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Vaquinha virtual está ajudando catadores de materiais recicláveis

Objetivo é amenizar os impactos sofridos por 72 famílias de catadores do Rio

Por Rachel Siston*

Publicado em 27/04/2020 00:00:00 Atualizado em 27/04/2020 07:46:56
Rio,06/04/2020-COVID-19-CORONA VIRUS,CASCADURA, Rede Recicla, Catadores de materiais reciclaveis.Na foto.Wilson Cunha,porduz sabao e detergente com oleo de cozinha usado.Foto: Cleber Mendes/Agência O Dia
A pandemia de Covid-19 não foi a única a tirar o sono dos catadores de materiais recicláveis do Rio, que tiveram que paralisar suas atividades desde o início do isolamento social, devido ao risco de contaminação, uma vez que a triagem dos materiais é manual. Além de não poderem realizar a coleta, os trabalhadores também não conseguem vender os materiais que já haviam sido recolhidos.
Para amenizar os impactos sofridos por 72 famílias de catadores do Rio, a organização Visões da Terra, consultoria em sustentabilidade que presta apoio técnico a cooperativas de catadores, iniciou uma campanha de financiamento coletivo, para garantir renda emergencial de R$ 100 para cada catador.
As doações serão integralmente repassadas às 19 cooperativas que têm o apoio da Visões da Terra, cinco delas no Rio de Janeiro (duas no Jardim Gramacho, em Duque de Caxias; uma Cascadura; uma na Ilha do Governador; e outra em Niteroi). A campanha nacional já arrecadou R$ 19.278, mas o objetivo é conseguir R$ 115.600. Para contribuir, basta acessar www.vakinha.com.br/vaquinha/renda-minima-para-352-catadores. Doações de cestas básicas também são aceitas através das redes sociais da Visões da Terra.
Parte do dinheiro arrecadado já foi entregue para alguns catadores que não receberam o auxílio do governo. Segundo a ONG, muitos deles ainda estão esperando algum retorno. "A nossa maior preocupação é fazer com que os catadores sobrevivam e possam levar comida para suas casas, enquanto os projetos de lei para a renda da população não são aprovados. O tempo das leis é diferente do tempo da fome", afirmou a sócia da organização, Oriana Rey.

Catador há 20 anos, Luiz Carlos Santiago, de 65 anos, conta que nunca passou por uma situação como a que enfrenta agora, e teme a incerteza sobre o futuro. Para ele, a ajuda da vaquinha virtual é um alívio em meio aos dias de sofrimento. “A gente não pode produzir e os compradores não pedem o que já temos. Nossa situação é difícil, é um momento muito incerto. Graças a Deus existem pessoas solidárias que nos ajudam com essa vaquinha, que já dá para comprar alguma coisa para comer, um gás, até a gente conseguir ajuda do governo.”

Trabalhando com a reciclagem de óleo de cozinha para produção de sabão há dois anos, o catador Wilson da Cunha, 54, relata que recorria a uma segunda fonte de renda que também foi afetada pelo novo coronavírus: motorista de aplicativo. Agora, o dinheiro que ganha da campanha é a única garantia de conseguir se alimentar.

“As vendas pararam e no aplicativo eu fico o dia inteiro e não consigo nada. Estamos atrás de doações. Hoje, ganhei o dinheiro da vaquinha, já dá para garantir uma mistura. Mas, antes de acabar, a gente já tem que pensar em como vai conseguir mais. A gente está vivendo um momento único, que as gerações mais velhas não passaram.”
Associação cria auxílio
Enquanto a vaquinha virtual continua arrecadando fundos para ajudar os catadores e o auxílio emergencial do governo não sai, a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) colocou a mão na massa e planejou um benefício de R$ 600 para os profissionais que estão sem trabalhar. O valor será dividido em duas parcelas (uma paga em abril e a outra em maio). Somente aqui no Rio, segundo a instituição, 79 catadores e suas famílias recebem a ajuda. Três das cooperativas assistidas já receberam a primeira parcela e as outras duas pegam o benefício essa semana. Em maio será paga a segunda. O valor arrecadado na vakinha online vai ser dividido com as famílias que estão com mais problemas financeiros.
*Estagiária sob supervisão de Karina Fernandes