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Psicóloga alerta para que solidão durante quarentena não evolua para pânico ou depressão

Paula Lessa Muniz analisa consequências psicológicas do isolamento e aponta alternativas

Especialista sugere cursos on-line, organização da casa, leituras diversas, meditação e ligação para entes queridos
Especialista sugere cursos on-line, organização da casa, leituras diversas, meditação e ligação para entes queridos -
Tão falado quanto o coronavírus nas últimas semanas, o isolamento social pode representar um grande problema sob vários aspectos. O mais discutido deles é o real agravamento da crise econômica em consequência da paralisação dos setores produtivos da sociedade. Mas, a questão não envolve só isso. A privação da liberdade individual é, por si só, um estorvo psicológico para muita gente, dificultando inclusive a busca por atividades alternativas que traga bem-estar e paz.
"O homem necessita do contato social, então só o confinamento já é difícil, mesmo com recursos financeiros. Agora imagine para os brasileiros, que possuem uma cultura muito afetiva e sociável, serem privados do toque. Se o isolamento for vivenciado sem certos cuidados, a ansiedade decorrente dele evolui para uma crise de pânico. Há uma forte possibilidade, inclusive, de surtos psicóticos em pessoas com quadro anterior de internação psiquiátrica. A solidão pode trazer depressão, por privar a pessoa dos seus prazeres e das suas relações de rotina, com um grande perigo de se atentar contra a própria vida. É preciso, portanto, ver o momento como uma oportunidade de se reinventar, e não como uma punição", explica a psicóloga Paula Lessa Muniz, mestra em Saúde Coletiva e especialista em Psicanálise e Laço Social, ambas as formações pela UFF. 
Paula alerta para outra vertente: a histeria coletiva, a qual chama de "paranoia-vírus", reforçada pelo turbilhão de notícias negativas.
"Além do risco do coronavírus, que é significativo e requer cuidados, há ainda o perigo da iminência de ansiedade e desespero em função do volume de reportagens nada promissoras sobre a pandemia. Dependendo da pessoa, pode até achar que se trata do fim do mundo. E alimentar a crença alheia com brincadeiras de mau gosto pode causar danos psíquicos negativos no outro, além do já previsto pelo isolamento. Mas este é apenas um momento de paralisação e adequação, para que tudo volte ao normal com o tempo. Cuidados com a higiene são tão essenciais quanto buscar leituras positivas de um modo geral, e não só informações sobre a pandemia, inclusive porque muitas delas não têm fontes confiáveis. Não repliquem notícias trágicas que possam ser falsas e causar sofrimento", observa a psicóloga com atuação na área da saúde mental pública e docência em ensino superior, cujo instagram é @paulalessamuniz. 
A especialista orienta aos cidadãos mais preocupados com a doença que não procurem os hospitais se não tiverem os sintomas, que são febre alta, coriza intermitente e falta de ar. E aponta alternativas para que este período tão delicado seja, enfim, produtivo.
"As unidades de saúde já estão cheias de ocorrências e agora recebendo também os doentes com suspeita de coronavírus. Então, se você não possui sinais de Covid-19, não vá. Aproveite esse tempo e tente organizar sua vida e as coisas que necessitam de sua atenção. Pense no isolamento como prática de resiliência, perguntando para si o que pode aprender estando mais em casa. Cuide de si mesmo, realizando ou finalizando projetos desejados e ainda não executados. Use a internet para iniciar um curso on-line, assistir a tutoriais, desenvolver uma atividade artística, incluindo jardinagem ou costura, por exemplo. Ah, e procure falar por telefone com as pessoas de quem você gosta, principalmente idosos da família, pois sentir-se amado será ótimo para a saúde mental delas e a sua. Atividades físicas tranquilas, como alongamento, ioga e meditação, também são excelentes passatempos para o corpo e a mente. Esta é a hora de se dedicar a si e aos seus", aconselha ela, que é supervisora clínica do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) das Faculdades Integradas Maria Thereza (Famath) desde 2015.