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Na Rússia, Lucas Santos fala sobre racismo: 'não posso ficar alienado enquanto matam negros e pobres'

O jogador criado na base do Gigante da Colina falou também sobre a violência das favelas cariocas

Lucas Santos em campo pelo CSKA Moscou
Lucas Santos em campo pelo CSKA Moscou -
Formado na base no Vasco, Lucas Santos está se aventurando na Rússia, no CSKA Moscou, onde tem contrato de empréstimo até o fim deste ano. Porém, apesar da distância continental para o Rio de Janeiro, o melhor jogador da Copinha de 2019 pelo Gigante da Colina não se desligou dos acontecimentos nas favelas cariocas. Nascido e criado na comunidade Para-Pedro, em Irajá, o garoto de 20 anos deu uma entrevista ao jornal "El País" sobre o racismo que atinge a população negra e pobre do Brasil. 
"Saí da favela, mas não posso me dar ao luxo de ficar alienado enquanto matam negros e pobres". 
O atleta afirmou conhecer Kelvin Cavalcante, mototaxista que foi morto durante uma operação policial na favela onde o meia passou boa parte de sua vida. Ele afirmou que o fato de muitos negros morrerem em situações de violência no Rio não é coincidência.
"Eu conhecia o Kelvin, um moleque do bem. A morte dele me deixou revoltado. Poderia ter acontecido comigo ou com algum familiar. Dizem que é por engano, mas morrem cada vez mais pessoas negras e pobres nas favelas. Cada vez mais o Rio é um lugar medonho para se viver, apesar das belezas naturais", opinou.
O jovem também falou sobre a influência que o estudo sobre líderes do movimento negro e personalidades históricas, como Martin Luther King, Nelson Mandela e Zumbi dos Palmares tiveram em relação a sua postura com atos de racismo que sofria durante seu crescimento.
"Eu achava que ser chamado de ‘macaco’ ou ‘pretinho’ era uma brincadeira. Meus pais me diziam que isso não era certo, mas só entendi o que significa racismo ao descobrir a história desses líderes negros.”
O Vasco, clube que o revelou para o esporte, é marcado pelo pioneirismo em incluir negros na prática do futebol no país. No momento, o plano de Lucas é continuar na Europa, porém caso os russos não exerçam seu poder de compra ao fim do período de empréstimo, ele se diz animado para voltar à São Januário e marcar seu nome na história do Cruz-Maltino. 
"Para mim, a história do Vasco, que contribuiu para a inclusão de negros e pobres, é muito inspiradora. Espero ter a oportunidade de voltar e me tornar mais um ídolo negro do clube.', concluiu. 
O contrato de Lucas com o CSKA Moscou vai até o fim de dezembro, mas o treinador da equipe já sinalizou o interesse em estender seu vínculo. Se quiser contar com o jogador em definitivo, o time precisará desembolsar os cerca de 4,8 milhões de euros estipulados pelos cariocas, por 62% de seus direitos econômicos.