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Polícia vai investigar possível desvio de 'sobras' de vacina em São Gonçalo

Técnica de enfermagem foi presa com material e disse que procedimento se tratava de uma prática 'normal' em todos os postos de saúde do município

Garrafa de água com a dose da CoronaVac foi apreendida e levada para a delegacia
Garrafa de água com a dose da CoronaVac foi apreendida e levada para a delegacia -
Rio - A Polícia Civil vai investigar se servidores de outros postos de saúde em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, estão usando as "sobras" das doses de vacinas para aplicar em parentes ou pessoas que não fazem parte do grupo prioritário, segundo determinação do Ministério da Saúde. De acordo com o delegado Leonardo Macharet, titular da 73ªDP (Neves), um inquérito foi instaurado para apurar todos os fatos. 
Na terça-feira (13), agentes do programa de segurança São Gonçalo Presente prenderam a técnica de enfermagem Luciana Soares dos Santos, com uma seringa contendo a dose da vacina CoronaVac contra a covid-19. Em depoimento, a mulher disse que aplicaria o imunizante no marido e que o procedimento se tratava de uma prática "normal" em todos os postos de saúde do município, já que seriam "sobras" de vacinas. 
"No caso da técnica de enfermagem, ela aplicava as doses e acabou subtraindo umas das doses que estavam sob sua responsabilidade e ao sair do posto de trabalho acabou detida", disse o delegado Macharet.
A técnica de enfermagem disse que saiu com a dose da vacina por ter tido autorização de sua supervisora, uma enfermeira identificada apenas como Renata. Luciana foi indiciada por peculato e, segundo a Polícia Civil, irá responder em liberdade. 
Segundo Macharet, Renata e o diretor do posto já foram intimados a depor sobre a denúncia. A defesa da enfermeira, através do advogado Paulo Lucas Joiozo, informou que só irá se manifestar após a oitiva de sua cliente.
Além dos riscos de contaminação, a ilegalidade dessa prática pode acarretar problemas na Justiça, é o que alerta a médica geriatra e psiquiatra Roberta França.
"Isso é uma prática ilegal. Primeiro porque não há comprovação se a dose terá qualquer tipo de eficácia. Depois, porque essa manipulação errada pode gerar contaminação e possíveis efeitos contrários em quem receber essa dose. O que esses profissionais precisam entender é que isso é absolutamente ilegal e é crime", alerta. 
O QUE DIZ A PREFEITURA 
Em nota, a Prefeitura de São Gonçalo disse que não compactua com esse tipo de prática e que todos os seus funcionários são orientados a fazer o descarte das sobras da CoronaVac. A Secretaria Municipal de Saúde disse que desde o início da campanha de vacinação no município nenhuma vacina foi subtraída e que esse furto se trata de um caso isolado. 
De acordo com a prefeitura, além da técnica de enfermagem, a supervisora denunciada por ela também está afastada do trabalho até a elucidação dos fatos. A Secretaria de Saúde abriu sindicância para apurar a conduta das servidoras, a profissional flagrada e sua supervisora, que poderão ser exoneradas.
Sob a suspeita de possível desvio em outra unidades, a Prefeitura de São Gonçalo ainda não se manifestou.
Garrafa de água com a dose da CoronaVac foi apreendida e levada para a delegacia Divulgação
A técnica de enfermagem foi abordada na saída do trabalho, por agentes do São Gonçalo Presente Reprodução