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Morre coronel Jorge da Silva, intelectual e ícone do movimento negro no Rio

Aos 78 anos, Silva luta contra um câncer nos rins. Ele atuou como professor universitário, escritor, ativista dos direitos humanos, conferencista, cientista político, e gestor público e foi chefe do estado maior da Corporação e secretário de estado de direitos humanos

O coronel reformado e doutor em Ciências Sociais, Jorge da Silva, morreu, aos 78 anos, na madrugada desta terça-feira, em Niterói
O coronel reformado e doutor em Ciências Sociais, Jorge da Silva, morreu, aos 78 anos, na madrugada desta terça-feira, em Niterói -
Rio – Morreu, aos 78 anos, na madrugada desta terça-feira, em Niterói, o coronel reformado e doutor em Ciências Sociais, Jorge da Silva. Importante nome do movimento negro no Rio e voz firme na luta contra o racismo e a violência, ele enfrentava uma batalha pessoal há anos: câncer nos rins.
Jorge da Silva atuou como professor universitário, escritor, ativista dos direitos humanos, conferencista, cientista político, e gestor público e foi chefe do estado maior da Corporação e secretário de estado de direitos humanos.
"Um menino simples que saiu do complexo do Alemão para se tornar um policial digno, mais tarde um professor da Uerj e da UFF (tive aulas com ele na pós graduação). Também era um amante de música, adorava cantar e receber os amigos em casa", postou o amigo, o jornalista Claudio Salles, nas redes sociais.
Ainda segundo depoimento de Salles, nos últimos anos, Silva sofria de depressão após descobrir a existência de um plano contra a vida dele. "Imaginem a pressão que passou, dentro da corporação, um coronel defensor dos Direitos Humanos?", indaga.
"Foi uma das pessoas fundamentais para a articulação que se fez necessária quando se iniciaram na UFF os primeiros cursos e pesquisas na área de Segurança Pública. Vai em paz Jorge da Silva, querido amigo, professor e apoiador. Você fez a sua parte e nos ajudou a avançar", sintetiza Salles.
A Coordenação do Curso de Especialização em Políticas Públicas de Justiça Criminal, da UFF, lamentou profundamente o falecimento do professor. "Foi uma das principais pessoas que possibilitou a criação deste curso", afirma, em nota.
"Em suas obras sempre defendeu a importância de se pensar a segurança pública fora da ótica jurídica e militar. Argumentava que essa perspectiva era normativa e fragmentada. Sua contribuição aos estudos da violência passou por sua incorporação da análise da discriminação racial, tema que sempre pautou sua reflexão teórica e sua vida". E acrescenta: "Viver a gestão pública e pensar sobre ela foi uma das marcas de Jorge da Silva, conhecido também por sua gentileza, bom humor e sua voz, que maravilhava quem o ouvia cantar".
Os pesquisadores da Rede Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (INCT-InEAC/UFF) também externaram seus sentimentos em documento de despedida.
"O professor Jorge da Silva era uma pessoa singular. Sua inteligência privilegiada combinava com a generosidade de seu espírito, expressa sempre em sorrisos e risadas espontâneas, trato hospitaleiro e, principalmente, um olhar e audição atentos para com o interlocutor. Era, assim, uma figura humana exemplar capaz de aliar, de forma natural, empatia pessoal e excelência profissional a toda prova. Exercitou desta forma rara e ampla competência para a vida em diferentes universos e contextos, sempre demonstrando grande capacidade para projetar, no futuro, aspirações coletivas e de bem estar para todos na sociedade", afirma um trecho.