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Um ano após a morte da pequena Ágatha no Alemão, mãe da menina pede justiça

'Ágatha é minha razão. Eu vivia pra ela, mas hoje eu vivo por ela', desabafou ela

Mãe de Ágatha, Vanessa Francisco desabafou: 'Foi um dia de muita emoção para mim'
Mãe de Ágatha, Vanessa Francisco desabafou: 'Foi um dia de muita emoção para mim' -

Um ano após a morte de Ágatha Vitória Felix, de 8 anos, atingida por tiro de fuzil nas costas quando voltava para casa com a mãe numa Kombi no Complexo do Alemão, na Zona Norte, a mãe da menina, Vanessa Francisco, se emocionou no ato que fez para a filha em uma live no Instagram, ontem. No Dia Internacional da Paz, ela pediu por justiça.

"Hoje, eu sobrevivi. Completou um ano da partida da Ágatha. Ela foi executada por um policial aqui no Complexo do Alemão. E eu, como mãe, não poderia deixar esse dia passar em branco. Com meu coração repleto de dor e saudade, grito por justiça", começou Vanessa. "Hoje foi um dia de muita emoção para mim. Ao falar de Ágatha, eu me emociono", continuou.

A cada palavra de Vanessa sobre a filha, lágrimas corriam em seus olhos. "Uma menina sonhadora, de 8 anos, fazia balé", afirmou ela, que falou sobre a reviravolta em sua vida após a morte de Ágatha. "Não quero e não tentem se colocar no meu lugar. É uma reviravolta que eu não desejo a ninguém", disse a mãe da menina, que desabafou: "Ágatha é minha razão. Eu vivia pra ela, mas hoje eu vivo por ela".

Em vários momentos, Vanessa exaltou a menina. "É meu prazer falar da Ágatha. Tão pequena e tão valiosa", contou ela. "A gente vai vivendo até nos reencontrarmos novamente, essa é a minha esperança", acrescentou.

No fim da live, Vanessa ressaltou: "O Estado não me prestou nenhuma assistência. A Defensoria Pública entrou para pedir meus direitos. Pedi e quero tudo. Não vai trazer minha filha de volta, mas pedi tudo!".

 

Ágatha Félix, de 8 anos, foi morta em setembro de 2019, no Complexo do Alemão - Arquivo Pessoal

Em um ano, 28 crianças foram baleadas no Rio

De acordo com levantamento feito pelo Fogo Cruzado, após a morte de Ágatha, em um ano, outras 28 crianças foram baleadas no Rio. Oito morreram. Sendo que 21 crianças foram vítimas de balas perdidas.

Ainda segundo a pesquisa, nove crianças (seis no Rio, duas em São João de Meriti e uma em São Gonçalo) foram baleadas em situações em que havia a presença de agentes de segurança e duas delas morreram. O Rio foi o município com o maior número de crianças baleadas no período: foram 14, quatro morreram.
Dados levantados pelo Fogo Cruzado também mostraram que, só neste ano, 28 adolescentes foram baleados na Região Metropolitana do Rio e 12 deles acabaram morrendo. No mesmo período do ano passado, foram 70 baleados e 43 deles morreram. Isso representa uma queda de 60% nos números.
 
Audiência em novembro
 
No caso de Ágatha, o policial acusado do crime continua na PM realizando trabalhos internos. O cabo Rodrigo José de Matos Soares é réu e tem a primeira audiência marcada para o dia 26 de novembro, quando serão ouvidas as testemunhas. "O policial respondeu ao Inquérito Policial Militar (IPM), que ao término foi remetido ao Ministério Público e à Auditoria de Justiça Militar. Ele responde na Justiça Comum por crime de homicídio qualificado, cujo processo tramita na 1ª Vara Criminal da Capital do Tribunal de Justiça", disse a assessoria da Secretaria de Estado de Polícia Militar em nota.
 
Queda de 74,3%
 
Segundo a Anistia Internacional Brasil (AIB), desde 5 de junho deste ano, quando uma decisão liminar suspendeu as operações policiais em favelas do Rio, até agosto, foi possível perceber uma queda de 74,3% nos números de homicídios cometidos pela polícia. De acordo com a entidade, no mesmo período do ano passado, foram 521 mortos, contra 134 entre junho e agosto de 2020. "As vidas de Ágatha e de muitas outras crianças poderiam ter sido poupadas, caso o Estado pautasse suas ações com o respeito aos direitos humanos e à proteção da vida", afirmou Jurema Werneck, diretora executiva da AIB.

 

Mãe de Ágatha, Vanessa Francisco desabafou: 'Foi um dia de muita emoção para mim' reprodução de vídeo
Ágatha Félix, de 8 anos, foi morta em setembro de 2019, no Complexo do Alemão Arquivo Pessoal