Em meio a uma temporada marcada por diversos casos de racismo no futebol italiano, a Lega Calcio, liga que administra e organiza o campeonato nacional, promoveu uma campanha antirracista utilizando obras de arte. Porém, a ação teve o efeito contrário do planejado. O material divulgado na última segunda-feira traz três chimpanzés coloridos acompanhados da frase, "Não ao racismo", e foi duramente criticado.
A polêmica vem menos de três semanas após os clubes da Séria A terem se comprometido a lutar contra o preconceito racial no esporte. Para grupos de combate a discriminação, a atitude da organizadora da competição soou como uma ideia doentia. Apesar de repercutir muito nas redes sociais ao redor do mundo, as pinturas não geraram muitas reações negativas na Itália.
"Mais uma vez, o futebol italiano deixa o mundo sem palavras. É difícil entender o que a Série A estava pensando, quem eles consultaram? Em um país em que as autoridades falham em lidar com o racismo semana após semana, a Série A lançou uma campanha que parece uma piada de mau gosto", declarou Fare Network, entidade que luta contra o preconceito racial, ao site inglês BBC.
A temporada atual tem manchado a imagem do futebol italiano com a ascensão de diversos casos de racismo. Jogadores como os atacantes Romelu Lukaku e Mario Balotelli foram alvos de ofensas racistas por parte das torcidas adversárias em partidas recentes. O brasileiro Dalbert, da Fiorentina, e Kessié, do Milan, também passaram por essa situação nos últimos meses.
No início de dezembro o jornal "Corriere dello Sport" foi criticado por brincar com o termo "Black Friday" ao relacionar a data com uma foto do centroavante belga da Inter de Milão e do zagueiro Chris Smalling, da Roma - os clubes estavam prestes a se enfrentar.
Segundo a Lega Calcio, os quadros do artista Simone Fugazzotto serão expostos de forma permanente em seu hall de entrada com objetivo de "ressaltar o compromisso do mundo do futebol contra todas as formas de discriminação e têm como objetivo espalhar os valores da integração, do multiculturalismo e da irmandade".
O pintor nascido em Milão, famoso por retratar a espécie de macacos na maioria de suas obras, é "conhecido por seu trabalho disruptivo". Ele revelou que tirou a inspiração para os quadros após torcedores da Internazionale proferirem ofensas racistas para o zagueiro senegalês Kalidou Koulibaly durante um confronto, na temporada passada.
"Eu fiquei tão enfurecido que tive uma ideia. Por que não paramos de censurar a palavra 'macaco' no futebol e viramos o conceito de cabeça para baixo e dizemos que no final somos todos macacos? Pois se somos seres humanos, macacos, almas reencarnadas, energia, extraterrestre, quem liga? O importante é afirmarmos um conceito de igualdade e irmandade", afirmou.
Através do Twitter, clubes como Roma e Milan se manifestaram sobre a polêmica. Ambos os times mostraram indignação com o caso.
#ASRoma was very surprised to see what appears to be an anti-racist campaign from Serie A featuring painted monkeys on social media today. We understand the league wants to tackle racism but we don’t believe this is the right way to do it. pic.twitter.com/jVLImrgS0y
— AS Roma English (@ASRomaEN) 16 de dezembro de 2019
L'arte può essere forte, ma siamo in totale disaccordo nell'utilizzare l'immagine delle scimmie come icona per la lotta al razzismo e siamo sorpresi dalla totale carenza di condivisione. @SerieA pic.twitter.com/SMCWi3y7He
— AC Milan (@acmilan) 17 de dezembro de 2019