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Indígena é a segunda brasileira a receber vacina contra a covid-19 em SP

Vanuzia Costa Santos, 50, técnica em enfermagem assistente social, é moradora da aldeia multiétnica Filhos Dessa Terra

Primeira indígena vacinada no país, Vanuzia Santos é técnica em enfermagem
Primeira indígena vacinada no país, Vanuzia Santos é técnica em enfermagem -
São Paulo - Após a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, ter sido vacinada contra a Covid-19, neste domingo, a técnica em enfermagem e assistente social, Vanuzia Costa Santos, 50, foi a segunda brasileira a receber a dose. A profissional é indígena e moradora da aldeia multiétnica Filhos Dessa Terra, na cidade de Guarulhos, em São Paulo. 
“Fiquei muito feliz de participar deste momento. Sou defensora da vida, de outras vacinas, da prevenção e da saúde. Devemos valorizar a educação, a ciência, e isso pode ser conciliado mantendo uma crença, com as rezas e a medicina tradicional do meu povo”, afirmou Vanuzia.
Ela relatou o drama que viveu com a Covid-19 e os sintomas mais severos em maio passado. Solteira, com um filho de 24 anos, Vanuzia descreveu o sofrimento provocado pela doença: dores no corpo, tosse e severa falta de ar, além da ausência de olfato e paladar que persiste até hoje.

“Não fui para o hospital porque ajudava a cuidar de outras seis pessoas, precisava ter força para dar uma palavra de conforto e cuidar deles sem me abater. Tinha um oxímetro [equipamento que mede a saturação de oxigênio na corrente sanguínea], mas não media minha respiração para não me apavorar. Fiz o teste em 15 de junho e já estava curada". 
Engajamento para indígenas 
Vanuzia preside o Conselho do Povo Kaimbé, originário do Nordeste. Ela decidiu estudar, lutar por direitos e um dia retornar para cuidar dos moradores da aldeia de Massacará, na cidade baiana de Euclides da Cunha, onde nasceu.
Atualmente, a aldeia de Massacará tem cerca de 200 famílias, com representantes de pelo menos 180 delas residentes em São Paulo. Vanuzia veio para o estado em 1988 para trabalhar e se aprimorar na carreira profissional.
Ela detalhou a atuação no engajamento de demais famílias indígenas sobre a importância da imunização. Vanuzia orienta as comunidades sobre a suscetibilidade aos vírus, relembrando sua experiência como técnica de enfermagem na Casa do Índio, onde trabalhou por dez anos.
Vanuzia concluiu a graduação em Assistência Social com bolsa integral pela PUC-SP no ano passado, com aulas à distância no último ano devido à pandemia. “O sinal era horrível na aldeia, corria com guarda-chuva para baixo de uma árvore. Fiz meu TCC inteiro pelo celular”, contou. Agora, pretende fazer residência em Saúde Mental para continuar a contribuir com seu povo e manter viva a herança dos ancestrais.