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Após 17 anos presos em porão, ursos são resgatados

Animais viviam na escuridão total e eram submetidos a procedimentos para extração da bile vesicular, utilizada em cosméticos e na medicina tradicional

Xuan e Mo foram encaminhados para o santuário de ursos de Ninh Binh
Xuan e Mo foram encaminhados para o santuário de ursos de Ninh Binh -
Hanói - Dois ursos-negros-asiáticos foram resgatados de uma 'fazenda de bile' ilegal no Vietnã. Depois de viverem por 17 anos em porões totalmente escuros, eles receberam um novo lar em um santuário.

O casal de ursos Xuan e Mo, macho e fêmea respectivamente, vivia na escuridão total. A única luz a que tinham acesso era artificial e só era ligada quando os animais tinham que passar por dolorosos procedimentos de extração de bile, retirada para uso na medicina tradicional asiática e em produtos cosméticos. 
Xuan foi cruelmente mantido em uma pequena gaiola no porão de uma loja de roupas em Son La, norte do Vietnã, desde 2004, quando era apenas um filhote. Não se sabe exatamente quanto tempo Mo ficou com ele, mas acredita-se que ela tenha vivido lá por muitos anos.

Os animais maltratados foram resgatados em março pela insitituição de caridade animal Four Paws. Trabalhadores da organização disseram nunca terem visto pior situação de vida. 
Embora os ursos tenham sido resgatados do ambiente terrível no porão, os dois ainda enfrentam um longo caminho para a recuperação, pois sofrem psicologicamente a tortura de anos e fisicamente pelas repetidas perfurações em suas vesículas biliares. 
Uso da bile de urso
Ursos-negros-asiáticos estão listados como ameaçados na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), mas a Four Paws disse que 372 ursos no Vietnã ainda estão ‘sofrendo em condições cruéis em fazendas de ursos ou em propriedades privadas’. 
A bile de urso é um ingrediente valioso usado na medicina e o fluido é extraído da vesícula biliar e costumava ser coletado por caçadores após uma morte.

Mas na década de 1980, os fazendeiros começaram a extrair bile de ursos vivos, que muitas vezes eram mantidos em minúsculas ‘gaiolas de esmagamento’ ou com coletes de metal semelhantes a uma camisa de força. Os métodos de extração da bile incluem puncionar repetidamente a vesícula biliar com sondas, encaixar cateteres permanentes ou criar um orifício permanente ou ‘fístula’ de onde a bile pode ser drenada. Os procedimentos podem ser extremamente dolorosos se realizados sem anestesia e podem causar sofrimento prolongado ou infecção se os cateteres ou fístulas não forem tratados.

A prática é ilegal no Vietnã desde 1992, mas continua a ser legal na China – onde a bile de urso era até recomendada como cura para a Covid-19 no início da pandemia global. A bile de urso é usada em produtos cosméticos e na medicina tradicional no combate à febre, desintoxicação, inflamação, inchaço e no alívio da dor, devido aos seus efeitos positivos de cura.

Mas o ácido ursodeoxicólico (UDCA) encontrado na bile do urso foi substituído por alternativas à base de ervas e sintéticas desde a década de 1950, em vez de fazer os ursos passarem por uma ‘vida de agonia’ antes de morrerem nas fazendas.

Desde 2006, é proibido por lei no Vietnã caçar, capturar, possuir, matar, vender ou anunciar ursos ou produtos para ursos, embora não seja proibido possuir um urso registrado que era de sua propriedade antes de 2005.