Mesmo com ordem judicial pacientes morrem à espera de transferência
Segundo Defensoria Pública, cinco pessoas faleceram enquanto aguardavam leitos de terapia intensiva
Por Renan Schuindt
Publicado em 25/04/2020 00:00:00 Atualizado em 25/04/2020 00:00:00Pelo menos cinco pessoas já faleceram enquanto aguardavam transferência para leitos de terapia intensiva na capital. A informação é da Defensoria Pública do Rio de Janeiro. A constatação, apenas confirma o que já vem sendo denunciado: a falta de acesso ao leito colabora com o agravamento do quadro de saúde além de aumentar as chances de óbito. Dada a urgente necessidade de novos leitos, o Hospital de Campanha Lagoa Barra, construído pela iniciativa privada, abrirá suas portas hoje para pacientes com a covid-19.
De acordo com a coordenadora de Saúde e Tutela Coletiva da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Alessandra Nascimento, a dificuldade de internação é tão grande que as famílias não têm conseguido vaga nem mesmo com ordem judicial. "Infelizmente, a falta de leitos levou à morte de cinco pessoas. Elas sequer, tiveram tempo de conseguir transferência para uma unidade de referência", afirma.
Segundo a defensora, a demora tem sido uma constante na vida dos fluminenses. Em média, cada solicitação pode levar até três dias para ter resposta. "É um tempo muito menor se comparado aos pedidos para outras doenças. Porém, a necessidade é de extrema urgência. Foram prometidos 4 mil leitos. Onde estão? Se este número tivesse sido cumprido, agora o sistema não estaria sobrecarregado", diz Alessandra.
Em um mês, a Defensoria Pública já contabiliza 45 ações judiciais. Todas são relacionadas a pedidos de transferência de pacientes com covid-19, internadas inicialmente em Unidades de Pronto Atendimento (UPA) na cidade do Rio. "As UPA's não têm condições de manter pacientes em estado grave. Não há estrutura para isso. A sala vermelha não tem espaço. Os pacientes com outras doenças correm risco de serem contaminados por dividir o mesmo local com aqueles que foram infectados pelo coronavírus. Não tem como praticar um isolamento em segurança", afirma a defensora.
Ainda de acordo com Alessandra, o pico de ações judiciais desta natureza aconteceu nos dois últimos dias. Somente na última quinta-feira, foram 12 pedidos. O levantamento também inclui ações movidas contra planos de saúde, que se negam a prestar cobertura para internação em casos confirmados da covid-19.