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Mãe de adolescente morto no Morro do Fubá pede justiça pela morte do filho

"Tiraram um pedaço de mim", diz Alessandra Conceição durante velório do jovem

Alessandra Conceição, 34 anos, mãe de Ray Pinto Faria, de 14 anos
Alessandra Conceição, 34 anos, mãe de Ray Pinto Faria, de 14 anos -
Rio - A mãe do adolescente Ray Pinto Faria, de 14 anos, voltou a pedir justiça pela morte do filho. Alessandra Conceição Pinto, de 34 anos, disse estar sofrendo bastante com os apontamentos que o jovem exercia a função de ‘cobrador de impostos’ da milícia na Zona Norte do Rio. Segundo ela, Ray não tinha envolvimento e, assim como muitos meninos de comunidade, tinha o sonho de ser jogador de futebol.
Alessandra só descobriu onde o filho estava pois foi atrás. “Se eu não fosse procurar, eu não ia saberia do meu filho até hoje. Jogaram ele no [Hospital Municipal] Salgado Filho sem eu nem saber de nada”, contou Alessandra em conversa com a ONG Rio de Paz durante o velório do jovem, no começo da tarde desta quarta-feira, na Comunidade do Campinho, ao lado do Morro do Fubá, Zona Norte do Rio.

Desolada, Alessandra e a família de Ray acusam a PM pela morte do adolescente. Segundo os parentes, o menino estava no portão de casa quando foi abordado e levado pelos agentes. Eles afirmam que passaram algumas horas sem saber do paradeiro de Ray, até receberem a informação de que o adolescente estava no Hospital Municipal Salgado Filho, onde foi encontrado morto por sua mãe.

Ray deixa dois irmãos, um de 12 e outro de 17 anos, e uma comunidade de luto. “Os irmãos estão sofrendo e pedem para o irmão voltar. Toda a comunidade está triste”, disse Alessandra. Na noite de segunda-feira, dezenas de pessoas fizeram uma manifestação na comunidade pedindo "Justiça para o Ray". Durante a segunda-feira, um ônibus foi vandalizado e outro, incendiado durante protesto.

Agora, a mãe do adolescente morto tenta se reerguer para descobrir quem matou seu filho. “Tiraram um pedaço de mim mas tenho que seguir a vida pois tenho mais dois filhos para criar. Mas o que fizeram foi uma injustiça com o meu filho. Já houve outra morte de adolescente e a família se calou, mas eu não”, afirmou Alessandra.

Segundo o primo, os policiais levaram o equipamento de câmera de segurança de uma padaria da comunidade que poderia ajudar a esclarecer o caso.
A Delegacia de Homicídios investiga o caso. Policiais da DH estiveram no Morro do Fubá nesta terça-feira para uma perícia. O objetivo é descobrir de onde partiram os disparos que mataram Ray. O resultado deve sair em pelo menos dez dias.

Sem recursos para o sepultamento do adolescente, orçado em R$ 3 mil, a família pediu ajuda à ONG Rio de Paz, que contribuiu com os custos. O corpo do adolescente Ray Pinto Farias, de 14 anos, será enterrado nesta quarta-feira, às 15h, no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio.

O presidente da organização, Antonio Carlos Costa, cobrou mudanças para que o Rio pare de perder crianças para a violência. Ele defendeu que armas deixem de chegar às mãos de criminosos, que a sociedade pare de celebrar a guerra e que as Polícias priorizem a preservação da vida dos moradores de comunidades durante as operações.

"Entre 2007 e 2021, 81 crianças foram mortas por bala perdida, ou, permita-me dizer, bala achada, no Estado do Rio de Janeiro. Sempre que um menino ou uma menina morrem de forma tão banal e hedionda, pensamos que tudo vai mudar, mas nada muda. O motivo deve-se ao fato de que esses pequeninos moram em comunidades cujos moradores são considerados, pelo Poder Público e grande parte da sociedade, matáveis", declarou Antonio Carlos Costa.
PM confirma operação na região
Na segunda-feira, a PM confirmou que o 1º Comando de Policiamento de Área (CPA) e o Comando de Operações Especiais (COE) atuaram na Zona Norte da cidade do Rio. Segundo a PM, a operação tinha por objetivo "coibir movimentações de grupos criminosos na região".
Segundo a nota da PM, houve confronto entre PMs e criminosos armados nas comunidades do Urubu e do Fubá. Na comunidade do Urubu, foram localizados dois feridos; no Fubá, houve um ferido. As três pessoas foram encaminhadas ao Hospital Municipal Salgado Filho e morreram.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que Ray Pinto Faria chegou morto e sem identificação à unidade hospitalar. A família já reconheceu o corpo do rapaz. Ele será enterrado nesta quarta-feira às 15h no Cemitério de Irajá.
Alessandra Conceição, 34 anos, mãe de Ray Pinto Faria, de 14 anos Divulgação/ ONG Rio de Paz
Ray Pinto Faria, de 14 anos, tem corpo velado na tarde desta quarta-feira, na Comunidade Campinho ONG Rio de Paz
Ray Pinto Faria, de 14 anos, tem corpo velado na tarde desta quarta-feira, na Comunidade Campinho ONG Rio de Paz