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Maior parte das crianças vítimas de bala perdida foi alvo de tiroteios entre polícia e bandidos

Segundo a ONG Rio de Paz, foram 57 vítimas fatais de bala perdida nos últimos 12 anos

Em manifestação, moradores de Triagem cobraram Justiça para o assassinato da menina Jenifer, de 11 anos
Em manifestação, moradores de Triagem cobraram Justiça para o assassinato da menina Jenifer, de 11 anos -
Um levantamento da ONG Rio de Paz, divulgado nesta sexta-feira (27), revela que a maior parte das crianças mortas vítimas de bala perdida no Rio de Janeiro, desde 2007, perdeu a vida durante confronto entre policiais e criminosos. Ao todo, 57 crianças foram mortas por bala perdida no período -30 delas durante confronto entre policiais e criminosos. 
Em 2015, foram sete crianças mortas. O número subiu para dez em 2016. E manteve-se o mesmo, anualmente, até 2018. Este ano, cinco crianças já foram assassinadas por bala perdida.
Ainda de acordo com o documento, dos 57 casos, a maior parte das crianças foi atingida na cabeça (19), eram negras (32 casos) e do sexo masculino (34). E a maioria das ocorrências foi registrada em favelas cariocas (82%), como o Complexo do Alemão, Complexo da Maré e Cidade de Deus.
Na última quinta-feira (26), Katia Cilene Gomes, mãe de Jenifer Cilene Gomes, de 11 anos, primeira criança morta durante ação da polícia em 2019, declarou que não recebeu nenhuma assistência do Estado desde o assassinato da menina. Ela participou de audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que apura casos em que menores foram vitimados por ação de PMs.

Jenifer foi morta dia 24 de fevereiro em uma comunidade no bairro de Triagem, Zona Norte do Rio, tendo sido a primeira das cinco crianças assassinadas em ações da polícia, de um total de 17 baleadas este ano. O caso mais recente foi de Ághata Félix, de 8 anos, assassinada na última sexta-feira (20), na Favela da Fazendinha, no Complexo do Alemão, Zona Oeste.

“Minha filha estava em frente ao meu bar brincando. Tudo aconteceu muito rápido, eu comecei a ouvir disparos de tiros, pedi para que ela entrasse no bar e foi aí que ela me disse que tinha sido atingida. Comecei a pedir socorro e demorou até os policiais que estavam à paisana pararem de atirar. Eles alegaram que estava tendo confronto, mas a rua estava vazia. Desde que perdi a minha filha não tive nenhuma ajuda do estado. Meu filho está tendo que tomar um medicamento forte e caro e até isso eu estou tendo que pagar”, lamentou Kátia.
Presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa destacou que a maior parte das vítimas é de moradores das favelas. 
“Esses números mostram que esse é um drama vivido quase que exclusivamente pelo morador de favela. Certamente, esse é o motivo pelo qual nenhuma dessas mortes ter causado mudança nas políticas de segurança pública do estado do Rio de Janeiro. O tiroteio nessas áreas tão densamente povoadas é uma irresponsabilidade”, criticou.