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Cláudio Castro 'atravessa o samba' e canta sem máscara durante a pandemia

Vídeo teria sido gravado no mês passado. Apesar do frasco de álcool na mesa, todos que aparecem na imagem não usam máscaras

Cláudio Castro dá canja em roda de samba durante pandemia
Cláudio Castro dá canja em roda de samba durante pandemia -
Rio - O governador em exercício pelo Estado do Rio, Cláudio Castro, envolveu-se em mais uma polêmica por não respeitar as determinações das autoridades de saúde em outro vídeo divulgado nas redes sociais, no qual participa de mais um evento durante a pandemia. Desta vez, a imagem teria sido feita antes de sua festa de aniversário em Petrópolis, no fim de semana
O chefe do executivo estadual participa de uma roda de samba em um local fechado, onde todos que aparecem na imagem não usam máscaras, item essencial para ajudar a combater a transmissão do vírus. Castro pega o microfone que estava ao lado de um frasco de álcool e, meio desafinado, dá uma canja cantando um trecho da música 'Domingo', do grupo SPC. 
A assessoria de imprensa do Governo diz que o vídeo foi gravado no mês passado, quando o governador ainda não havia assinado o decreto de restrições em vigor no estado. No entanto, os eventos em comemoração ao Carnaval estavam cancelados por conta da alta contaminação. 
Procurada pela reportagem, a pesquisadora em saúde da UFRJ e membro do Comitê de Combate ao Coronavírus da UFRJ, Chrystina Barros, disse que "todos estão cansados de rotinas que requerem atenção redobrada da higienização das mãos, uso de máscaras e a não aglomeração e que, além disso, a educação é o único caminho. Ao citar Castro, a pesquisadora disse que faz parte do comportamento humano seguir exemplos. 
"Nesse sentido, principalmente lideranças, as pessoas que têm as responsabilidade de tomar decisões, ensinam e orientam pelo exemplo do que propriamente por decreto. É lamentável que no Brasil a gente tenha uma crise de maus exemplos. A gente tenta, enquanto ciência e profissionais que estão exaustos, deixar mensagens que apesar dos exemplos ruins, faça a sua parte. Se alguém que está a frente, numa liderança, não dá o bom exemplo, talvez essa pessoa acabe com mais acesso e possa, numa eventual contaminação, não sofrer tanto quanto a grande massa da população, que infelizmente nem sempre consegue chegar ao sistema de saúde", lamentou. 
A reportagem também entrou em contato com a médica geriatra e psiquiatra Roberta França, que enfatizou que o governo tem que dar bons exemplos.
"O mau exemplo desde sempre veio do governo. Seja no governo federal, do estadual e municipal. Em momento algum na pandemia nós tivemos uma fala coesa e responsável para que a população compreendesse a gravidade da situação. Não tivemos uma campanha nacional direcionada para os brasileiros. Quando a gente fala para as pessoas que elas precisam ficar em casa e adotar todas as restrições, e horas depois nós vemos nossos representantes se comportando de uma maneira completamente diferente de tudo aquilo que a ciência e os especialistas estão falando, como vamos querer que a população siga?", questiona Roberta.
França continua dizendo que o maus exemplos vêm de cima. "Como vamos convencer as pessoas sobre a gravidade da doença? É muito difícil de trabalhar nessa situação há mais de 1 ano e 2 meses, porque parece que estamos enxugando gelo. A gente fala, explica, pede, implora, mas das autoridades nós vemos exatamente o contrário. Infelizmente a gente acaba levando a população a minimizar uma doença gravíssima diante desse tipo de comportamento", finaliza.
No último domingo, Cláudio Castro comemorou seu aniversário de 42 anos ao lado de familiares e amigos. O evento, que reuniu dezenas de pessoas foi realizado em uma casa alugada por ele em Itaipava, Petrópolis, na Região Serrana.
Por conta da pandemia, a Prefeitura de Petrópolis decretou isolamento e proibiu aglomerações até o próximo domingo (4).  
Na semana passado o governador assinou um decreto que antecipava alguns feridos no estado. Na ocasião, Castrou fez questão de frisar que não era um momento para realização de festas e que dezenas de pessoas estavam morrendo nas filas de espera por um leito. "Esse é um feriado pra nós ficarmos em casa", disse". 
PEDIDO DE DESCULPAS
Após o episódio do fim de semana, o governador reconheceu o erro e gravou um vídeo pedindo desculpas à população fluminense.
Ele disse que a casa estava alugada desde o ano passado e que a comemoração iria reunir apenas seus familiares, mas que durante o almoço seus amigos compareceram ao local.
Imagens divulgadas nas redes sociais mostram a casa com dezenas de pessoas.
CONSEQUÊNCIA
Procurado, o Ministério Público Estadual disse que irá analisar os fatos noticiados e as providências serão adotadas a partir dos elementos de prova que forem apresentados.
A Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) disse que não há nenhum ato previsto para o caso envolvendo o governador.
Já a Polícia Civil, quem vem investigando casos que desrespeitam a questão sanitária durante a pandemia, não se pronunciou sobre o caso.