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Avó de Rebecca rebate versão da PM: 'A gente não acha, tem certeza'

Lídia da Silva Moreira volta a dizer que os tiros foram disparados por policiais militares

Lídia Santos, avó da menina Rebeca que foi morta a tiros
Lídia Santos, avó da menina Rebeca que foi morta a tiros -
Rio - A avó de Rebecca Beatriz Rodrigues, vitimada junto com a prima Emilly Victoria, de 4 anos, por uma bala perdida na sexta-feira no Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, rebateu nesta segunda-feira a declaração da porta-voz da Polícia Militar que negou que os disparos partiram de policiais militares. Lídia da Silva Moreira tem certeza que os tiros foram disparados pelos militares. 
"A gente não acha, a gente tem certeza. Não houve confronto, ou tiro (de bandido). Era um dia comum, uma sexta-feira. Se tivesse tiro não deixaríamos as crianças no portão. Elas estavam com supervisão, não estavam sozinhas", diz a avó.
Lídia ressalta que a polícia ainda não voltou ao local do crime para realizar perícia. "A Rebecca viu meu ônibus chegar. Estava com o tio, os primos. Quando o ônibus parou, o tio falou para a menina que no veículo estaria eu ou o pai dela", lembra.
A porta-voz da PM, Gabryela Reis Dantas, disse na manhã desta segunda-feira que seria leviano responsabilizar policiais militares pela morte das primas Emily Victória Silva dos Santos, de 4 anos, e de Rebecca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7 anos, vítimas de bala perdida, na sexta-feira na comunidade Barro Vermelho, em Jardim Gramacho, Caxias.
"Neste momento seria leviano levantar qualquer suspeita de que a morte das meninas tivesse alguma correlação com deslocamento dos policiais", disse a militar em entrevista ao programa Bom Dia Rio, da TV Globo.
Os cinco PMs, segundo a porta-voz, se deslocaram para a comunidade para atender a um chamado por furto de carro. A tenente-coronel diz que os militares aceleraram a viatura para deixar o local, após ouvirem disparos. A família das vítimas diz que, os tiros partiram de policiais, que não teriam prestado socorro às crianças.
"Tínhamos um chamado sobre um furto de veículo, na avenida Gomes Freire. Os policiais iniciaram o deslocamento e escutaram tiros. Mas, não efetuaram disparos. Eles aceleraram a viatura, o que foi captado pelo GPS. As armas dos policiais foram apreendidas pelo comando do 15º BPM. Os PMs que estavam fazendo o deslocamento se apresentaram espontaneamente na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) e negam que tenham feito disparos", disse porta-voz.
A porta-voz da PM diz que os agentes são orientados a não entrar atirando em comunidades.
A avó de Rebeca contou que ouviu os disparos e viu o momento em que policiais militares saíram do local em uma viatura. Ela diz que viu a sobrinha baleada na cabeça e sem vida e acusa policiais de atirarem e não prestarem socorro às meninas.
"Eu desci do ônibus e ouvi os disparos. Vi que tinha uma viatura da PM que saiu logo depois. A Polícia chega atirando, não pensa nos moradores das comunidades. Eram crianças que estavam brincando na porta de casa", disse Lídia da Silva Moreira Santos.
A Polícia Civil diz que a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) instaurou inquérito para apurar a morte de duas crianças, de 4 e 7 anos. Os cinco policiais militares que estavam na região foram ouvidos e tiveram cinco fuzis e cinco pistolas apreendidas para realização de confronto balístico. Os agentes estão em diligências para apurar as circunstâncias do fato.
Protesto no domingo
Centenas de familiares e amigos protestaram na tarde deste domingo contra a morte das pequenas Emily Victória Silva dos Santos, de 4 anos, e de Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7 anos, vítimas de bala perdida, na Praça do Pacificador em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Com cartazes e palavras de ordem, os manifestantes pediam por justiça. As primas foram mortas na comunidade do Barro Vermelho, em Jardim Gramacho, na sexta-feira (4), enquanto brincavam na porta de casa.
"Chega de matar nossas crianças, matar inocentes e trabalhadores. Não é porque moramos em comunidade que somos bandidos. Por que atirar em duas crianças? Mataram minhas princesas, dois anjos. Poderia ter sido eu a levar este tiro porque eu passo ali todos os dias. Eu preferia que tivesse sido eu levar este tiro do que passar por esta dor. Hoje eu acordei e minha neta não estava lá pra me dar bom dia para me pedir a bênção, não tenho mais minha bailarina. Ela era meu tesouro, foi uma neta muito esperada. Tínhamos um futuro guardado pra essa menina. E agora, quem vai me devolver ela?", desabafou Lídia Moreira da Silva Santos, avó de Rebeca.

Ana Lucia da Silva Moreira, mãe Emily reforçou que no momento em que as duas crianças foram atingidas não havia confronto. Ela acusa a Polícia Militar pela morte das meninas e de não terem prestado socorro.

"Criança tem direito de brincar na rua, correr, subir em árvore sem que o fim seja a morte. Atiraram na cabeça de uma criança, um tiro de fuzil na cabeça da minha filha, Emily Victória. Não tinha confronto, não tinha operação, arrastão, nada. Atiraram, a polícia atirou e matou elas e não socorreram elas. Foi a comunidade, meus vizinhos, amigos que ajudaram a socorrer as duas".
Ana Lucia disse ainda que vai lutar por justiça. "Não somos lixo, minha filha vai ter justiça. Vou lutar por elas, vou até o fim pelos meus filhos, pela minha sobrinha".

Pessoas que estiveram no local gritavam por justiça enquanto carregavam cartazes com dizeres como: "parem de matar nossas crianças", "vidas negras importam" e "a comunidade hoje chora".