Comando Vermelho presta homenagem aos 27 mortos do Jacarezinho
Nomes foram lidos e oração foi feita. O DIA teve acesso a estatuto da facção, que foi apreendido
Por Thuany Dossares
Publicado em 31/05/2021 07:40:33 Atualizado em 31/05/2021 07:40:33
Às 18h vem o grito que ecoa pelas galerias dos presídios que abrigam criminosos ligados ao Comando Vermelho (CV). Ocorre uma oração própria da facção, junto com o Pai Nosso. Em seguida, é feita uma chamada com os nomes dos comparsas que morreram em confronto com a polícia, para homenageá-los. Antes de todos os nomes eles pedem um "salve".
De pé e dentro das suas celas, assim foi feito no dia 6 de maio, após 27 suspeitos de envolvimento com o crime serem mortos durante a Operação Exceptis, no Jacarezinho. Todos os apelidos dos mortos foram lidos em voz alta, conforme O DIA apurou com a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap). Além disso, em luto, os detentos abriram mão de seu banho de sol naquela data.
A cerimônia é feita sempre que um integrante da facção é morto e é puxada pelo presidente da comissão de cada cadeia, que é um líder responsável por tratar dos assuntos dos encarcerados, como faxina, banho de sol e contato com os agentes penitenciários. O presídio que encarcera mais suspeitos ligados à facção no Rio é Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho, conhecida como Bangu 3, no Complexo de Gericinó.
"A prece é própria, uma oração do CV feita dentro das celas com as galerias fechadas. Às 18h o presidente da comissão dá o grito 'seis horas' para eles começarem. Toda cadeia tem uma comissão para tratar do assunto de todos. O Comando Vermelho é uma facção que tem uma hierarquia pré-determinada e eles respeitam muito essa hierarquia", explicou o delegado da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), Willian Pena Junior, que trabalhou como agente penitenciário antes de ingressar na Polícia Civil.
A reportagem teve acesso a um estatuto da quadrilha, escrito à mão, que foi apreendido pela polícia. Em 29 páginas, os criminosos descrevem a oração na cadeia, além de sua fé em um Deus, que seria permissivo com os crimes que cometem.