'Me acabo no Carnaval'
MILTON CUNHA DIZ QUE APROVEITA MUITO A FOLIA E REVELA SUAS APOSTAS PARA OS DESFILES DESTE ANO

Milton Cunha � do tipo que chega, chegando. Com um look brilhoso e uma energia contagiante, cumprimentou todos que passaram por ele na sede do jornal MEIA HORA, na Lapa, onde posou para um ensaio bem alto-astral, no clima do Carnaval, e conversou com a equipe de reportagem do Se Liga! No Meia Hora. Com uma humildade sem tamanho e uma opini�o forte, Milton n�o fugiu de nenhuma pergunta. N�o � para menos que ele � t�o querido pelo p�blico.
Refer�ncia quando o assunto � Carnaval, Milton faz o maior sucesso com seus quadros e reportagens no telejornal "RJTV", da Globo, e se prepara para brilhar mais uma vez como comentarista dos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial, ao lado de F�tima Bernardes, Alex Escobar e Pretinho da Serrinha, hoje e amanh�, na emissora. E ele n�o tem medo de arriscar quais agremia��es v�o fazer bonito na Sapuca�. "Acho que fica entre Grande Rio, Salgueiro, Mangueira", aposta Milton, que revela que a Uni�o da Ilha � sua escola de cora��o.
Durante a transmiss�o dos desfiles, Milton n�o faz tipo na hora de dar sua opini�o. "Se eu fosse s� esse palha�o fantasiado que n�o soubesse falar, dar sua opini�o, acho que o palha�o passaria batido. O que me move � o amor pelos fazedores de escola de samba. Eu amo o artista popular. O pintor, o escultor, o sapateiro, o ferreiro, a velha baiana. Aquilo d� um trabalho. Aquilo � de um sacrif�cio de p�r na Avenida. Ent�o, quando entra, eu encho a bola mesmo", afirma ele, que n�o deixa de fazer cr�ticas em seus coment�rios.
Nesta entrevista, Milton fala sobre Carnaval, televis�o, o carinho do p�blico, preconceito, sua briga com o carnavalesco Paulo Barros, em 2016, e muito mais. Confira o bate-papo!
Este � seu sexto ano comentando os desfiles das escolas.
Este � meu sexto ano. E no primeiro ano, foi assim: bati nas costas de Miguel Athayde, diretor de jornalismo do Rio, no meio da Sapuca� e perguntei se ele nunca ia me dar uma chance. Ent�o, ele disse: "Segunda-feira, �s 8h da manh�, na minha sala". E eu apareci. L�, me levaram e disseram: "Gravando". Subi na primeira �rvore que eu encontrei e comecei a fazer uma mat�ria de l� de cima. Passei no teste e nunca mais sa� da Globo. Depois, o Boninho me chamou para sair do Grupo de Acesso e ir para o Especial. Foi um sucesso, estourado de memes das minhas falas, como "Que coisa mequetrefe", "Que coisa mais chinfrim" e "Um recurso que n�o deu certo". Tenho esse personagem afetado, enfeitado. Adoro ele. Adoro esse Milton, que n�o tem nada a ver com o Milton l� de casa. Mas � um personagem que me faz muito bem, porque ele vem para aplacar essa minha vontade de ser ator. Esse meu personagem acalma bastante.
Voc� se encontrou na televis�o?
Usei o Carnaval para chegar na televis�o. Quando eu vim pro Rio de pau de arara, em 1982, vim para trabalhar no teatro, na �pera, no bal�, j� estava formado em Psicologia. Quando o An�sio (An�zio Abrah�o David, presidente de honra da Beija-Flor) me convidou para virar carnavalesco, disse: "Imagina, est� louco? Estudei, vou ser diretor de teatro e tal". E ele me perguntou que, se eu fosse fazer uma �pera, um bal�, sobre o que eu faria. Respondi que faria sobre a vida da pintora Margaret Mee. E ele disse: "Isso � Carnaval. Desenha a� pra eu ver". Desenhei, fiz o primeiro, o segundo. Fui entendendo que, se eu dominasse a linguagem narrativa da escola de samba, se estudasse mais academicamente, se eu falasse franc�s, ingl�s, iria trilhar um caminho que era o que eu queria: o da comunica��o. A� foi pintando. A CNT chamou, a Educativa, a r�dio, o jornal, a Band chamou pro Desfile das Campe�s e pro Festival de Parintins. E a Globo nunca chamava. Eu dizia: "Meu Deus, vou morrer sem a V�nus Platinada'. At� que bati nas costas do Miguel Athayde e tudo come�ou.
