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'Eu fiquei para ver o Gigante nascer'

Quinta-feira, 12 de agosto de 1948. Dia em que tudo começou. Com 11 para 12 anos, aluno do Instituto Lafayette, na Rua Haddock Lobo, na Tijuca, reuni um pequeno grupo de colegas e os convenci a matar aula para assistir ao lançamento da pedra fundamental no local onde seria erguido o maior estádio de futebol do mundo. Partimos a pé, pegamos a Rua Campos Salles, atravessamos a Mariz e Barros, paramos para merenda na Confeitaria Regina, entramos na Rua Ibituruna e chegamos ao Derby, antigo hipódromo escolhido por estar entre as zonas Norte e Sul. Os colegas quase me bateram porque, para convencê-los, disse que encontraríamos jogadores. Foram embora e fiquei para ver nascer o Gigante sem imaginar que faria parte da minha vida.

Dois anos depois, lá estava eu, desta vez na arquibancada, pronto para assistir a meu primeiro jogo: Brasil x Iugoslávia, pela Copa do Mundo. Não estive na final com o Uruguai. Meu pai não deixou, preocupado com a confusão. De lá para cá, primeiro como torcedor e, mais tarde, como profissional de imprensa, nunca mais nos separamos. Das arquibancadas, vi Zizinho, Ademir Menezes, Jair da Rosa Pinto, Danilo Alvim, Telê, Didi, Castilho, Rubens, Dequinha, Evaristo de Macedo, Nilton Santos, Zagallo... vi os primeiros dribles de Garrincha, os primeiros passos do Rei Pelé. Vi Julinho Botelho calar as vaias do Maracanã lotado no jogo com a Inglaterra, vindas da galera inconformada pela barração de Garrincha, com uma atuação extraordinária, que lhe valeu calorosos aplausos no fim. Vi nascer uma criança nas arquibancadas durante um Flamengo x Vasco. Então repórter, corri para ouvir a mãe e perguntei: 'Menino ou menina?. Ela respondeu: "Não sei. Se for menino, vai se chamar Adílio".

Vi o milésimo gol de Pelé, com o Rei erguido nos braços dos jogadores e o mundo a seus pés. Vi Jayme de Carvalho e sua Charanga. Ramalho, vascaíno, com seu talo de mamão que soprava como se fosse um berrante. Dulce Rosalina, Tarzan, Russão, o Careca do Pó de Arroz tricolor. Geraldinos e Arquibaldos fazendo das tardes de domingo a alegria do Rio. Saudade dessa gente, da geral, Batman, Super-Homem, Hulk, Coringa... Tenho muito orgulho em contar que estive no berçário, vendo o Gigante nascer.