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Preço da carne de segunda tem queda de 26% no Rio, mas deve voltar a subir

Alta do dólar e previsão de retomada no processo de importação de carnes pela China devem elevar novamente os preços no país

Levantamento foi feito com as 20 maiores redes de supermercado do Rio
Levantamento foi feito com as 20 maiores redes de supermercado do Rio -
Um levantamento feito pela Associação de Supermercados do Rio de Janeiro (Asserj) com as 20 maiores redes de supermercado do Rio revelou que o preço praticado pela indústria na venda de carne de segunda, aos mercados, caiu em média 26%, em relação ao mês anterior. Segundo os dados, o preço reduziu por conta do embargo imposto pela China em relação às importações de frigoríficos brasileiros.

De acordo com a Asserj, a carne, por ser um produto com validade curta, tem maior rotatividade no mercado, o que acaba gerando impactos de forma mais rápida no consumidor quando há movimentações no mercado.

Entre 2000 e 2020, segundo o Embrapa, as exportações de carnes brasileiras renderam US$ 265 bilhões. E em relação à carne bovina, no mesmo ano, o Brasil conquistou o posto de maior exportador de carnes do mundo, com 2,2 milhões de toneladas e 14,4% do mercado internacional. Em seguida, aparecem a Austrália, Estados Unidos e Índia.

O bom desempenho nas exportações acaba diminuindo, invariavelmente, a oferta no mercado interno. Com a impossibilidade de venda para a China, um dos maiores compradores de carne bovina brasileira, o aumento da oferta para o mercado interno impactou diretamente no preço praticado pelos mercados.

“Com a suspensão das importações pela China, a oferta da carne de segunda aumentou no Brasil. Isso fez com que os preços caíssem em média 26%. Em um momento de inflação, essa é uma notícia animadora para o bolso do consumidor”, disse Fábio Queiroz, presidente da Asserj.

A alta de preços vista nos últimos meses, no entanto, ainda afeta diretamente o bolso do consumidor. A grande questão por trás dos patamares elevados da carne bovina no país pode ser explicada com as mudanças no setor durante a pandemia, explica o economista e professor do Ibmec Tiago Sayão.

“Muitos frigoríficos, durante a pandemia, acabaram ajustando suas plantas industriais para abastecer exclusivamente o mercado internacional. (...) Quando você pensa no pecuarista, ele vai avaliar como ele vai vender o quilo da carne [no mercado interno] comparando a renda que ele recebe em dólar. Como você tem uma diferença expressiva na taxa de câmbio, isso acaba aumentando os preços no mercado interno”, explica o economista.

O grande problema em relação a basear esse mercado no ganho com a moeda estrangeira, é a dificuldade na redução de preços nas outras etapas. No caso da pecuária, a possibilidade de diminuição das margens praticadas por supermercados é muito inferior à da indústria, pontua o especialista.

“O varejo sempre vai trabalhar com margens muito pequenas, porque o ganho sempre acaba sendo nas etapas anteriores. A relação entre o pecuarista, o frigorífico e a indústria detém a maior possibilidade de aumento das margens. Por ser uma commodity, ele vai sempre avaliar a possibilidade de aumentar essa margem vendendo no mercado internacional”, afirma Tiago. 
Apesar da rápida queda, a China liberou, nesta terça-feira, 23, a importação de lotes de carne bovina que foram certificados antes do embargo do dia 4 de setembro, um dia antes do anúncio dos casos de vaca louca em Minas Gerais e no Mato Grosso, que motivaram a medida. Além disso, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), a arroba do boi gordo que vinha voltou a subir, o que comprime ainda mais a possibilidade de redução de preços ao consumidor. No último dia 12, por exemplo, a arroba foi cotada em R$ 301; já a cotação desta terça-feira, 23, traz o valor de R$ 316,90.
"A princípio, foram dois casos isolados de vaca louca, então é provável que, depois que forem esclarecidos esses casos, possivelmente vai ocorrer a volta da normalidade em relação à importação da China. Não é um efeito que possa ser considerado permanente", explica Tiago.
Para Marco Quintarelli, consultor e especialista em varejo, com a possibilidade de aumento do interesse externo e a alta nos custos da cadeia produtiva, não é possível afirmar que a redução dos preços se mantenha.
"Se a demanda interna for menor, com certeza os frigoríficos terão que melhorar esses preços, mas os próximos dias serão de incerteza", afirma. "Acredito que até o Natal se mantenham neste patamar. Depois não se sabe, pois tem muita coisa que influencia o mercado".
*estagiária sob supervisão de Marina Cardoso