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O desenvolvimento da fala

As primeiras palavras dos filhos estão entre os momentos mais esperados pelos pais. Mas essa fase também vem acompanhada de muitas dúvidas em relação ao desenvolvimento da fala das crianças. Em entrevista à coluna, a fonoaudióloga Juliana Trentini, do canal Fala Fono no YouTube, esclarece questões sobre o assunto.

Com que idade, em geral, a criança começa a falar? E o que costuma acontecer em cada idade em relação à fala?

A partir dos 6 meses, o bebê balbucia, faz contato visual e reage aos gracejos dos pais. Entre 9 e 12 meses, ele está na fase de lalação e fica fazendo sons duplicados de cvcv (c=consoante e v=vogal). Por volta dos 12 meses, inicia as primeiras palavrinhas, geralmente "mamã" ou "papa". A partir de então, a criança começa a pegar o ritmo, chegando aos 18 meses com um vocabulário que inclui, em média, 30 palavras — mal pronunciadas e imprecisas. Ao completar 2 anos, a criança terá um vocabulário médio de 150 palavras e começará a formar frases simples. Entre 2 e 3 anos, as palavras vão ficando de melhor entendimento e as frases mais completas. Aos 3 anos, uma criança pode ser compreendida por um adulto sem "tradução" dos pais. Aos 5 anos, a criança conclui a aquisição de todos os fonemas da língua portuguesa, tem grande poder de comunicação e consegue contar história ou fato ocorrido com detalhes. O aprendizado, é claro, não para por aí.

Quando um atraso na fala ou no desenvolvimento da fala deve ser motivo de preocupação?

A criança não aprender a falar no tempo certo pode ser um simples atraso, que será recuperado espontaneamente, com ajuda ou sem ajuda. Pode ser um atraso moderado, que precise de ajuda para recuperar bem, ou pode ser um transtorno sério. Mas só é possível saber ao certo o que é por meio de avaliações e acompanhamento. Então, toda vez que os pais ou responsáveis decidem esperar, estão colocando em risco o desenvolvimento dessa criança. Os primeiros 3 anos de vida são muitos importantes para o desenvolvimento da fala e aquisição da linguagem. São, segundo estudos, o melhor momento para se iniciar uma intervenção. Um dos principais erros que os pais cometem é achar que a fala vai brotar do nada, espontaneamente. Um ambiente estimulador, com conversas, brincadeiras e bebê incluído nas atividades da família, se o bebê tiver condições geneticamente falando, vai desenvolver naturalmente. Mas o estilo de vida moderno favorece muito um estilo de vida que não é muito estimulador. São crianças em apartamento, que ficam em frente a uma TV ou tablet, com chupeta na boca. Não tem como essa criança aprender a falar. Ela não está inserida em contexto social, em conversa. Não tem um adulto que está ali mostrando as coisas para ela e falando o nome das coisas. Ou seja, a fala surge sem esforço quando a criança tem potencial genético para isso, mas é preciso um ambiente que também a estimule. Essa coisa de achar que cada criança tem seu tempo é lindo e em parte verdadeiro, mas não pode esperar muito.

A chupeta pode atrapalhar o desenvolvimento da fala das crianças?

Além de causar problemas musculares e estruturais, a chupeta pode funcionar como um botão de mudo. O item não deve ser usado para calar um choro. A nossa função é acolher os sentimentos dos nossos filhos, validá-los e ensiná-los por meio de exemplos, acolhimento e palavras. Um pai ou uma mãe coloca a chupeta numa criança quando ela está impaciente, entediada ou triste e acaba não deixando que seus pequenos lidem com os próprios sentimentos, engolindo as palavras, com a boca tampada pela chupeta.

Celular, tablet e TV podem atrasar o desenvolvimento da fala das crianças?

As telas não estimulam a linguagem do bebê! Os estudos mostram que crianças menores de 3 anos não conseguem pegar uma informação assistida numa tela e transpor para a vida real e ainda são privadas de estímulos que realmente têm o potencial de alavancar seu desenvolvimento por estarem absortas nas telas. A recomendação da Academia Americana de Pediatria é zero tela até os 2 anos e até no máximo uma hora de 2 a 5 anos. Para cada 30 minutos a mais diário de tela, existe o aumento de 49% de chances da criança apresentar um atraso expressivo na fala. Decida conscientemente se e quanto de telas suas crianças vão ter acesso e, mais importante, quando vão sentar juntos e interagir, brincar e conversar!

A dificuldade de falar pode ser sinal de algum outro problema?

Existem causas que acarretam em atraso de fala, indo de algo que muitas vezes não se imagina, como perda auditiva parcial até falta de estímulo, encurtamento de frênulo lingual e dificuldades de mastigação. Existem inúmeros fatores que causam atraso de fala. Existem atrasos simples de fala, dos quais a criança se recupera muitas vezes até espontaneamente. Não é porque a criança apresentou um atraso que necessariamente a criança terá um transtorno a partir dali. Mas existe uma porcentagem que terá um transtorno e esse atraso é um sintoma. E dentro dos quadros que dizem respeito à linguagem, o TDL é um que tem grande prevalência. E o autismo também.

Há maneiras de estimular a criança a falar?

Aprender a falar é muito difícil. Quanto mais nós nos esforçamos para entender, mais a criança vai se esforçar para falar. Mas a fala se constrói no diálogo, seja um parceiro do seu filho! A criança precisa gostar de se comunicar e para isso ela precisa de alguém que goste de se comunicar com ela. Ela precisa ser convidada para o universo da linguagem pela dança dialógica. Ela precisa de você! Do seu tempo, da sua atenção e da sua dedicação.

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