Mais Lidas

Veja como se adaptar a tendência do trabalho remoto e quais são os direitos do trabalhador

Segundo uma pesquisa da EY, 22,2% das pessoas consideram a presença da família como principal desafio do teletrabalho. Confira dicas de especialistas para contornar a situação

Cerca de 27,2% dos trabalhadores consideram que a diferença da qualidade de conexão é um dos maiores contratempos desse modelo de trabalho
Cerca de 27,2% dos trabalhadores consideram que a diferença da qualidade de conexão é um dos maiores contratempos desse modelo de trabalho -
Rio - Com a chegada da pandemia no Brasil, em março do ano passado, muitos trabalhadores e empresas precisaram se adaptar ao regime de trabalho remoto. Apesar de ter chegado para ficar e ter um futuro promissor, o home office ainda é sinônimo de desafio para muitas pessoas. Cerca de 27,2% consideram que a diferença da qualidade de conexão é um dos maiores contratempos desse modelo de trabalho, enquanto 22,2% apontam a presença da família combinada com a falta de um espaço privado como principal problema, conforme mostraram os dados de uma pesquisa realizada pela organização global EY.
Mesmo com as dificuldades, o estudo mostra que a maioria dos trabalhadores consideram que aumentaram sua produtividade ao trabalhar em casa. E, de acordo com especialistas da área, é bom se adaptar, porque o home office já é uma tendência do mercado de trabalho. 
"No futuro, as empresas já terão o tempo necessário para amadurecer a experiência, alterar estratégias que tenham dado errado, em uma tentativa inicial, experimentar pessoas e processos e estarão bem mais adaptadas a este formato. Além disso, dificilmente irão buscar maximizar seus custos com infraestrutura para absorver novamente seus colaboradores internamente, caso os resultados estejam dando certo", explicou Claudio Ricciopo, especialista em Gestão de Carreira e CEO da Employability.
"Os próprios processos de recrutamento e seleção foram facilitados. A absorção de colaboradores de outras regiões com o trabalho home office permitiu que vagas de emprego, anteriormente mais difíceis de serem fechadas, por uma carência de mão de obra qualificada no território da empresa, fossem mais facilmente solucionadas", completou. 
Os maiores desafios
"As maiores dificuldades são o foco, a concentração nas atividades, porque o home office tem muitas distrações. Muitas pessoas têm filhos pequenos, por exemplo, ou as vezes um outro familiar que fica em casa e pode chamar atenção, demandar essa pessoa, fazer perguntas, sem se dar conta que essa pessoa pode estar numa reunião ou ocupada. As vezes o local onde as pessoas estão trabalhando é uma sala, um quarto, na maioria das vezes não se tem um escritório próprio para o trabalho e isso acaba atrapalhando um pouco", afirmou a psicóloga e coach de carreira Aline Saramago. 
Além da convivência familiar, Ricciopo reforçou outros pontos mais técnicos que podem ser um problema no teletrabalho, como a conexão com a internet e uma comunicação interna ruim, no caso de quem trabalha em empresas. 
"Os pontos mais comuns que costumo destacar são os problemas de conexão com a internet, que podem deixar o colaborador temporariamente fora de atividade e as dificuldades na comunicação interna, que já são um problema de muitas corporações quando todo o time está junto e, são naturalmente potencializadas pela distância física das partes", acrescentou. 
Como se adaptar ao modelo de trabalho remoto?
Para o especialista em gestão de carreira, os problemas são divididos entre os que podem ser resolvidos e os que não podem. Por exemplo, o convívio com os filhos, que podem estar em casa por conta das escolas fechadas e reduzidas, é algo que o trabalhador não pode resolver nesse momento. Por outro lado, a organização do tempo e do ambiente de trabalho, podem facilitar a vida na hora de se adaptar. 
Regras e limites pessoais também podem ser fortes aliados dos trabalhadores nesse momento, como orientou a psicóloga Aline Saramago.
"É muito importante colocar limites e regras na casa, para que não tenham interrupções, já que existem momentos em que a pessoa precisa estar focada no trabalho. Então, nada como um bom diálogo, com empatia e paciência para lidar, porque as vezes as pessoas, principalmente crianças, tem certa limitação para compreender esses limites. Ao meu ver essa negociação pode resolver. Caso não resolva, é interessante que se busque um psicólogo, para lidar com questões emocionais que podem estar acontecendo, como brigas, estresses e ansiedade". 
"Por estar em casa, muitas pessoas acabam trabalhando mais, têm mais dificuldade de perceber os limites de tempo e dedicação ao trabalho. Estabelecer esses limites e regras é indispensável", completou. 
Os direitos trabalhistas no teletrabalho
O trabalho à distância requer esforço, tanto do colaborador, quanto da empresa. Mas, é importante estar atento aos direitos trabalhistas nesse momento. "O artigo 6º, da Consolidação das leis do Trabalho, a conhecida CLT, prevê que não há distinção entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador, do executado no domicílio do empregado e o realizado a distância. Os direitos para aqueles que trabalham na empresa ou, em sua casa, são idênticos", reforçou Ricardo Basile, especialista em Direito Trabalhista e sócio do Escritório Basile Advogados.
Porém, alguns pontos devem ser observados com mais cuidado ainda. "O mais importantes é observar corretamente as regras ergonômicas, a fim de assegurar a saúde do trabalhador e o cumprimento da correta jornada de trabalho. Cabendo afirmar que quando horas extras são praticadas, mesmo que em home office, estas devem ser pagas com todos os adicionais legais, como se o trabalho fosse cumprido presencialmente", completou. 
O advogado trabalhista Solon Tempedino, do escritório Solon Tepedino Advogados, orientou também sobre a manutenção de benefícios como vale-refeição e transporte.
"Os benefícios que o empregado recebia no trabalho presencial devem ser mantidos, justamente por não existir distinção no trabalho realizado. O vale-refeição, por exemplo, é necessidade mesmo estando em casa, então esse benefício deve ser preservado sim. É claro que, o vale-transporte, por exemplo, pode ser cortado já que não vai mais existir o deslocamento". 
Segundo ele, a empresa deve, ainda, arcar com a infraestrutura necessária para a realização do trabalho. "A legislação que existiu durante a pandemia foi a MP 927, que acabou perdendo sua vigência. Essa medida não especifica quem deve arcar com as despesas de aquisição e manutenção dos equipamentos de trabalho, como computador e internet. No entanto, ela prevê que se o empregado não possuir a infraestrutura necessária para prestar o serviço, o empregador deve fornecer esses equipamentos, devendo ser previsto, inclusive, em contrato". 
"Como os trabalhadores já possuem na grande maioria das vezes, estas despesas em seus lares, os valores devem ser negociados. Entretanto, em não havendo consenso entre as partes, entendo que se não houver o devido pagamento indenizatório ao trabalhador pelas despesas que este adquiriu, para desenvolver seu trabalho em home office, cabe ajuizamento de ação trabalhista para compelir o empregador a tal", finalizou Basile.