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Pai de criança morta por bala perdida não acredita na Justiça: 'Vai ficar por isso mesmo'

Além da filha, ele também perdeu a sobrinha com um único tiro em Caxias

Emily à esquerda e Rebeca, à direita
Emily à esquerda e Rebeca, à direita -
Rio - Alexsandro dos Santos, pai de Emily Victória Silva dos Santos, de 4 anos, e tio de Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7 anos, que foram mortas na última sexta-feira (4) após serem atingidas por uma bala perdida na comunidade do Barro Vermelho, em Jardim Gramacho, Duque de Caxias, disse não acreditar que a filha e sobrinhas terão justiça. "Eu acredito que vai ficar por isso mesmo. Pelas estatísticas, só esse ano 12 crianças foram mortas e até agora ninguém foi julgado e preso", afirmou Alexsandro.
Neste domingo, a família e amigos das duas crianças fizeram um protesto na Praça do Pacificador, também em Caxias. Centenas de pessoas que estiveram no local, gritavam por justiça e levantavam cartazes com dizeres como: "parem de matar nossas crianças", "vidas negras importam" e "a comunidade hoje chora". 
Ana Lucia da Silva Moreira, mãe Emily reforçou que no momento em que as duas crianças foram atingidas não havia confronto. Ela acusa a Polícia Militar pela morte das meninas e de não terem prestado socorro.
"Criança tem direito de brincar na rua, correr, subir em árvore sem que o fim seja a morte. Atiraram na cabeça de uma criança, um tiro de fuzil na cabeça da minha filha, Emily Victória. Não tinha confronto, não tinha operação, arrastão, nada. Atiraram, a polícia atirou e matou elas e não socorreram elas. Foi a comunidade, meus vizinhos, amigos que ajudaram a socorrer as duas".
Números e nomes da tragédia
A ONG Rio de Paz acompanha os casos de crianças mortas vítimas de armas de fogo desde 2007. A organização contabiliza, desde então, 79 vidas tiradas de crianças e adolescentes no Rio, a maioria delas por balas perdidas. Só este ano de 2020, a Rio de Paz listou 12 casos, uma média de uma morte por mês.
Além de Rebeca e Emily, saiba quem são as outras vítimas:
1- Anna Carolina de Souza Neves (8 anos): Morreu após ser baleada em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, em 9 de janeiro.
2- João Vitor Moreira dos Santos (14 anos): Morreu após ter sido baleado na cabeça em 29 de janeiro quando passava pela Avenida Vicente de Carvalho, no bairro Vila Kosmos, na Zona Norte do Rio.
3- Luiz Antônio de Souza Ferreira da Silva (14 anos): Foi atingido assim que saiu de uma consulta no psicólogo com a mãe no dia 6 de fevereiro, na comunidade Vila Ruth, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.
4- Douglas Enzo Maia dos Santos Marinho (4 anos): Morto com um tiro no peito, durante sua festa de aniversário no dia 7 de junho, em Piabetá, distrito de Magé, na Baixada Fluminense.
5- João Pedro Matos Pinto (14 anos): Baleado e morto durante uma operação conjunta da Polícia Federal, com apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, 18 de maio.
6- Rayane Lopes (10 anos): Morta numa chacina ocorrida na madrugada do dia 28 de junho durante uma festa junina que terminou com outras sete pessoas feridas no condomínio Jamaica, em Anchieta, na zona norte do Rio.
7- Kauan Vítor (11 anos): Foi baleado na cabeça em 25 de junho, na Maré, Zona Norte do Rio, enquanto brincava na porta de casa.
8- Ítalo Augusto (7 anos): Morreu após ser atingido por uma bala perdida n porta de casa, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, em 30 de junho. 
9- Maria Alice (4 anos): Baleada em um confronto entre bandidos em Três Rios, no Vale do Paraíba, em 2 de julho.
10- Leônidas de Oliveira (2 anos): Morto por bala perdida dia 9 de outubro, em frente a um supermercado na Avenida Brasil, na altura da comunidade Nova Holanda, na Maré, onde morava.