'Teve motivação homofóbica', diz casal de turistas agredido em praia de Porto de Galinhas
Por Agencia Estado
Publicado em 29/12/2025 22:13:53O casal de turistas de Mato Grosso agredido no sábado, 27, por barraqueiros na praia de Porto de Galinhas, em Pernambuco, após uma discussão sobre o valor do aluguel de cadeiras, afirma que foi vítima de homofobia. "Da forma como eles nos trataram, a gente acredita que esse foi um motivo também. Não foi só pelo preço da cadeira, teve motivação homofóbica", disse o personal Johnny Andrade ao Estadão.
Em redes sociais, os barraqueiros dizem que não houve essa motivação e que também teriam sido agredidos pelo casal (leia mais abaixo). A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco informou que 14 pessoas envolvidas nas agressões foram identificadas e serão indiciadas no inquérito aberto para apurar o caso.
Os suspeitos não tiveram os nomes divulgados, o que impossibilitou o contato com suas defesas.
A barraca onde as agressões começaram teve o funcionamento suspenso pela prefeitura. A reportagem não conseguiu contato com o proprietário.
Na tarde desta segunda-feira, 29, os empresários Cleiton Zanatta e Johnny Andrade tinham chegado a Maceió, capital de Alagoas, após passarem o domingo escondidos em um hotel de Ipojuca, município onde fica Porto de Galinhas. "Depois que saímos do hospital, fomos para o hotel e não saímos mais. Estamos muito machucados ainda, com o corpo todo doendo", disse Johnny.
Ele diz que ambos foram vítimas de uma tentativa de linchamento. "Eram aproximadamente 20 homens em cima da gente, batendo, chutando. Se não fossem os salva-vidas, estaríamos mortos", diz.
Na madrugada desta terça-feira, 30, o casal embarca em um voo para Cuiabá, a capital mato-grossense. "O que aconteceu com a gente foi uma atrocidade. Quando fomos pagar a conta, o valor era outro. Estavam cobrando quase o dobro. Eu me neguei a pagar, e ele jogou uma cadeira no meu rosto. O Cleiton conseguiu escapar naquele momento, mas depois o pegaram também."
Além da falta de policiamento na praia, ele diz que as pessoas assistiram as agressões sem fazer qualquer menção de ajudá-los. "Ficou todo mundo filmando, mas ninguém nos ajudou. Subiram até em cima do carro de bombeiros para continuar nos batendo." Para piorar, segundo ele, o hospital de Porto de Galinhas não tinha raio-X e eles foram removidos para Ipojuca, mas pagaram o transporte em ambulância.
Johnny e Cleiton confirmaram que vão processar a prefeitura, o Estado de Pernambuco e as pessoas que nos agrediram. "A gente sabe que alguns já foram identificados. Muita gente veio nos contar que passou pela mesma situação, então isso está acontecendo sempre. O poder público também precisa ser responsabilizado pela omissão."
O casal diz estar recebendo muita solidariedade e espera que a repercussão leve as autoridades a tomarem providências para evitar novas vítimas. "Eu sou empresário do ramo escolar, moro há 44 anos em Cuiabá, o Johnny está lá há dez anos. Já viajamos para muitos lugares, inclusive para o Rio de Janeiro, nunca vimos algo assim. A gente espera que a polícia e as autoridades tomem providências", disse Cleiton.
Reforço na segurança
A Associação de Barraqueiros do Litoral de Ipojuca (ABLI) divulgou nota, nesta segunda-feira, repudiando a violência e afirmando que, neste momento, "cabe apenas aguardar os desfechos das investigações".
O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Pernambuco (Abrasel-PE), Tony Sousa, divulgou nota lamentando o episódio. "O que aconteceu aqui foi algo lamentável. É algo que nos preocupa, mas estamos vendo ações do governo, da prefeitura e da polícia. Se elas forem eficientes, tudo isso pode ser uma oportunidade de melhorar o serviço e ser revertido em uma exposição positiva no futuro", diz.
A Associação dos Hotéis de Porto de Galinhas (AHPG), o Trade Turístico de Porto de Galinhas e a Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur) divulgaram notas lamentando o episódio e cobrando a responsabilização dos envolvidos.
Nesta segunda, a prefeitura informou ter reforçado as ações de fiscalização na orla, com ampliação do efetivo da Guarda Municipal e da Secretaria de Meio Ambiente no local. A fiscalização também será reforçada quanto ao cumprimento do Código de Defesa do Consumidor, inclusive sobre a ação de pessoas que atuam de forma irregular como "flanelinhas". Além disso, os agentes municipais deverão atuar de maneira intensificada para coibir práticas irregulares, como exigência de consumação mínima nos estabelecimentos.
Nas redes sociais, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSD), disse que o acontecido é absolutamente inadmissível. "Não vamos tratar como um incidente, vamos tratar como um crime grave, que aconteceu contra dois turistas que vieram nos visitar, que foram à praia e infelizmente foram espancados de maneira brutal por criminosos que estavam ali na praia." Ela confirmou que os 14 suspeitos já foram qualificados e serão indiciados.
Versão dos barraqueiros
Em um vídeo postado no Instagram, os barraqueiros dão sua versão para o ocorrido. "Primeiro, queria deixar claro que não existe cunho algum sobre homofobia. Não foi um caso de homofobia. Os caras estão tentando atrelar isso à história, e não foi isso. Aparentemente, os caras estavam embriagados", afirma um barraqueiro que não se identifica.
Em seguida, ele chama um rapaz que teria sido o barraqueiro que alugou as cadeiras para o casal e pede que conte como teria ocorrido. "Ele me agrediu, deu um mata-leão em mim. Primeiro, ele deu um tapa no cardápio, depois eu o empurrei", diz, referindo-se a um dos turistas.
Na sequência, o que aparenta ser representante dos barraqueiros volta a negar o cunho homofóbico das agressões. "Eu quero deixar claro que a gente adora o público homossexual, inclusive, é o melhor público, é o público que gasta, que consome. Não houve isso", afirma na postagem.