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'Sabia que ela era má', diz mulher que sobreviveu a bolo envenenado

Deise Moura dos Anjos foi encontrada morta dentro da prisão

Por Meia Hora

Publicado às 17/02/2025 13:33:49 Atualizado às 17/02/2025 13:33:49
Zeli Terezinha Silva dos Anjos era considerada o principal alvo de Deise Moura dos Anjos
Rio Grande do Sul - A sogra da suspeita de matar três pessoas da mesma família com um bolo envenenado com arsênio, em Torres (RS), afirmou que Deise Moura dos Anjos "era má, que fazia maldades", mas nunca imaginou que ela pudesse cometer um crime dessa gravidade. Zeli Terezinha Silva dos Anjos falou pela primeira vez sobre o caso neste domingo, 16, ao Fantástico, da TV Globo.
A vítima, que era considerada pela polícia o principal alvo de Deise, sobreviveu ao ataque que matou as irmãs Maida Berenice Flores da Silva e Neuza Denize Silva dos Anjos, além de Tatiana Denize Silva dos Anjos, filha de Neuza. Deise também é suspeita de ter matado Paulo Luiz dos Anjos, ex-marido de Zeli, em setembro.
A suspeita não gostava da sogra, a informação foi confirmada por ela em depoimento. Nesta semana, ela foi encontrada morta dentro da Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba. Em uma camiseta, ela escreveu: "Não sou assassina, só sou um ser humano fraco com depressão por tanto sofrer e pagar pelo erro dos outros".
"Todos os depoimentos foram no sentido de um certo ódio que a investigada tinha pela sua própria sogra. Ela mesma, espontaneamente, disse que o apelido da sogra era 'naja', seguido de uma leve risada depois", contou o delegado Marcos Vinícius Muniz Veloso.
"Eu não tenho nem pena, nem raiva, nem ódio, nem sei que tipo de sentimento. Mas, quando eu penso que ela tirou as quatro pessoas mais importantes da minha vida...", se emocionou a dona de casa.
O crime aconteceu em um encontro familiar na véspera de Natal, em Torres (RS). No dia 24 de dezembro de 2024, sete pessoas ingeriram o bolo. Pouco tempo depois do consumo, os presentes começaram a passar mal.
Outras três pessoas foram hospitalizadas, incluindo a própria Deise, que também comeu o bolo. Exames periciais confirmaram a presença de arsênio, uma substância altamente tóxica, no alimento. A análise das amostras revelou que a maior quantidade de arsênio encontrado na farinha utilizada para fazer o bolo era 2.700 vezes superior ao limite aceitável.
Três dias após as mortes, a suspeita foi levada para prestar depoimento, mas negou envolvimento no caso. Durante as investigações, a polícia encontrou indícios de que ela estava mentindo e, com um mandado de busca, apreendeu o celular e o computador dela.

Os agentes recuperaram o histórico de pesquisas feitas por Deise na internet. Identificaram buscas por 18 substâncias tóxicas, entre elas "arsênio", "veneno para o coração" e "veneno para matar humanos".

"Ela não planejou comprar só o arsênio. A primeira pesquisa dela foi o veneno mais mortal do mundo", ressaltou o delegado.

As investigações indicam que a motivação do crime foi um desentendimento familiar que começou há cerca de 20 anos.
Morte do sogro
O caso ocorreu três meses após a morte do sogro de Deise. As investigações apontam que Deise comprou arsênio pelo menos duas vezes. A primeira compra foi recebida no endereço dela no dia 21 de agosto de 2024.

A polícia diz que a suspeita misturou parte do arsênio ao leite em pó que levou junto com outros alimentos para os sogros no dia 31 de agosto. Dois dias depois, Zeli e o marido passaram mal ao beberem café com leite.

Zeli foi atendida no hospital de Torres e liberada. O marido dela, Paulo Luiz dos Anjos, de 68 anos, morreu no dia 3 de setembro. Na certidão de óbito, a causa da morte foi "infecção alimentar". A polícia exumou o corpo para verificar se há conexão entre as mortes.
"Eu não quis acreditar em várias pessoas que me falavam: 'Faz o exame nele, faz o exame nele'. E eu achei impossível", lamentou Zeli.
Algum tempo depois, de acordo com as investigações, Deise foi ao encontro da sogra novamente e misturou o veneno na farinha que depois Zeli utilizou para fazer o bolo.
"A gente comeu um pedacinho do bolo só, e daqui a pouco a gente já começou a passar mal. Foi bem rápido. Em seguida, um já foi pro banheiro, e o outro já foi vomitar, e foi assim", contou a vítima.
Arsênio é um elemento químico liberado no ambiente de maneira natural ou pela ação do homem e componente usado na fabricação de alguns pesticidas.
A exposição ao arsênio pode causar intoxicação alimentar e reações similares a alergias, câncer em caso de exposição recorrente, e até morte. No Brasil, a comercialização do arsênico é proibida como raticida e ele é utilizado de forma restrita.
Para a polícia, está comprovado que Deise foi a responsável por envenenar nove pessoas da família, causando a morte de quatro delas. O fim das investigações está previsto para essa semana. O inquérito deve ser arquivado pela Justiça.
Em entrevista, Zeli afirma que se mantém forte pelos familiares que sobreviveram: "Um dia atrás do outro, pensando que meu neto precisa, meu filho também".
"Eu nunca fiz planos. Namorei o Paulo [ex-marido, que também morreu envenenado por Deise em outro caso, segundo a polícia], eu tinha 15 anos. E a nossa vida foi acontecendo. Agora, depois da enchente, nós resolvemos ir ficar na praia e pronto, vamos veranear o resto da nossa vida e tá acabado o assunto. Não deu", desabafou.