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Chacina de Acari completa 30 anos em cenário crescente de mortes de jovens
'As Mães de Acari nunca encontraram os corpos de seus filhos, mas seu exemplo encorajou muitas outras mães', diz fundadora do Movimento Moleque
Por Yuri Eiras
Publicado em 26/07/2020 05:00:00 Atualizado em 26/07/2020 05:00:00As mães de jovens mortos pela violência policial fazem barulho mesmo em silêncio. Elas carregam cartazes com o rosto do filho, blusas com estampa de 'saudade eterna', camisetas manchadas de sangue. Em 26 de julho de 1990, 11 jovens moradores da favela de Acari foram assassinados em um sítio em Magé por policiais que atuavam em grupos de extermínio da Baixada Fluminense. O movimento Mães de Acari, que na época lutava para encontrar os corpos dos jovens, nunca localizados, completa 30 anos com um triste cenário: as mortes violentas de crianças e adolescentes ainda estampam as manchetes, dando vida à outras redes de mães.
Mônica Cunha criou o Movimento Moleque após a morte de seu filho Rafael Cunha, em dezembro de 2006, aos 20 anos. "As Mães de Acari nunca encontraram os corpos de seus filhos, mas seu exemplo encorajou muitas outras mães a se juntar na luta. Hoje estamos organizadas em uma rede nacional de familiares, cujo protagonismo se dá pelas mães, reunindo movimentos e coletivos de todo o país, com articulações nacionais e internacionais", afirma Mônica.
"O impacto da mobilização destas mulheres foi tanto, que tentaram, de muitas formas, silenciá-las. Desacreditá-las foi uma delas, inclusive utilizando a expressão 'mães de bandido' para deslegitimar o que reivindicavam, mas nada foi capaz de pará-las. Nem mesmo a execução de Edméia, uma das lideranças do grupo", lembra, em referência a Edméia da Silva, assassinada na estação de metrô da Praça Onze em 1993. Ela havia saído do presídio Frei Caneca momentos antes, em buca de informações sobre o paradeiro do corpo do filho, Luís Henrique, de 16 anos.