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Presos no caso Marielle podem fazer delação premiada, diz Witzel

Sem revelar mandantes e motivação do crime, delegado Giniton Lages, da DH, ressaltou a complexidade do caso por falta de testemunhas

Por Antonio Puga

Publicado em 12/03/2019 15:17:00 Atualizado em 12/03/2019 15:17:23
Governador Wilson Witzel trabalhará em 2020 com um déficit orçamentário de pouco mais de R$ 10 bi

O governador Wilson Witzel disse nesta terça-feira que os presos acusados de envolvimento na morte de Marielle Franco e Anderson Gomes podem realizar delação premiada. "A Lava Jato demonstra que investigações têm que ser fragmentadas para que resultados apareçam e outros crimes sejam investigados. Esses presos podem participar de delações premiadas", afirma.

O governador disse que a morte da vereadora é inaceitável, como qualquer outra, mas ressaltou que ela exercia atividade parlamentar.

"A polícia gostaria de ter elucidado o caso no prazo que o processo penal determina de 30 dias. Mas, infelizmente a Polícia Civil do Rio foi sucateada por décadas com deficiência de homens e material. Apesar das dificuldades, delegados como Giniton, fazem a diferença", disse.

Delegado titular da Delegacia de Homicídios da Capital, Giniton Lages reforçou que a elucidação do caso é prioridade para a Polícia Civil e que a investigação continuará. "O caso Marielle e Anderson é emblemático. O Brasil será cobrado enquanto não terminarmos o trabalho por completo. Estamos indicando quem ocupou o veículo: quem dirigiu e quem atirou", disse.

Giniton disse que a prisão do sargento da PM reformado Ronnie Lessa e do ex-PM Elcio Vieira de Queiroz concluiu a primeira fase da investigação da morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, que completa um ano na quinta-feira.

O delegado Giniton, o secretário da Polícia Civil, Marcus Vinícius Braga, e o governador Wilson Witzel participaram de entrevista coletiva de imprensa no Palácio Guanabara para apresentar elementos da investigação como imagens coletadas, dificuldades do processo e o passo a passo dos criminosos.

Giniton disse considerar a possibilidade da presença de um terceiro comparsa no carro. Sobre a placa do veículo, ele afirmou que a investigação está sob sigilo e não que há indicação sobre a origem do veículo: "Pode ser roubado, furtado, regular ou locado", pontuou.

O sargento Lessa mora no mesmo condomínio em que Bolsonaro tem uma casa, em frente à Praia da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Perguntado sobre isso, o delegado Giniton Lages afirmou que o fato não é relevante para o caso. A foto atribuída ao ex-PM Elcio de Vieira Queiroz, suspeito de dirigir o veículo usado na execução, abraçado ao presidente também não relaciona Bolsonaro ao caso, disse o delegado.

Queiroz, de 46 anos, teria postado a imagem em que aparece lado a lado com o Bolsonaro no último dia 4 de outubro, às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial. Dias antes, em 25 de setembro, o mesmo perfil postou uma gravação de um show de Paulo Ricardo com a legenda "Homenagem de Paulo Ricardo (RPM) ao Capitão Bolsonaro!".

Siciliano e Curicica

O delegado também informou que uma testemunha procurou a Polícia Civil para mudar seu depoimento sobre a investigação que aponta o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o miliciano Orlando Curicica como mandantes do crime. Em maio de 2018, o ex-PM Rodrigo Jorge Ferreira procurou a polícia para dizer que ouviu os dois, em junho de 2017, xingando e criticando Marielle em um restaurante. Giniton disse que o delator vai "arcar com todas as consequências". 

Crime sofisticado

Giniton ressaltou a complexidade do caso por falta de testemunhas. Os três criminosos que estiveram no local do crime, no Estácio, na Zona Central, não deixaram o carro.

"Os autores do crime permaneceram por duas horas dentro do veículo enquanto esperavam Marielle sair da Casa das Pretas. Isso não é simples, chamou a atenção de cara. Durante a execução eles também não desceram do veículo. A dinâmica demonstrava que o crime foge à regra", disse.

O delegado lembrou que 80% dos crimes elucidados no Brasil contam com o apoio de testemunhas, o que não aconteceu neste caso. "Há uma sofisticação. Os disparos alojados em veículos em movimento mostram que o atirador é diferenciado", disse.

Giniton defendeu o sigilo de investigações e criticou a ação de repórteres que publicaram informações obtidas através de policiais: "Não entenderam importância do sigilo". "Perdemos quando um jornalista disse que a arma era uma MP5", ilustrou. O delegado Giniton Lages agradeceu ao secretário da Polícia Civil e ao governador Wilson Witzel por terem mantido a estrutura da investigação do caso, que conta com 47 policiais exclusivos.

Câmeras desligadas

O delegado também comentou o desligamento de cinco câmeras de segurança no trajeto de Anderson e Marielle entre 24 e 48 horas antes do assassinato. Ele classificou a versão de que os equipamentos foram desligados para dificultar a investigação como teoria da conspiração. "Algumas especulações foram colocadas. Uma é a questão de que o crime contou com alguém dentro do Centro Integrado do Comando e Controle (CICC) que teria desligado as câmeras. Isso foi saneado nos autos. Não há isso", declarou. Ele acrescentou que as câmeras não ajudariam na elucidação do crime caso estivessem funcionando: "serviam ao trânsito".

Witzel aproveitou para dizer que vai abrir concurso para delegado e policiais civis para reforçar segurança, além de abrir duas delegacias de homicídio, uma no Norte e outra no Sul do estado.