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Professora morre de covid-19 e amigo relata superlotação em escola

Funcionária dizia que precisava trabalhar para complementar a renda da casa

Professora trabalhava para complementar renda
Professora trabalhava para complementar renda -
Rio - A professora de português e espanhol, Andréia Faustino de Souza Silva, de 46 anos, morreu no último sábado (3), após contrair a covid-19 na escola em que trabalhava, o Colégio Governador Roberto Silveira, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. De acordo com um funcionário da unidade, que preferiu não se identificar, Andréia estava trabalhando porque o salário que recebia não era suficiente para sustentar a casa.
"A Andréia e outros professores foram chamados no início do ano letivo, em fevereiro, para assinar uma declaração informando se você tinha ou não comorbidades. Porém, quem assinasse que tinha comorbidade, não teria direito a receber GLP (Gratificação por Lotação Prioritária), como se fosse hora extra. Como nós estamos há 7 anos sem aumento salarial, as pessoas estão desesperadas. A Andréia ganhava R$ 1.100 por mês, então ela assinou a declaração dizendo que não tinha nenhuma comorbidade, e assim poderia ganhar a GLP, que aí seria mais R$ 900 no salário dela. Mas a maior preocupação dela era com a mãe de 74 anos, e com a filha, de 5", contou o funcionário. 
O amigo de Andréia relatou ainda que o professor que declarava que não possuía comorbidade, teria que estar na escola diariamente cumprindo os horários. Eles cumpriam diversas atividades, entre elas, a distribuição de apostilas para alunos acompanharem aulas remotas, além de entregas de cestas básicas que eram feitas no local e atendimento aos pais. 
"Eu ia toda segunda-feira. Lembro que a Andréia e outros profissionais ficavam rodeados de pais. Chegava gente sem máscara, sem cuidado nenhum. A direção fazia o que estava no alcance dela. Essa determinação de que o professor tinha que cumprir a carga horária na escola veio da Seeduc (Secretaria de Educação do Rio de Janeiro). A escola ficava superlotada de alunos. Inclusive, a diretora da escola pegou a covid, além da coordenadora, a adjunta, a orientadora, e um outro professor também", continua.
O professor desabafa dizendo que como a amiga (Andréia) não tinha recebido o salário, ela fez um exame simples para a covid, que não deu positivo no primeiro momento. "Teria que fazer um que era pago e o resultado saía na hora, mas ela disse que ou fazia o exame, ou comprava comida para dentro de casa. A situação dela era precária."
Ele afirma ainda que Andréia ficou 14 dias vomitando dentro de casa. "Eu soube na sexta-feira que ela estava sofrendo. Para mim já tinha dado uma melhorada. Depois soube que ela teve que ir para um hospital porque não estava conseguindo respirar direito. Ela chegou na unidade de saúde só para morrer mesmo. Quando era 7h do sábado, nós recebemos a notícia de que ela tinha falecido. Foi uma coisa muito triste", finaliza. 
A reportagem entrou em contato com a Seeduc, para explicar a superlotação na unidade de ensino, mas até a publicação deste matéria, não obteve retorno.