Depois de meio ano de quarentena e quase dois meses de retorno dos ambulantes às areias, o vendedor de mate, Luiz Cláudio de Souza, 50, que já trabalha na praia há mais de 24 anos, voltou a ter esperança. Com o clima quente das últimas semanas, segundo o camelô, os cariocas voltaram a movimentar mais as areias e os acenos para o tradicional grito, em Copacabana, na Zona Sul: "Ó o mate!", também retornaram.
"Temos que ter esperança de dias melhores. Acho que é isso que precisa nos mover. Estou nessa luta desde os 26 anos e nunca passei por uma crise tão séria quanto essa. Acho que ninguém, né? Mas aos poucos as coisas têm melhorado. Ainda não como era antes da pandemia, mas já aumentou bastante", conta Luiz Cláudio, que mora em Brás de Pina, na Zona Norte.
Ciente do momento ainda perigoso de pandemia, que até sexta-feira já havia vitimado 18.665 pessoas, o ambulante conta os cuidados que toma para preservar os clientes e a si mesmo. "Sempre de máscara. Só tiro quando preciso falar com alguém a distância e essa pessoa não está me entendendo", explica.
O álcool gel também faz parte do processo, mas, no entanto, ele lamenta que poucos clientes tem pedido e até aceitado o antisséptico. "As pessoas já não fazem mais questão".
O vendedor de quentinhas Andrei da Silva, de 39, também viu melhora na procura pelos seus pratos no último mês. "Estamos voltando aos poucos a vender o suficiente para pagar as contas, bancar o aluguel e todas as despesas", diz.
Morador de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, ele conta que o tempeiro de comida caseira, a qualidade, baixo valor e o bom atendimento mantiveram a clientela necessária para ele se sustentar durante a pandemia. "De abril até agosto o número não passava de 20, em média. Já estou quase voltando a esse antigo número", afirma.
Se há melhora no movimento para quem trabalha com bebidas e alimentos, a situação da colombiana Ana Rico, de 25 anos, que vende máscaras e protetores faciais, tem piorado. "As pessoas já não respeitam tanto a obrigação do uso de máscaras. Antes chegava a vender de 10 a 20 unidades ao dia, mas agora não chega a cinco", diz.
Embora o movimento seja positivo para os ambulantes, a etapa atual do plano de flexibilização da Prefeitura do Rio ainda não permite a permanência de banhistas na faixa de areia. Apenas a prática esportiva individual ou coletiva e o banho de mar estão liberados.
Guarda-sol e cadeira na areia
Ontem, foram flagradas diversas infrações nas praias da Zona Sul. Entre elas o aluguel de cadeiras e guarda-sóis. Na altura do Posto 9, em Ipanema, a quantidade de cadeiras alugadas por um barraqueiro chamava atenção. A cena se repetia no Leblon, Copacabana e Leme. Apesar do sol tímido, o dia abafado e quente atraiu bom número de banhistas. Para disfarçar o serviço, barraqueiros reduziram a estrutura montada para atender aos clientes. Questionada sobre as infrações, a Guarda Municipal informou que patrulha e fiscaliza diariamente as infrações sanitárias em toda a orla da cidade. Desde julho, 354 ambulantes foram fiscalizados.