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Polícia indicia jogador Ramirez, do Bahia, por injuria racial contra Gerson, do Flamengo

Volante acusou o meia de ter lhe dito "cala a boca, negro" durante um duelo da equipe contra o Flamengo, no Maracanã, em dezembro de 2020

Gerson acusou Ramírez de racismo no jogo com o Flamengo
Gerson acusou Ramírez de racismo no jogo com o Flamengo -
Rio - A Polícia Civil do Rio indiciou o jogador Ramirez, do Bahia, por injúria racial contra o jogador Gerson, do Flamengo. O volante acusou o meia de ter lhe dito "cala a boca, negro" durante um duelo da equipe contra o Flamengo, no Maracanã, em dezembro de 2020.
No meio da partida, Gerson discutiu com Mano Menezes, na época técnico do Bahia. Em um determinado momento, o camisa 8 estava indignado, mostrando irritação maior do que o comum. Depois do apito final, o jogador do Flamengo explicou o motivo.
"Tenho vários jogos pelo profissional e nunca vim na imprensa falar nada porque nunca tinha sofrido preconceito, nem sido vítima nenhuma vez. O Ramirez, quando tomamos acho que o segundo gol, o Bruno fingiu que ia chutar a bola e ele reclamou com o Bruno. Eu fui falar com ele e ele falou bem assim para mim: "Cala a boca, negro". Eu nunca falei nada disso, porque nunca sofri. Mas isso aí eu não aceito", disse Gerson logo após a partida.
O inquérito para investigar o ato foi instaurado no dia seguinte ao duelo. De acordo com a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), testemunhas foram ouvidas, a súmula do jogo e imagens da partida foram analisadas e comprovam a indignação imediata de Gerson ao ouvir a ofensa racial.
Além disso, em depoimento, companheiros de equipe de Gerson acrescentaram que o jogador ficou muito abalado com a agressão, cabisbaixo e apresentou comportamento diferente do normal no vestiário e se recusou a encontrar parte do elenco após o jogo, pois estava triste com o fato ocorrido. Ramirez, no entanto, negou a injúria racial e afirmou que apenas disse "joga rápido, irmão".
Para a polícia, "o conjunto probatório coligido em sede policial corroborou toda a dinâmica do fato e versão da vítima, desde o momento que disse ter sofrido a agressão injuriosa por preconceito até seu comportamento após o término da partida."
O caso
Segundo Gerson, Ramirez o chamou de negro em tom pejorativo no início do segundo tempo da partida disputada em 20 de dezembro, vencida pelo Flamengo, no Maracanã, por 4 a 3.
De acordo com o jogador flamenguista, a injúria também teria sido ouvida por um de seus colegas de time, o zagueiro Natan. Além disso, o fato teria ocorrido próximo ao atacante Bruno Henrique, que teria tido uma discussão com Ramirez antes da suposta injúria. Um dia após a partida, Ramirez negou que tenha cometido qualquer ofensa de cunho racial e alegou ter sido mal entendido, uma vez que é colombiano e não domina a língua portuguesa.
O técnico Mano Menezes chegou a discutir com Gerson e chegou a dizer que se tratava de malandragem do atleta do Flamengo. Mano perdeu o emprego no mesmo dia, mas, segundo a diretoria do clube baiano, a demissão não teve relação com o caso e sim com o mau momento pelo qual o time atravessa no campeonato.
Após o caso, o Flamengo contratou especialistas em leitura labial, que produziram um laudo confirmando a suposta ofensa. O Bahia afastou Ramirez temporariamente logo depois do jogo, mas reintegrou o atleta pouco depois por conta de outro laudo, produzido por especialistas contratados pelo clube baiano, não ter conseguido localizar a ofensa.