O drama é feminino
Estudo revela que o acesso a água e esgoto tiraria imediatamente 635 mil mulheres da pobreza, a maior parte delas negras e jovens
Por MH
Publicado em 27/07/2019 23:00:00 Atualizado em 27/07/2019 23:00:00A falta de saneamento básico compromete a vida da população. O impacto, porém, é ainda maior para a mulher negra e pobre. Essa é uma das conclusões do estudo inédito 'O saneamento e a vida da mulher brasileira', do Instituto Trata Brasil, em parceria com a BRK Ambiental. O levantamento, lançado no início do ano, revelou que o acesso a água e esgoto tiraria, imediatamente, 635 mil mulheres da pobreza, a maior parte negras e jovens. De acordo com a pesquisa, há no país 27 milhões de mulheres — uma em cada quatro, do total de 104,772 milhões — que não têm acesso adequado à infraestrutura sanitária. O saneamento é variável determinante em saúde, educação, renda e bem-estar.
Moradora do bairro Grande Rio, em São João de Meriti, na Baixada, município que, de acordo com o estudo, tem 0% de esgoto tratado, Maiara Souza, de 31 anos, vive com os cinco filhos na mesma rua onde há um valão com esgoto a céu aberto. Ela diz que, além do cheiro ruim, o local atrai ratos e baratas para casas vizinhas. "Fico preocupada com os meus filhos brincando na rua. Os meninos caem no valão quando jogam bola", lamentou.
A aposentada Cleonice Mota, 66 anos, mora na mesma rua de Maiara. Ela lembrou que, em dias de chuva, o esgoto transborda e até os cachorros caem no valão: "As pessoas de outros lugares jogam lixo e animais mortos lá. Gostaria de me mudar".
Segundo o economista Fernando Garcia de Freitas, responsável pelo levantamento, as mulheres sofrem mais com a falta de saneamento do que os homens. Ele lembra que doenças como diarreias, vômitos, leptospirose e dengue são transmitidas por ausência de água tratada e esgoto coletado. A pesquisa mostrou que, em 2016, as internações no SUS, em razão de diarreia ou vômito, entre mulheres, foram 1.970 no estado do Rio, sendo 903 na região metropolitana. Já o número de óbitos deviso aos problemas somou 17 no estado, sete na região metropolitana no mesmo período. Segundo Freitas, a incidência é maior entre as mulheres porque elas estão mais expostas. "Ficam mais tempo em casa. Se há esgoto a céu aberto ao lado da residência, ela está mais suscetível".