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Morre Lindomar Castilho, o 'Rei do Bolero', aos 85 anos

Consagrado artística teve trajetória marcada pelo assassinato da mulher em uma boate, que chocou o país

Por Meia Hora

Publicado em 20/12/2025 12:16:36
Lindomar Castilho, ícone da música brega brasileira
O cantor Lindomar Castilho, ícone da música brega brasileira, morreu aos 85 anos neste sábado (20). A informação foi confirmada pela filha do artista, Lili De Grammont. A causa da morte não foi divulgada.
Apelidado de "Rei do Bolero" pelo estilo sentimental de seu repertório, ele emplacou sucessos populares como "Você É Doida Demais" e "Eu Amo a Sua Mãe".
Além da consagração artística, Castilho teve a trajetória marcada por um episódio criminal de grande repercussão: em 1981, assassinou a ex-mulher, a cantora Eliane de Grammont, em um crime que chocou o Brasil. O crime aconteceu durante uma apresentação em São Paulo. Condenado a 12 anos de prisão, ele cumpriu parte da pena e deixou a cadeia nos anos 1990.
"Ao tirar a vida da minha mãe também morreu em vida. O homem que mata também morre. Morre o pai e nasce um assassino, morre uma família inteira", escreveu a filha do cantor na publicação.
"Se eu perdoei? Essa resposta não é simples como um sim ou não, ela envolve tudo e todas as camadas das dores e delícias de ser, um ser complexo e em evolução. Diante de tudo isso, desejo que a alma dele se cure, que sua masculinidade tóxica tenha sido transformada", continuou.
O crime chocou o Brasil e se tornou símbolo da luta contra a violência doméstica, com o lema "quem ama não mata".
"O que fica é: Somos finitos, nem melhores e nem piores do que o outro, não somos donos de nada e nem de ninguém, somos seres inacabados, que precisamos olhar para dentro e buscar nosso melhor, estar perto de pessoas que nos ajudem a trazer a beleza pra fora e isso inclui aceitarmos nossa vulnerabilidade", publicou Lili.

"Assim me despeço do meu pai", concluiu, "com a consciência de que a minha parte foi feita — com dor, sim, mas com todo o amor que aprendi a sentir e expressar nesta vida".
 
 
Trajetória 
Nascido em Rio Verde, no interior de Goiás, em 21 de janeiro de 1940, Castilho chegou a cursar Direito e a atuar como escrivão de polícia antes de abraçar a carreira. No início dos anos 1960, ele foi descoberto pelo produtor Diogo Mulero. Sob orientação do profissional, adotou o nome artístico Lindomar Castilho e lançou em 1962 seu primeiro LP, "Canções que Não Se Esquecem", interpretando clássicos do cantor Vicente Celestino.

Nas décadas de 1960 e 1970, ele consolidou uma carreira de enorme popularidade, cantando boleros, sambas-canção e outros ritmos românticos com interpretação intensa e emotiva. Sua voz potente e performance dramática renderam o título de "Rei do Bolero" e milhões de discos vendidos em todo o país.
Entre seus maiores sucessos destacam-se músicas como "Você É Doida Demais" (bolero de 1973 composto em parceria com Ronaldo Adriano famosa por ser a abertura do seriado "Os Normais"), a balada nordestina "Chamarada", além de canções como "Eu Amo a Sua Mãe" e "Tudo Tem a Ver".

Em 1979, Lindomar Castilho casou-se com a jovem cantora paulista Eliane de Grammont, com quem teve uma filha. O casamento, porém, durou pouco: segundo relatos, Lindomar era extremamente ciumento e agressivo, comportamentos agravados pelo alcoolismo, o que levou Eliane a pedir o divórcio após cerca de um ano de união conturbada.
Meses depois da separação, ela retomou a carreira musical e passou a se apresentar ao lado do violonista Carlos Randall, primo de Lindomar, em casas noturnas de São Paulo. Em 30 de março de 1981, tomado pelo ciúme, Lindomar invadiu uma boate onde Eliane cantava e atirou cinco vezes contra a ex-mulher. Um dos disparos feriu também o primo dele.

O cantor foi preso em flagrante e, em 1984, condenado por júri popular a 12 anos e 2 meses de prisão pelo homicídio. O crime teve grande repercussão e virou um marco emblemático na luta contra a violência doméstica, levando à criação em São Paulo da primeira Delegacia de Defesa da Mulher (1985) e do centro de apoio Casa Eliane de Grammont (1990), em homenagem à vítima.

Lindomar cumpriu parte da pena em regime semiaberto e obteve liberdade definitiva em 1996. Ainda na prisão, chegou a gravar um álbum intitulado "Muralhas da Solidão", produzido dentro do presídio em Goiânia.
Atendendo a apelos da filha, ele voltou aos estúdios anos depois de sair da cadeia e lançou em 2000 o disco "Lindomar Castilho ao Vivo", revisitando alguns de seus grandes sucessos. A recepção do público, no entanto, não foi como no início da carreira. O estigma do crime impediu uma retomada plena ao meio artístico e o cantor acabou se afastando dos palcos e da mídia.
Lindomar Castilho vivia recluso em Goiânia (GO), distante da vida pública e musical.