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Em meio à polêmica, terceira empresa abre mão de anúncio durante a Copa América

Após Ambev e Mastercard, Diageo segue o movimento em meio à críticas a realização da competição no Brasil, com registro de mais 477 mil mortes na pandemia de covid-19

A realização da Copa América no Brasil segue como alvo de críticas diante do delicado cenário da pandemia do novo coronavírus no país
A realização da Copa América no Brasil segue como alvo de críticas diante do delicado cenário da pandemia do novo coronavírus no país -
Rio - Após a decisão na quarta-feira da Mastercard e Ambev de não ativar suas marcas na Copa América, torneio no qual elas são patrocinadoras, outras empresas tomaram o mesmo rumo. A Diageo, empresa de bebidas alcoólicas, se manifestou nesta quinta-feira e vai pelo mesmo caminho das outras companhias.

O motivo é a crise sanitária que fez jogadores, torcedores e outras pessoas envolvidas no evento criticarem a realização do torneio neste momento no Brasil, país em que os casos e mortes por covid-19 continuam muito altos.

"A Diageo, líder mundial em bebidas alcoólicas premium, anuncia que irá retirar suas ações de marca no Brasil no âmbito do patrocínio da Copa América, diante da atual situação sanitária brasileira e em respeito ao momento da pandemia de covid-19. Os termos do patrocínio foram acertados quando o evento estava previsto para ser realizado na Colômbia e Argentina. A Diageo reitera seu compromisso com a sociedade observando os protocolos de segurança e ações institucionais que contribuam para a mitigação da pandemia", afirmou a empresa em nota.

O afastamento de importantes patrocinadores ocorre em um momento turbulento da principal competição de seleções na América do Sul Segundo Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports & Marketing, a postura das empresas é inédita.

"Achei um posicionamento extremamente estratégico, nunca tinha visto uma situação como esta. A sacada da Mastercard faz com que outras sigam esse caminho. Não me surpreenderei se isso ocorrer", explica.

As marcas avaliam que se mantivessem as ativações de patrocínio na Copa América poderiam ter suas imagens arranhadas em razão das críticas de boa parte da sociedade civil pela realização da competição no País neste momento.

A Copa América deveria ter sido disputada em 2020, mas por causa da pandemia de covid-19 foi adiada. A realização conjunta entre Colômbia e Argentina rompeu quando o primeiro, por problemas sociais no país, abriu mão de receber as partidas. Foi então que a Argentina também optou por pular fora, por causa da dificuldade em lidar com o coronavírus em seu território.

A partir daí, o Brasil sinalizou que poderia receber, mas em um momento que a pandemia está com números altíssimos por aqui. "O evento vem demonstrando uma insegurança há um certo tempo e o cenário não é favorável à imagem do evento. Quando a gente pensa em evento esportivo, imagina algo alegre, que vai unir os povos, que terá interação. Mas as polêmicas provocam desgastes e o resultado disso é o posicionamento da Mastercard. Ela continua achando a Copa América um baita evento, mas preferiu não se associar neste momento", explica Wolff.

O especialista em marketing lembra que as marcas estão se posicionando cada vez mais, seja de forma natural ou por pressão dos consumidores. "Uma postura como a da Mastercard e agora da Ambev mostra que as empresas não estão muito à vontade com o que está acontecendo. Então elas se posicionam de forma estratégica, mas também existe um marketing por trás disso, pois as pessoas enxergam os valores da empresa."

Procuradas pelo Estadão, outras empresas como Kwai, TCL e Betsson, que patrocinam a Copa América ou estão próximas de fechar contrato, ainda não se manifestaram.

MAIS POLÊMICAS - A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) encaminhou na segunda-feira, 7, ofício para que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Estados e municípios sedes de jogos da Copa América sejam investigados por eventuais "atos violadores dos direitos à vida e à saúde". Também serão alvos do Ministério Público Federal o SBT e a Disney, responsáveis pela transmissão dos jogos, além de algumas patrocinadoras.

Os procuradores alegam que a realização da Copa América no Brasil não tem garantias de que não haverá alta transmissibilidade e também que o evento colocará em risco a saúde dos funcionários ligados à competição - jogadores, comissão técnica, jornalistas, seguranças e serviços auxiliares. Para piorar o cenário, nesta quinta, 10, o Supremo Tribunal Federal fará uma sessão virtual extraordinária para discutir uma eventual suspensão da realização da competição.

E tudo isso ocorre em um momento de tensão na CBF. O presidente, Rogério Caboclo, está afastado por 30 dias do cargo para se defender da acusação de assédio moral e sexual por uma funcionária da entidade. Ele foi o principal articulador da vinda da Copa América para o Brasil junto à Conmebol e ao governo federal - o presidente Jair Bolsonaro está dando total apoio à realização do torneio no País.

A Copa América tem início agendado para domingo. Em Brasília, no estádio Mané Garrincha, às 18h, a seleção brasileira enfrenta a Venezuela, pelo Grupo B. No mesmo dia, às 21h, Colômbia e Equador duelarão na Arena Pantanal, em Cuiabá. Em 14 de junho, será a vez da Argentina começar sua jornada na competição, enfrentando o Chile, no Engenhão, às 18h. Mais tarde, às 21h, Paraguai e Bolívia jogam em Goiânia. A final do torneio está marcada para 10 de julho, no Maracanã.