Voc� j� pensou em ter programa de TV?
Rezo todos os dias. Todo mundo diz que eu vou conseguir, vou bater nas costas de todos os diretores para ter esse programa, mas eu n�o quero programa falso. Quero programa sacaneando todo mundo, todo mundo me sacaneando e gritaria, pov�o, gente doida.
E seu lado ator, j� pensou em fazer novela?
Adoraria fazer um personagem assim... Imagina eu de criado chique da Fernanda Montenegro. Eu apaixonado pela socialite, eu servindo bandejas de prata, ia ser um deboche, ia ser o m�ximo.
Quais s�o suas apostas para o Carnaval?
O barrac�o mais bonito � o da Grande Rio. � Renato Lage. � Chacrinha. Acho que, se o samba, que � chiclete, pegar, pode ser o bicho-pap�o. Barrac�es bonitos, al�m da Grande Rio, diria Salgueiro e Mangueira. Acho que fica entre Grande Rio, Salgueiro, Mangueira.
Voc� acha que a redu��o de verba no Carnaval deste ano vai afetar o desfile das escolas?
Vai afetar, sim. Mas vai afetar pra melhor. Porque s� sobrou a emo��o. J� que n�o tem dinheiro, j� que visualmente � mais humilde, menos carros, menos componentes e tal. Acho que vai sobrar essa coisa de: "Ah, �?! Voc� n�o quer dar o dinheiro? Ent�o, pera a� que vou te mostrar a for�a que isso aqui tem".
Voc� tem uma escola de samba de cora��o?
Ilha! Uni�o da Ilha do Governador, porque � alegre, simp�tica. A que n�o � rica, mas que tem muita alegria. Porque acabo achando que Carnaval � disputa de alegria. Acho que a mais alegre deve ganhar, mesmo que n�o seja a mais bonita. Ent�o, sempre tor�o para a mais feliz. Porque � escola de samba, n�o � escola de raio laser, nem de espelho, nem de dinheiro. � a que mais dan�a, a que mais canta, a que mais emociona. Queria que a que mais emocionasse ganhasse todos os anos.
E com toda essa agenda carnavalesca, voc� n�o sente vontade de voltar a ser carnavalesco?
N�o sinto, porque o barrac�o foi o aprendizado das t�cnicas para que eu pudesse me tornar uma voz do barrac�o. Sou muito mais importante na narra��o, porque trago essa voz do barrac�o ao lado dos meus amigos jornalistas, que n�o s�o sambistas. E eu sou um sambista de ficar na porta das quadras bebendo com a Velha Guarda at� 6h da manh�. Sou desses do mocot�, do caldo de ervilha, da feijoada.
Voc� � aclamado pelo p�blico.
Demais! Eles batem panela pra mim. Grita motorista de �nibus, a velha da van. Mas d� pra sair na rua, porque sou desses de enfrentar. Vou ao hortifr�ti, ao supermercado, fa�o compras, as velhas me agarram, grito no meio do mercado. Tudo pra mim eu quero fazer show. Entre as g�ndolas, os abacates, fa�o palha�ada. Sou de subir no setor 1 e bater 500 mil fotos. Gosto da gritaria, da papagaiada. Nasci pra isso. Isso n�o me cansa.
Voc� consegue curtir o Carnaval mesmo trabalhando nesta �poca?
Eu vou para bloco, fui padrinho do bloco Sempre Vila, fui enredo do bloco Amigos da Barra, vou para baile, fa�o meu baile de Carnaval, o Glam Gay. Este ano, a Sabrina Sato foi minha rainha. Eu aproveito muito. Me acabo no Carnaval. Mas eu termino me arrastando. � a morte, minha energia vai embora, mas eu quero que ela v�. Quero aproveitar. N�o quero ser s� te�rico. Quero ver a folia, como os blocos est�o se fantasiando, quem s�o essas pessoas e passa o gari e grita: "Eu gostei da escola tal, da sua mat�ria". A proximidade com as pessoas me alimenta. N�o quero a fama para me afastar das pessoas. Quero cada vez mais mostrar que todos n�s somos iguais.
