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Sem serviço, diaristas encontram dificuldade para alimentar família: 'você se vê sem chão'

Classe das diaristas foi uma das primeiras abaladas pela quarentena

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Rio - Elisabete Silva bateu dois cocos no liquidificador, tirou deles o leite e fez a mamadeira do neto. Era tudo o que tinha na geladeira. "Você se vê sem chão", desabafa a diarista, sem trabalhar há três semanas. Os serviços de Elisabete e de outras tantas diaristas foram suspensos com a quarentena. Sem as diárias, não encontram solução para pôr comida na mesa da família, já que muitas são responsáveis pela principal renda da casa. 
"As patroas fecharam as portas. Cobro R$ 130 na faxina. Sempre pego o dinheiro e vou ao mercado. Mesmo com dificuldade, nunca faltou nada. Agora é diferente. Não estou acostumada a lidar", diz Elisabete, que mora no Morro de São Carlos, no Centro, com a filha, o neto e uma amiga que passa temporada. "A realidade para a gente da comunidade está sendo muito difícil. Teve distribuição de cesta básica, mas não consegui pegar. Nem nos programas do governo estou conseguindo. Aqui tem Internet wi-fi, mas toda hora cai. Nunca vivi nada parecido", completa.
O aperto também bateu na porta de Ana Paula Maia, moradora de Campo Grande. A diarista completou 30 dias sem um serviço. Os pagamentos minguaram, mas as contas se amontoam debaixo da porta. "Todo mundo cancelou. Eu tenho três casas fixas. Uma sumiu, nunca mais deu notícia. As outras depositaram duas diárias sem eu ir trabalhar, mas pararam também. Hoje (ontem), que eu consegui fazer um serviço. Tinha completado um mês parada", lamenta Ana Paula, que mora com dois filhos adolescentes. Sem as aulas, ambos passam mais tempo em casa, e, assim, consomem mais. "Já estava apertado porque eu pago aluguel. Começou o mês, aí que piorou a situação mesmo. A minha luz foi cortada no começo de março".
Federação de Domésticas pede fundo emergencial
Rosilene Gonçalves era arrimo de família. Antes da pandemia, costumava trabalhar em duas casas por dia. Mas não é chamada para nada há duas semanas. "Meu esposo está desempregado e quem assumiu a casa fui eu com essas diárias, que agora acabaram. Todo pobre faz contas. E elas chegam. Parou tudo, mas as contas não param de chegar", conta.
A Federação Nacional das Trabalhadores Domésticas (Fenatrad) criou um abaixo-assinado para pressionar o poder público a dar soluções emergenciais às diaristas e empregadas domésticas que estão sem trabalhar. A entidade pede "para que seja criado um fundo emergencial para as trabalhadoras domésticas que se encontrem demitidas ou na impossibilidade de trabalhar por causa da crise da Covid-19". A federação também pede que os patrões garantam todos os cuidados de higiene aos funcionários que continuam trabalhando e lembra que uma das primeiras vítimas do coronavírus no Rio de Janeiro foi uma empregada doméstica que contratiu a Covid-19 dos patrões, em Miguel Pereira, Centro Sul do estado.
Elisabete, além de estar sem trabalho, sofre por ser diabética e fazer parte do grupo de risco ARQUIVO PESSOAL
Rosilene Gonçalves é arrimo de família. Antes da pandemia, atendia duas casas por dia ARQUIVO PESSOAL
Diarista, Ana Paula tem encontrado dificuldade para pagar as contas ARQUIVO PESSOAL
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