer que errou. Vítima todo mundo é, vilão todo mundo é, mocinho todo mundo é. Se colocar uma câmera na casa de todo mundo por 30 dias e as pessoas se assistirem elas vão ver o quanto são vítimas, o quanto são injustas, maravilhosas, intensas e vilãs também, porque não? A gente se identifica muito no outro. Quando a gente se incomoda com o que se identifica no outro, a gente começa a rejeitar e cancelar. Eu escolho acolher e resolver aquilo ali.
Você é uma pessoa sem tabus? Você fala sobre qualquer coisa que te perguntarem sexo, religião, política...
Ah, eu falo. Sou sem filtro e isso é muito triste. Porque o filtro é necessário. A gente não precisa falar tudo o que pensa, o que está no coração. E escuto isso desde criança. Minha mãe sempre falava: 'Me poupe dos detalhes'. Mas com o passar da carreira fui entendendo que é o meu jeito. É um jeito que desperta nas pessoas reflexão e é espontâneo. Qual o problema de falar de sexo? Todo mundo faz. Qual o problema de eu falar da minha participação do BBB? Tem gente que acha que vai me incomodar. Não me incomoda, é uma realidade. Acho que só preciso aprender a filtrar o que sinto pra que não precise controlar a minha fala.
A sua fala incentiva muitas outras mulheres, você não acha?
Acho. Eu me sinto incentivada por outras mulheres, quando as vejo. É importante só saber o que está falando. É importante não deixar a emoção falar mais alto. As vezes a gente acha que sabe de tudo, mas não sabe. Sempre tive o costume de falar somente do que sei, mas fiquei com essa fama de 'garota problema' depois da minha participação no reality. E entendo que tenho que dosar algumas coisas nas minhas falas, que podem ser mal interpretadas.
Em meio aos ataques por sua participação no 'BBB 21', você e seu filho, Jorge, de 16 anos, receberam ameaças de morte. Isso melhorou?
Melhorou, a gente não sofre mais ameaça. Nunca sofri nenhum ataque na rua. Meu filho também não. Só uns bullyings do colégio. Mas expliquei pra ele que é natural, tendo a mãe como figura pública. Falei pra ele que era como se eu tivesse virado um mito ou uma coisa que as pessoas comentam para ganhar likes, para destilar ódio, para aliviar suas frustrações. E que a gente não precisava trazer essa realidade para nossa casa, que aquilo não fazia parte da nossa vida. E essas pessoas não têm coragem de cumprir com o que elas falam nas redes sociais. Porque todos sabem que existem consequências pra qualquer crime que vá cometer. E com o passar do tempo passou o medo de sair na rua, de se posicionar.
Você e o Polidoro Júnior estão juntos há seis meses. Já pensam em casar?
Não tenho planos de casar, a gente brinca, óbvio. Nunca me vi casando de véu e grinalda. Se um dia eu casar, sentir essa vontade, com certeza, vou armar um casamento bem diferente, um vestido muito diferente. Mas, por enquanto, nessa relação, estou curtindo bastante. Estamos juntos há seis meses, a gente aprende muita coisa um com outro. Minha carreira é uma loucura. Prefiro viver o aqui e agora e guardar essa ansiedade na gaveta. Vou curtir o momento, viver, enquanto ele dura. E se ele durar pra sempre, maravilha.
Karol Conká
Karol Conká
Karol Conká Divulgação
Karol Conká
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Karol Conká Jonathan Wolper/ Divulgação
Karol Conká e o namorado Polidoro Júnior Reprodução/Instagram