E seus figurinos, � voc� quem cria?
Para cada ano, fa�o um conceito. J� teve ano que eram camisas com plumas, teve ano que eram ternos color block (mistura de cores vibrantes). Sempre fa�o 20 ternos por ano para o trabalho. Tenho l� na Cidade do Samba 200 ternos, tenho uma cole��o linda. Este ano, o conceito era ternos de brilho com pedrarias. Depois que fa�o o conceito, eu vou no Babado da Folia, escolho os panos, mando fazer os ternos, volta e o Babado decora. Para as transmiss�es, j� � outro conceito. Porque tem a c�mera do est�dio de vidro. N�o pode ser brilho, tem que ser colorid�ssima. A�, pe�o pra Alessa fazer as estampas e eu fa�o os ternos.
Voc� j� sofreu preconceito por ser gay no mundo do samba?
Muito. Na verdade, desde que nasci que vejo o preconceito. "Nossa, voc� � t�o bonito, mas voc� � t�o pintoso, n�?", "Voc� � t�o assumido". E olha, com 4 anos, eu j� era isso. J� desmunhecava, era uma Carmen Miranda. E tomava porrada de meu pai, de minha m�e. Quantos diretores j� me disseram: "Ah, se voc� n�o fosse t�o veado, voc� j� teria um programa". Eu digo: "Meu amor, se pra eu ter um programa, preciso n�o ser eu, se eu preciso fingir, n�o me interessa". Eu dou de cara com o preconceito.
Voc� se diz uma pessoa cr�tica. Em algum momento, isso j� te atrapalhou?
Atrapalha no sentido de que eu n�o consigo estabelecer la�os com os criticados (risos). Sempre fico no meio do caminho. "Ah, o Milton � legal, o p�blico adora ele, mas ele j� falou isso". A�, digo: "Ah, meu amor, se eu j� disse isso, t� �timo, sobrevivi. O que eu quero � o aplauso da multid�o. N�o quero o aplauso do contratante, n�o. Eu quero � o povo gritando por mim. Eles me gritam e est� �timo".
Como ficou sua hist�ria com Paulo Barros? Em 2016, quando Paulo era carnavalesco da Portela, voc� fez uma cr�tica ao desfile da escola, ele rebateu... Voc�s n�o se falam mais?
Ele n�o gostou de eu n�o ter gostado. E ele n�o me perdoou. � interessante porque ele era meu amic�ssimo, at� aquele dia. Sempre me disse: "Nossa, Milton, minha m�e te adora, porque, no tempo em que ningu�m gostava do que eu fazia, voc� j� elogiava muito". Isso na CNT. � um homem important�ssimo, um artista divisor de �guas, que cometeu erros. Tem desfiles horrorosos, como ali�s Jo�o (Jo�osinho Trinta) tem, Rosa Magalh�es tem, Renato Lage tem. Em cima e embaixo, ele est� entre os grandes. Agora, n�o me perdoou por eu n�o ter gostado do neg�cio da �gua. Tenho todo o respeito do mundo. "L� vem o Paulo Barros", mas eu vou continuar dando minha opini�o. Mas eu quero superar essa desaven�a. N�o vou alimentar essa briga. Temos que superar a cr�tica.
Voc� diz que o Milton do Carnaval � muito diferente do Milton de casa. Quem � o Milton de casa?
Sou casado com o Eduardo (Costa), personal trainer, h� 10 anos. Nosso casamento � bacan�rrimo. Ele � super na dele. Ele entende a vedete que eu sou, o personagem que eu sou, essa gritaria. Ele me deixa ir. E eu volto. Volto pro porto seguro que � a casa, o caf�, o jornal, os estudos. Sou tranquilo, adoro filme, bater papo com minha pequena roda de amigos. Mas sou animado. J� acordo com a esperan�a de que o amanh� ser� melhor. J� acordo dando bom dia pra minha pr�pria imagem no espelho. Eu sou esse. Sou movido pela positividade.