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Chefe de grupo criminoso preso no Rio fazia dissecações de animais ao vivo em rede social

Polícia tenta descobrir agora quem financiava as ações que eram transmitidas no Discord

Por Meia Hora

Publicado às 20/04/2025 20:49:00 Atualizado às 20/04/2025 20:51:15
Crime seria cometido e transmitido ao vivo no domingo de Páscoa
Uma operação da Polícia Civil frustrou, neste domingo de Páscoa (20), um ataque planejado contra um homem em situação de rua. A ação resultou na prisão de três homens e na apreensão de um adolescente, todos envolvidos em uma organização criminosa que promovia atos de violência e ódio em plataformas digitais.

Um dos detidos, Bruce Vaz de Oliveira, de 24 anos, é apontado como líder do grupo e responsável por transmissões ao vivo em que dissecava animais no Discord, aplicativo de mensagens amplamente utilizado por comunidades online. De acordo com os investigadores, os atos eram agendados e anunciados como verdadeiros “espetáculos de horrores”.

“Ele comandava o servidor, sabia de tudo o que acontecia ali. Os eventos eram programados, como uma execução de um coelho durante a Páscoa”, explicou a delegada Luiza Machado, titular da 19ª DP (Tijuca). A polícia encontrou durante a prisão a faca usada nas dissecações e a pele de um gato.

Ainda segundo as autoridades, Bruce se passava por ativista de proteção animal vinculado à ONU e alegava atuar como mediador de conflitos no Oriente Médio, o que lhe permitia manter uma fachada respeitável. “É um psicopata. Adotava os animais, depois os maltratava em transmissões ao vivo”, afirmou o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi.

O grupo também planejava o ataque interrompido neste domingo, que seria executado por Kayke Sant’Anna Franco, de 19 anos, e Caio Nicholas Augusto Coelho, de 18. Ambos pretendiam lançar coquetéis molotov contra um morador de rua e transmitir o crime pela internet. A polícia investiga quem estaria financiando essas ações, que, segundo a delegada, eram pagas via Pix. “Já temos nomes mencionados como financiadores, e vamos identificar essas pessoas”, disse Machado.

As investigações revelam que a organização utilizava ambientes digitais para incitar crimes como maus-tratos a animais, racismo, estupro virtual, apologia ao crime e automutilação. Tudo era promovido como forma de “entretenimento”, com forte apelo ao ódio e à violência.

Posicionamento do Discord

Em nota, o Discord afirmou adotar políticas rigorosas contra conteúdos que incentivem a violência ou o discurso de ódio. “Assim que identificamos comportamentos desse tipo, por meio de nossas ferramentas ou denúncias, agimos imediatamente com remoções, banimentos e desligamento de servidores”, declarou a empresa. A plataforma também destacou sua cooperação com autoridades brasileiras e ações que já resultaram em prisões em diversas operações.

Histórico de violência

Este não foi o primeiro caso envolvendo o grupo. Em fevereiro, um adolescente de 17 anos foi apreendido após lançar dois coquetéis molotov contra um morador de rua que dormia na calçada, na Avenida Geremário Dantas, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio. O ataque foi transmitido ao vivo pelo Discord. Dias depois, o Exército prendeu o militar Miguel Felipe dos Santos Guimarães da Silva, de 20 anos, suspeito de ter planejado e filmado o crime.

Ambos faziam parte do mesmo grupo criminoso, já monitorado pela Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV), que atua no combate a crimes envolvendo menores de idade e violência digital.