Rio - Dona Solange da Conceição, 57 anos, soube da morte do irmão Marcos Paulo Luiz, 39, na tarde desta terça-feira. Ela conta que ouviu dos médicos que não podiam fazer nada pelo irmão dela. O paciente estava sendo colocado na ambulância para ser transferido para outra unidade de saúde quando morreu. Ele é uma das três vítimas fatais do incêndio do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), na Zona Norte do Rio.
De acordo com Solange, o irmão estava internado há mais de 20 dias por conta de uma bactéria. Após quatro dias internado, ele precisou ser colocado no respirador e assim ficou por 16 dias. "A gente tinha opções de outros hospitais, mas decidimos trazer o meu irmão para este porque sempre ouvimos que era uma referência em atendimento. É muito revoltante tudo isso que está acontecendo. Um descaso total. Eu queria tirar o meu irmão vivo daqui, não dentro de um caixão", lamenta a irmã da vítima.
Marcos deixa cinco filhos ainda jovens. Ele, que morava em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, ficou viúvo no início deste ano. Segundo a dona Solange, o Marcos perdeu a esposa no início deste ano. "Ele estava fazendo o papel duplo, de pai e mãe. Meu irmão era uma pessoa muito dedicada aos filhos", conta. A irmã descreve Marcos como um homem trabalhador. Antes de ficar doente, ele prestava serviço como garçom.
O enterro de Marcos será nesta quinta-feira, às 13h, no Cemitério de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense.
Pacientes ainda aguardam transferência
Onze pacientes ainda aguardam transferência para outras unidades de saúde após o incêndio que atingiu o Hospital Federal de Bonsucesso. De acordo com o Ministério da Saúde, outros 179 pacientes já foram remanejados, 37 receberam alta e outros três morreram.
Além de Marcos Paulo Luiz, também faleceu uma senhora de 83 anos, que não teve a identidade revelada, que estava internada com covid-19 e em estado grave no CTI coronariano. Mais cedo, Núbia da Silva Rodrigues, 42 anos, também paciente da doença, morreu durante o processo de transferência para outro hospital.
Os pacientes transferidos foram levados para unidades estaduais, municipais e federais. Para a rede municipal, eles foram remanejados para os hospitais: Albert Schweitzer, Maternidade Leila Diniz, Maternidade Carmela Dutra, Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, CER Leblon, Souza Aguiar, Evandro Freire, Maternidade Fernando Magalhães, Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, Ronaldo Gazolla e Hospital de Campanha Rio Centro.
Já na rede estadual, há nove pacientes no Hospital Estadual Getúlio Vargas (HEGV), quatro para o Hospital Estadual Carlos Chagas (HECC), dois para o Hospital Estadual Anchieta (HEAN) e dois para o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (IECAC). Há ainda um paciente no Hospital Federal do Fundão.
Todos os pacientes serão transferidos. Segundo a assessoria do HFB, a recomendação para a transferência de todos os pacientes partiu do Corpo de Bombeiros, por conta do volume de fumaça, cheiro forte e da combustão ainda não controlada. Outra questão, é que o subsolo, onde o incêndio começou, é interligado aos outros seis prédios, podendo apresentar riscos aos pacientes.
Bombeiros ainda trabalham no rescaldo
Quase 24 horas após o incêndio que atingiu o Hospital Federal de Bonsucesso, os bombeiros ainda atuam no trabalho de rescaldo na manhã desta quarta-feira. A fumaça do local ainda pode ser vista por moradores de vários bairros.
No pátio do hospital, foram montadas tendas para facilitar o trabalho das equipes. O fogo começou no subsolo da unidade de saúde, onde está localizado o almoxarifado, na manhã desta terça-feira. A causa do incêndio ainda é desconhecida. A Polícia Federal instaurou um inquérito para apurar as causas.
Para especialista, incêndios de Bonsucesso e Badim têm similaridades
Em agosto de 2019, o incêndio de grandes proporções no Hospital Badim, na Tijuca, trouxe profunda dor e aflição para familiares e pacientes, deixando 23 mortos. Mais de um ano depois, a comoção em escala nacional retorna com o incêndio no Hospital Federal de Bonsucesso, referência para o tratamento da covid-19, que deixou dois mortos, segundo a última atualização. As tragédias, separadas pelo tempo, possuem muitas similaridades, segundo especialista em prevenção e combate a incêndios.
Wesley Pinheiro conta que os dois incêndios começaram no subsolo onde, em estruturas prediais mais antigas, estão localizados geradores de energia e almoxarifados, uma combinação muito volátil quando não há a devida proteção. Apesar do alarme referente às chamas, o treinador de brigadas de incêndio alerta para o principal perigo: a fumaça.
"Quando a fumaça sai da cobertura de um prédio, o calor não atinge os andares inferiores, mas, de baixo para cima, tem tudo para dar errado porque ela sobe com velocidade, elimina a fissão, causa queimaduras. Pelas estatísticas NSTA, órgão dos Estados Unidos, 80% da causa de morte de pessoas em incêndios é a fumaça", destaca.
Wesley Pinheiro conta que os dois incêndios começaram no subsolo onde, em estruturas prediais mais antigas, estão localizados geradores de energia e almoxarifados, uma combinação muito volátil quando não há a devida proteção. Apesar do alarme referente às chamas, o treinador de brigadas de incêndio alerta para o principal perigo: a fumaça.
"Quando a fumaça sai da cobertura de um prédio, o calor não atinge os andares inferiores, mas, de baixo para cima, tem tudo para dar errado porque ela sobe com velocidade, elimina a fissão, causa queimaduras. Pelas estatísticas NSTA, órgão dos Estados Unidos, 80% da causa de morte de pessoas em incêndios é a fumaça", destaca.
Somando-se ao alarde da fumaça, o Hospital de Bonsucesso ainda não tem o documento de vistoria do Corpo de Bombeiros, e para Wesley, isso significa um sinal de portas interditadas. "Primeiro, tem que ser emitido o certificado de aprovação, o CA. Uma edificação sem isso não era para estar funcionando, não tem fiscalização", afirma. Ainda segundo ele, a corporação poderia ter sido mais incisiva no pedido de fechamento do hospital.