Rio - "Para estar junto não é preciso estar perto, e sim do lado de dentro", já dizia o artista renascentista Leonardo da Vinci. Em meio à pandemia da covid-19, as celebrações do Natal 2020 sofreram adaptações para evitar a disseminação da doença. Sem poder beijar, abraçar e aglomerar, as demonstrações de afeto entre as famílias foram feitas através de videochamadas. Elas mostraram que a distância não afasta as pessoas e, sim, reforça os laços de amor e empatia.
Juntos há 14 anos, os personal trainers Rafaela Pedrozo Damaso, de 30 anos, e Manoel Damaso Júnior, de 39, não imaginavam que o primeiro Natal da filha Manoela, de quatro meses, seria assim.
"Nós sempre estivemos reunidos com a nossa família até mesmo antes da data em si, para saber o que cada um ia levar e para tirar o amigo secreto. Foi bem estranha essa questão social, de não estarmos juntos presencialmente. Mas tivemos a união através de videochamada. A minha mãe mesmo veio até a porta do condomínio onde moro e eu entreguei o presente para ela dentro do carro, sem poder dar um abraço", contou Rafaela, que mora em Jardim da Glória, em São Paulo.
Segundo a personal, Manoela foi uma criança planejada e esperada. "Não vê-la tendo contato com outros bebezinhos e não poder entregá-la nos braços dos avós por medo da doença é muito triste. Apesar disso, tentamos nos apegar na questão do coração", disse ela.
O avô paterno da Manoela, o aposentado Manoel Damaso Neto, de 70 anos, contou que só pegou a netinha no colo uma única vez. No entanto, agradece a Deus o fato de todos estarem com saúde. "Acompanhamos de longe e babando muito".
Moradora da Vila Kosmos, a manicure Jéssica de Assis Ribeiro, de 29 anos, passou a véspera de Natal acompanhada da filha, do namorado, dos pais, irmãs e sobrinho. Ela fez videochamada para se conectar com os demais familiares. Apesar do ano difícil, ela disse que a mensagem desse Natal é que devemos valorizar os momentos em família: "Quero que essa doença acabe logo e possamos viver nossas vidas com tranquilidade perto de quem amamos".
O tio da Jéssica, o empresário Anderson Ribeiro, de 43 anos, participou da reunião online e disse que estava aliviado por todos estarem bem e com saúde. "Antes não tínhamos tempo para nada e, de repente, você se vê inerte, obrigado a prestar atenção nos mínimos detalhes e buscar novos sentidos da vida", reflete o morador da Vila da Penha.
As chamadas de vídeos viraram até brincadeira nas redes sociais e alguns memes se espalharam pela internet.
Papai Noel tecnológico
A entrega dos presentes do Bom Velhinho este ano foi pela internet. O diretor e criador da Escola de Papais Noéis do Brasil, Limachem Cherem, de 64 anos, driblou a pandemia para levar alegria para a criançada de forma segura. "Tivemos que aprender a lidar com a tecnologia. Trabalhamos muito em redoma de vidro, dentro de vitrines. Foi muito difícil. Todo ano fechamos contratos com 25 shoppings, mas este ano foram só sete", explicou ele, que interpreta há 30 anos o Bom Velhinho.
Ele visitou nesta sexta-feira a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, para orar pelas vítimas da chacina que ocorreu há 9 anos. Depois, fez uma live em que sorteou 300 prêmios para as crianças da comunidade. "A lição é de que temos que igualar todos os seres humanos, sejam ricos ou pobres. Que 2021 traga a vacina não só para os brasileiros, mas para o mundo inteiro", pediu.