Segundo a Flip, foram entre 27 e 30 mil pessoas que passaram pela festa nestes cinco dias, número muito semelhante ao da edição anterior. A Flip ocorria tradicionalmente em julho, mês que facilitava a vinda de estudantes e famílias por conta das férias escolares.
Em 2022 e 2023, ocorreu em novembro, após dois anos online por conta da pandemia. A organização afirmou que estuda fazer o evento de 2025 em agosto, mas depende das negociações com patrocinadores serem concluídas até dezembro. Se não, ele deve ser realizado em outubro novamente.
As amigas Yone Rodrigues, de 69 anos, e Terê Fátima, de 68, frequentam a Flip há pelo menos oito anos e dizem que este é o ano mais vazio que já viram o evento. No entanto, acham que ele está mais democrático. "Era um pessoal mais de elite. O espaço era mais para eles, só de olhar você percebia. Tinha pouco nordestino, negro, indígena. De um tempo para cá, isso foi diminuindo, mas também a quantidade de pessoas."
Quando cruzaram com a reportagem do Estadão, Yone e Terê aguardavam na fila para uma mesa na Casa de Cultura com roteiristas da série de Cem Anos de Solidão (obra de Gabriel García Márquez), que chega em dezembro à Netflix. Já haviam assistido a algumas mesas da programação oficial pelo Telão na Praça da Matriz e conferido parte da oferta da programação paralela. Aposentadas e moradoras de São Paulo, elas dizem que a festa, mesmo que com sobra de lugares, apresenta agora "maior variedade de temas de debates."
Programação oficial
A Flip anunciou neste domingo que a curadora Ana Lima Cecilio volta a comandar a programação em 2025. Sob o organização dela, escritores e personalidades do mercado literário se reuniram para discutir livros, literatura e escrita, mas não só, com uma programação que também teve um olhar para questões contemporâneas e que pudessem atrair o público para além de quem estava falando. Ainda assim, mais uma vez, foi uma Flip sem grandes nomes internacionais.
As mesas mais lotadas foram a do francês Édouard Louis, autor de O Fim de Eddy e a principal estrela da edição, e a conversa entre o brasileiro Jeferson Tenório (de O Avesso da Pele) e o senegalês Mohamed Mbougar Sarr (autor de A Mais Recôndita Memória dos Homens).
Outros destaques foram a abertura de Luiz Antonio Simas com um tributo ao cronista e jornalista João do Rio, homenageado da edição, cujo trabalho e atenção à cidade permeou muitas das conversas, e a mesa com o escritor palestino Atef Abu Saif e a escritora gaúcha Julia Dantas, que discutiu a escrita como forma de sobrevivência em meio à tragédia.
Mas, com ingressos a até R$ 130, muitas mesas no Auditório da Matriz ficaram com cadeiras vazias. Com alguns convidados internacionais, a tradução simultânea enfrentou problemas em mais de um momento. Em outros casos, as perguntas feitas pela mediação ou o uso de uma linguagem acadêmica demais tornaram o debate confuso e pouco acessível.
Um ponto positivo foi que, neste ano, quem via as mesas do telão do lado de fora também podia enviar perguntas para a mediação. Não quer dizer que foram muitas, mas foi uma boa artimanha da organização para fazer a plateia sentir mais próxima dos autores. Já no YouTube, onde as mesas da Flip são transmitidas ao vivo, a audiência vem crescendo: foram 53 mil pessoas no canal oficial da festa, contra 25 mil em 2023 e 18 mil em 2022.
Off-Flip e editoras independentes
Enquanto o preço da programação oficial dificultou o acesso presencial aos autores, a programação paralela ofereceu o contrário. Praticamente todos os autores que falaram no Auditório da Matriz também estiveram em alguma das casas de editoras, instituições parceiras e coletivos de editoras.
Outros nomes da literatura nacional que não estavam nas mesas principais também apareceram na chamada Off-Flip, como Itamar Vieira Junior (de Torto Arado), Socorro Alcioli (de Oração para Desaparecer) e Stênio Gardel (de A Palavra que Resta). Às vezes, era preciso chegar cedo ou se espremer para conseguir um lugar, mas a oferta estava lá.
Do outro lado do rio, cruzando uma pequena ponte que leva do Centro Histórico ao Areal do Pontal, o clima de satisfação não era o mesmo. Como mostrou o Estadão no início do evento, as editoras independentes reclamaram de uma mudança feita pela organização na área dedicada a elas, num espaço que o evento denominou de Praça Aberta.
Diferente de outros anos, os editores foram posicionados no final deste espaço. Eram os últimos da fila - depois do Auditório do Pontal, uma exposição, uma feira de economia criativa, expositores de artesanato e das barracas de comida. No final do dia de sábado, 12, o Estadão passou por lá e o descontentamento seguia, com a certeza de que a ida à festa causaria prejuízo.
Os livros mais vendidos da Flip
A Livraria da Travessa, livraria oficial da Flip, vendeu 15 mil exemplares no evento. O autor mais vendido foi João do Rio, o homenageado da edição, com 839 unidades. Ele ocupa as duas primeiras posições no ranking de livros mais vendidos com edições diferentes de A Alma Encantadora das Ruas. Luiz Antônio Simas, que fez a abertura sobre João do Rio e é coautor da edição comentada do livro (José Olympio) também aparece na lista.
Outros destaques foram Édouard Louis, Geni Nuñez, Mohamed Mbougar Sarr, Ilaria Gaspari, Jeferson Tenório, Atef Abu Saif e Carla Madeira. A única não participante do evento que aparece na lista de autores mais vendidos é Han Kang, sul-coreana que venceu o Prêmio Nobel de Literatura na quinta, 10.
Veja os títulos mais vendidos:
A Alma Encantadora das Ruas, João do Rio (edição da Antofágica)
A Alma Encantadora das Ruas, João do Rio (edição da José Olympio)
A Mais Recôndita Memória dos Homens, Mohamed Mbougar Sarr (Fósforo)
Quero Estar Acordado Quando Morrer, Atef Abu Saif (Elefante)
Descolonizando Afetos, Geni Nuñez (Paidós)
Felizes por Enquanto, Geni Nuñez, (Planeta do Brasil)
Canção do Amor, Txai Surui (Elo Editora)
A Vegetariana, Han Kang (Todavia)
O Avesso da Pele, Jeferson Tenório (Companhia das Letras)
Mudar: Método, Édouard Louis (Todavia)