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Ex- presidente do Paraguai é alvo de operação da PF

São 37 mandados de prisão, que estão sendo cumpridos no Rio, em São Paulo e no Mato Grosso do Sul

O ex-presidente do Paraguai, Horacio Cartes
O ex-presidente do Paraguai, Horacio Cartes -
A força-tarefa da Lava Jato faz, desde o início da manhã desta terça-feira, a Operação Patrón, contra suspeitos de envolvimento com Dario Messer, conhecido como o "doleiro dos doleiros". São 20 mandados de prisão (17 preventivas e três temporárias) e vários outros de busca e apreensão. Um dos principais alvos é o ex-presidente e atual senador do Paraguai Horacio Cartes, que governou o país vizinho de 2013 a 2018.

O próprio Messer, que está preso preventivamente desde julho, é alvo de um dos mandados de prisão, o também doleiro Najun Turner (já condenado), além de empresários também suspeitos de operar com câmbio ilegal e ocultar os recursos das autoridades.

Os mandados estão sendo cumpridos por cerca de 100 agentes no Rio (capital), Búzios (Região dos Lagos), na Grande São Paulo e em Ponta Porã (Mato Grosso do Sul). Há ainda o cumprimento de ordens na fronteira do Brasil com o Paraguai.

CÂMBIO, DESLIGO

A ação é um desdobramento da Operação Câmbio, Desligo, que investiga desde maio de 2018 lavagem de dinheiro e organização criminosa envolvendo Messer. As investigações de agora, com foco no ramo paraguaio da organização, identificaram que o doleiro ocultou cerca de US$ 20 milhões. Desse montante, mais de US$ 17 milhões teriam sido depositados em um banco nas Bahamas e o restante pulverizado no Paraguai entre doleiros, casas de câmbio, empresários, políticos e uma advogada.

De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), a ramificação no Paraguai foi mapeada a partir de celulares, computadores e documentos apreendidos com Messer em São Paulo, além da análise de dados telemáticos obtidos com autorização judicial. Cópias de mensagens de WhatsApp atestaram o auxílio de autoridades paraguaias e outros cidadãos para o doleiro ficar foragido ora no Paraguai, ora no Brasil.

Por esses dados constatou-se que a organização criminosa disponibilizou pelo menos US$ 2,5 milhões a Messer. As apurações revelaram que Cartes teria enviado US$ 500 mil para o doleiro, a quem se referiu como "hermano de alma", após sua fuga para o país que ele governava até agosto de 2018. As famílias Messer e Cartes fazem negócios desde os anos 1980 e um relatório de uma CPI no Paraguai definiu Dario como sócio oculto do atual senador.

O material apreendido comprovou que os crimes da organização não acabaram mesmo após a Operação Câmbio, Desligo.

"Ao contrário, a complexa rede do submundo do mercado ilícito de capitais o acolheu porque já inserida em sua própria organização, dela jamais tendo se dissociado", ressaltou força-tarefa da Lava Jato no Rio, na petição à Justiça.

PRISÃO DE CARTES

A Justiça Federal concordou que a prisão de Cartes é necessária devido a graves riscos para a ordem pública, pela contemporaneidade e gravidade dos crimes investigados e por ser a única forma para interromper os crimes de lavagem de dinheiro já comprovados e, assim, debelar de forma definitiva essa organização transnacional.

"Se, mesmo como presidente da República, Cartes manteve-se alinhado à Orcrim brasiguaia, sem mandato e, portanto, sem preocupação em se expor, terá muito mais desenvoltura para continuar financiando, com seu enorme poder econômico, e tramando, com o seu não menor poder político, para que as autoridades de persecução não o atinjam e nem ao seu 'irmão de alma' Dario Messer, que não hesitou em cobrar do 'patrão' em carta manuscrita de próprio punho, além de dinheiro, 'o seu apoio de sempre'"”, afirmam os 11 membros da Lava Jato do Rio, autores da petição, na qual se manifestam favoráveis aos mandados requeridos pela PF e à prisão preventiva do ex-presidente.

Para os investigadores, Cartes está inserido no núcleo político do braço paraguaio, que tem ainda outros empresários e a família Mota, possivelmente ligada ao contrabando de cigarros e ao tráfico de drogas e armas e que deu abrigo e apoio logístico para Messer naquele país. Os outros núcleos desse braço criminoso são o financeiro, com Najun Turner e outros sete doleiros, e operacional, da família da namorada Myra Athayde, que garantiu o transporte e o recebimento de recursos financeiros ocultos do doleiro

Os alvos da operação:

1. Dario Messer (doleiro)

2. Myra de Oliveira Athayde (namorada de Messer)*

3. Alcione Maria Mello de Oliveira Athayde (mãe de Myra)*

4. Arleir Francisco Bellieny (padrasto de Myra)*

5. Roland Pascal Gerbauld (doleiro investigado por lavar dinheiro nos Estados Unidos e Bahamas)*

6. Roque Fabiano Silveira (empresário na fronteira, portador do pedido de dinheiro de Messer para Cartes)

7. Lucas Lucio Mereles Paredes (doleiro da rede de Messer há uma década)

8. Najun Azario Flato Turner (doleiro atualmente foragido que ajudou Messer após ele voltar para o Brasil)*

9. Luiz Carlos de Andrade Fonseca (doleiro, sócio da Entertour, usada para remessas feitas a Messer)*

10. Felipe Cogorno Alvarez (empresário do grupo Cogorno investigado por ocultar US$ 500 mil para Messer)

11. Edgar Ceferino Aranda Franco (doleiro, dono da FE Cambios SA, usada como cofre para dinheiro ilícito)

12. José Fermin Valdez Gonzalez (doleiro, gerente da FE Cambios SA)

13. Jorge Alberto Ojeda Segovia (Finolo, doleiro com longa parceria com Messer)

14. Maria Letícia Bobeda Andrada (advogada filha de senador que ocultou US$ 150 mil de Messer para fins ilícitos)

15. Antonio Joaquim da Mota (Tonho, empresário ligado a crimes com cigarros, drogas e armas e que abrigou Messer em propriedades da família no Paraguai)*

16. Cecy Medes Gonçalves da Mota (mulher de Tonho)*

17. Horácio Manuel Cartes Jara (Patrão, político com empresas em vários setores)

18. Valter Pereira Lima (doleiro)*

19. Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota (filho de Tonho e empresário no Brasil e Paraguai)*

20. Orlando Mendes Gonçalves Stedile (enteado de Tonho)*

* Alvos também de busca e apreensão

O nome da operação, Patrón (em espanhol patrão) é, de acordo com a Polícia Federal, o termo que Messer utilizava para se referir a Cartes. Os mandados foram expedidos pela 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, do juiz Marcelo Bretas.
O ex-presidente do Paraguai, Horacio Cartes Wilson Dias / Agência Brasil
Messer foi capturado por agentes da PF em um flat na capital paulista Divulgação / Polícia Federal