ITAGUAÍ – No século XVIII, entre os rios Itinguçú e Itaguaí, instalaram-se os Y-Tinga. Eram os habitantes originais do local onde hoje é a cidade de Itaguaí. Pouco depois chegaram os jesuítas. Uma longa história. Mas é interessante se concentrar no chefe dos Y-Tingas, Quiva, e sua linda Laiá, índios que foram consagrados em matrimônio pelos padres. A viagem de lua de mel, diz a lenda, traçou os contornos do hoje município.
Mas depois houve guerra com os homens brancos. Laiá foi atingida. Quiva ordena que o Pajé a salve, mas ele diz que Laiá está envenenada! A cura viria apenas se um índio beber o sangue de Laiá misturado com uma erva, até ficar tonto e tirar de sua veia o seu sangue misturado com outra erva para Laiá beber. Salva-se Laiá, mas morre quem beber seu sangue. E assim Quiva fez. Assim Quiva, bravo chefe e guerreiro, salvou sua amada e morreu.
Laiá, que se salvou, ficou desesperada com a morte do seu amado, embrenhou-se na mata e em seguida morreu também, o que selou o destino dos Y-Tingas: a tribo foi exterminada tempos depois, em conflitos sangrentos na Fazenda de Santa Cruz, o que hoje é o centro de Itaguaí. Os corpos dilacerados dos índios foram jogados na praia de Mangaratiba.
Esta é apenas uma parte da história que as crianças de Itaguaí ouvem na escola: um conto de muita batalha e sangue, mas também com uma bela lenda de amor (que se assemelha em algum ponto com Romeu e Julieta, de Shakespeare). Pois tal lenda é o mote do espetáculo “Balé Y-Tingas”, com criação e direção do veterano da dança itaguaiense, Jailson Trevysani; coreografia de Philipe Matheus Farias, Nicoly Janin e do próprio diretor. Os cenários e figurinos são de Andreia Trevysani, Maycon Mello e Sandra Cibelli.
O balé estreia no próximo dia 24, em duas sessões no Teatro Municipal Marilu Moreira: uma somente para convidados e outra para público pagante (mas que esgotou os ingressos em poucas horas).
Outra apresentação está marcada para o dia 2 de maio, mas os ingressos também se esgotaram rapidamente.
Todas as apresentações estão com lotação limitada a 30% dos assentos ocupados, o uso de máscara e obrigatória, álcool em gel e medidas de distanciamento.
A produção solicitou novas datas para a Secretaria Municipal de Educação e Cultura, que controla a agenda do Teatro Municipal, mas ainda não tem uma resposta concreta.
Porém, o espetáculo terá uma transmissão online, gratuita, no dia 24, às 15h, pelo Facebook do Instituto de Dança de Itaguaí (https://www.facebook.com/DancaItaguai).
PRODUÇÃO NA PANDEMIA
Todo ano Trevysani faz um espetáculo para que os seus alunos de dança – o diretor tem um Studio e um Instituto - sintam a magia do palco e entendam como é atuar em uma produção. Em 2020, por causa da pandemia, isso não foi possível, mas apesar do vírus ainda estar por aí, Jailson resolveu se lançar e botar todo mundo para dançar, com todos os cuidados, é claro.
Todo ano Trevysani faz um espetáculo para que os seus alunos de dança – o diretor tem um Studio e um Instituto - sintam a magia do palco e entendam como é atuar em uma produção. Em 2020, por causa da pandemia, isso não foi possível, mas apesar do vírus ainda estar por aí, Jailson resolveu se lançar e botar todo mundo para dançar, com todos os cuidados, é claro.
“Foi um desafio novo e enorme. São 17 pessoas, entre produção, coreógrafos, técnicos, maquiagem e cabelo e assistente de produção. São 35 bailarinos no total. Tivemos que fazer muitas adaptações no modo de trabalhar”, disse o diretor, que conta como teve a ideia: “Penso nessa lenda em um balé desde que eu atuava como bailarino. Gosto de criar espetáculos que ensinem algo, levem uma mensagem, e esta sem dúvida faz parte da história da cidade de Itaguaí. Acho muito importante levar essa lenda, que é parte da nossa história, para o mundo”, explicou.
Para criar o espetáculo, Trevysani consultou historiadores locais e trabalhos acadêmicos, além de evocar a história oral da cidade, instrumento poderoso de manutenção da cultura. “A parte mais interessante obtive por meio dos griôs, líderes que difundem as tradições, que contam a lenda de Quiva e Laiá com muita verdade nos olhos”, conta Jailson.
BAILARINOS DE VÁRIAS IDADES
Trevysani inclui bailarinos de várias idades (a mais nova integrante tem 3 anos), oriundos dos bairros e comunidades de Itaguaí, a maioria bolsistas e participantes de projetos sociais. O espetáculo é do Instituto de Dança, com participação de alunos do Studio de Dança Jailson Trevysani. Os mais novinhos, por exemplo, serão os “curumins de Laiá”.
Trevysani inclui bailarinos de várias idades (a mais nova integrante tem 3 anos), oriundos dos bairros e comunidades de Itaguaí, a maioria bolsistas e participantes de projetos sociais. O espetáculo é do Instituto de Dança, com participação de alunos do Studio de Dança Jailson Trevysani. Os mais novinhos, por exemplo, serão os “curumins de Laiá”.
O “Balé Y-Tingas” tem dois atos. O primeiro, conta como Quiva e Laiá se conheceram e casaram. O segundo, traz o drama do envenenamento: “Quiva resolve fazer o ritual de beber do sangue dela e trocar a vida dele pela dela. Ela enlouquece e some. Logo depois, é extinta a tribo dos Y-Tingas”.
A parte musical é uma montagem de trilhas colhidas na internet. Havia a ideia de produzir música original com a premiada banda local Bamita, mas não houve tempo hábil.
A cenografia, realçada pela iluminação, vai transformar o palco do teatro municipal em uma floresta com o uso de elementos naturais: frutas, plantas, bananeiras e troncos.
Os ensaios começaram ainda em 2020, pararam por causa da pandemia, retornaram em agosto de 2020 e estão em fase de acabamento. Como é natural, há o nervosismo da estreia e o estresse de deixar tudo pronto para que todos brilhem no palco.
O objetivo do espetáculo, segundo o texto de divulgação, é “difundir a História da lenda de Quiva e Laiá, divulgar Itaguaí por meio de um balé com seus talentosos bailarinos para enaltecer ancestrais que persistem na arte e nos nossos corações”.