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Presépio da Glória pode não ser montado no Natal deste ano

Responsável pela tradição, padre Wanderson José Guedes explicou que a falta de verba e os frequentes furtos inviabilizam o projeto

Presépio da Glória
Presépio da Glória -
Rio - Nesse Dia de Reis, o famoso presépio em frente ao metrô Glória, Zona Sul, ganha um futuro incerto. Por causa de frequentes depredações, furtos e falta de verba, o padre Wanderson José Guedes, 54 anos, pároco da Igreja Sagrado Coração de Jesus, talvez deixe de montar o presépio para o próximo Natal. 
"Na semana em que o inauguramos, roubaram toda nossa fiação. Comprei fios novos e os coloquei. Faltando quatro dias para o Natal, roubaram os fios e os holofotes. Comprei tudinho novamente para não passar o Natal com o presépio escuro. Do dia 25 para o dia 26, roubaram tudo outra vez. Nesse momento desisti, não tenho mais condições de comprar nada. Deixei ali no escuro", afirmou o padre.
Por causa da falta de iluminação e de policiamento na região, o presépio deixou de ser visitado pela população. "Algumas pessoas começaram a guardar coisas lá dentro. Para evitar maiores problemas, preferi desmontar antes da época porque estava uma situação terrível. Tinha muita coisa guardada ali de baixo, não sei se era roubado, ou que estavam fazendo ali. Uma sujeira danada, um completo descaso das autoridades municipais. Ninguém olhou aquilo", criticou.
Com temas da atualidade, o presépio já abordou desde a corrupção no país, até racismo e aleitamento materno. O religioso contou que passa o ano atento às discussões da sociedade para poder olhar sobre os acontecimentos a partir da ótica cristã. Responsável por arrecadar todo o dinheiro para a montagem do presépio, padre Wanderson trabalhando o ano todo com restaurações para o projeto.
"Acho que é uma forma de evangelizar. Também não são todas as pessoas que podem ir aos shoppings para ver as decorações bonitas. E as praças são para todos, justamente para mostrar que Deus nasce para todos. O presépio na praça é aberto para todo mundo, rico, pobre, quem quiser ir lá ver. É o que a praça significa, lugar do povo, e Jesus veio de fato para o povo. Por isso que acho que tem a simbologia muito forte fazer esse presépio na praça", explicou. 
Sem ajuda financeira da iniciativa privada ou pública, o religioso revelou que pretende doar a estrutura do presépio para quem possa mantê-lo melhor que ele. "O Brasil é um país onde a religião é muito forte. Porém, parece que nem as autoridades políticas, nem as autoridades religiosas se importam com o presépio. Todo ano é a mesma coisa: eu, sozinho. Não aparece ninguém para ajudar, empresa nenhuma aparece para oferecer verba. Já pedi a várias empresas e cansei de ouvir 'não's", apontou. 
Nos últimos anos, o carioca perdeu algumas tradições de Natal por falta de verba. Com a pandemia, a data tão tradicional sofreu mais algumas perdas. "Assim o Rio vai perdendo. Nós já não temos mais a árvore da Lagoa, e o presépio agora está saindo. Nós vamos nos tornando uma cidade secularizada demais, sendo que temos tanto condições de ser a capital do Carnaval, como de ter um natal bonito", lamentou o religioso.
Presépio da Glória Foto: Arquivo pessoal
Presépio da Glória Foto: Reprodução / Carlos Moioli
Presépio da Glória Foto: Arquivo pessoal
Presépio da Glória Foto: Arquivo pessoal
Presépio da Glória Foto: Arquivo pessoal
Presépio da Glória Foto: Arquivo pessoal
Presépio da Glória Foto: Arquivo pessoal
Presépio da Glória Foto: Arquivo pessoal
Presépio da Glória Foto: Arquivo pessoal
Presépio da Glória Foto: Arquivo pessoal
Presépio da Glória Foto: Reprodução / Carlos Moioli