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'É UMA QUESTÃO DE HONRA'

Gloria Groove viu sua carreira se transformar após o sucesso da música Bumbum de Ouro, lançada ano passado. Agora, a drag queen trabalha na divulgação de Apaga a Luz. Mas sua trajetória musical teve início muito antes, aos 7 anos. À coluna, a cantora conta como tudo começou, fala sobre o novo trabalho e muito mais.

Gloria Groove
Gloria Groove -

Você lançou "Apaga a Luz", com um clipe megaproduzido. Como foi a gravação? Você costuma se envolver com o roteiro e produção dos seus vídeos?

Sempre! É a parte que mais amo, além, é claro, do momento de filmar. Neste vídeo, tive pela primeira vez a experiência de fazer duas diárias, o que foi incrível. A diferença desse para os outros está no fator atuação e na sensibilidade de contar uma história que é real pra muitos de nós.

Em "Apaga a Luz", você aposta em um ritmo mais R&B. Já em "Arrasta", tem a influência do axé. Você também já cantou pop, rap. Como você define seu estilo musical?

Não defino! O êxito de fazer música pop, pra mim, está justamente em ter a chance de se reinventar a todo momento. Sei que tenho muito a oferecer e que não preciso e nem posso me limitar. Quanto mais vertentes musicais eu tiver domínio, melhor! Mas se tivesse que me definir, eu diria pop/hip-hop/R&B.

Você já fez música com Aretuza Lovi, Pabllo Vittar, Léo Santana. Com quais outros artistas gostaria de fazer parceria?

Tantos! Sou muito fã da cena R&B e trap brasileiro. Então, adoraria trampar com Luccas Carlos, Matuê, Cynthia Luz, Xamã, Gaab, Tassia Reis... Também tenho meus sonhos de cantar com Ivete (Sangalo), Ana Carolina, Sandy e Junior, Karol Conká... Fora os gringos, que são vários. Vixe (risos)!

"Bumbum de Ouro" foi a música que te deu maior visibilidade. O que ela significa para você?

Foi um momento decisivo na minha trajetória. Era meu sonho ter uma música que fosse um hino popular, algo de fácil conexão com pessoas de qualquer gênero, idade, cor, origem. Não imaginava que fosse um trabalho tão minucioso, mas também jamais poderia imaginar como seria a repercussão. Foi um som que abriu e ainda abre muitas portas pra mim.

"O Proceder" foi lançado ano passado e, desde então, você vem lançando singles soltos. Está nos seus planos lançar um álbum novo ou EP?

Com certeza está nos meus planos! Em breve.

Antes de Gloria Groove existir, você já era uma artista e cantava. Conta sua trajetória até agora.

Trabalho profissionalmente com música e TV desde os 7 (anos), com dublagem desde os 10 e com teatro desde os 16. Fui de uma formação do Balão Mágico em 2002, fui parte de uma dupla gospel infantil em 2004, fui calouro do Raul Gil na Band em 2006 e fiz parte do elenco da novela "Bicho do Mato" na Record, no mesmo ano. Nunca parei de trabalhar em dublagem. Fiz parte de algumas montagens independentes de teatro musical na adolescência e foi aí que começou a nascer dentro de mim Gloria Groove.

Como descobriu que gostaria de fazer drag queen? Como foi sua primeira vez montada?

Eu integrava o elenco de uma montagem do musical "Hair". Primeiro, veio o desafio de interpretar uma travesti em cena e isso já mexeu muito comigo. Primeira vez montada já em cima do palco e cantando. Pouco tempo depois, chegou ao Brasil a febre de "RuPaul's Drag Race". Fiquei louca e viciada naquilo, assim como meu namorado na época. E começamos a nos montar juntos pra ir em festas de amigos do teatro. Logo em seguida, vi a chance de atrelar uma carreira musical a isso e comecei a frequentar o circuito de baladas pop em São Paulo onde começavam a ser vistas as drag queens da nova geração.

Como foi a reação da sua família e amigos?

Foi mista. Algumas pessoas próximas entendiam 100% e apoiavam, enquanto outras torciam um pouco a cara. Eu sempre tive certeza do que queria.

Tem algum cantor ou cantora que seja inspiração para você?

Muitos. Principalmente minha mãe, Gina Garcia, deliberadamente uma das maiores cantoras do Brasil. Mamãe tem uma carreira sólida enquanto backing vocal de artistas grandes, como Raça Negra, Gian e Giovani, Alexandre Pires, Gloria Gaynor. Minha principal referência.

Você cantou na parada LGBTQI do Rio. Como foi a experiência?

Fora do comum! É inexplicável a sensação de estar em cima do trio, na posição não só de artista pop, mas também de representante de uma causa. A troca que tenho com meu público é tão de verdade. Me vejo nos olhos das pessoas que estão ali. Sou privilegiada por ocupar esse espaço num dia tão importante, onde celebramos nosso orgulho.

Como você definiria a luta LGBTQI ?

Hoje ela se expande. Invade a TV, a internet, as rádios. Estamos em todos os lugares e já não tem como ignorar. Lutar pela vida da minha comunidade no país que mais mata pessoas trans no mundo é uma questão de honra. Vivemos em tempos onde o discurso de ódio e perseguição vem mascarado como "opinião". Cabe a nós não aceitar e não validar mais esses discursos, pois é através deles que os nossos morrem todos os dias. Tenho a sorte de ter do meu lado familiares, amigos e fãs que entendem a importância dessa luta e faço questão de pautá-la no meu trabalho.

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